Cia Lápis de Seda apresenta “Um Novo Olhar”, projeto de dança virtual para pessoas com deficiência

Analu Ciscato / Foto Clara Meirelles
 Por Linete Martins e Luiza Coan
Foto de capa: Toia Oliveira

 

Com a intenção de dar continuidade ao trabalho artístico, apesar de todas as mudanças causadas pela crise da pandemia do COVID-19, a Cia. de Dança Lápis de Seda, de Florianópolis, criou seu próprio sistema de aulas e ensaios por meio de plataformas digitais. Os meses de trabalho, desde março, foram de novas experiências e descobertas sob a coordenação da diretora artística da companhia, Ana Luiza Ciscato, e resultaram no projeto “Um Novo Olhar”. O projeto está em fase de captação de recursos pela Lei de Incentivo Fiscal, mas já está sendo implementado pela Cia., que tem divulgado suas ações nas redes sociais (facebook.com/cialapisdeseda – Instagram.com/cialapisdeseda).

Com o objetivo de expandir e compartilhar o aprendizado adquirido durante a história da companhia, com diferentes públicos e interlocutores, o projeto traz impactos positivos a um número cada vez maior de pessoas: o cidadão com deficiência intelectual e ou motora e toda a sua rede de apoio – pais, familiares, professores, cuidadores, terapeutas e outros, pessoas que vivenciam grandes desafios e têm uma atuação essencial para qualquer experiência de promoção da inclusão em suas comunidades.

“Tivemos que nos adaptar a uma nova realidade, e esse processo trouxe inúmeros desafios. Se por um lado sentimos muita falta do aspecto físico, pessoal e quase “mecânico” do toque, da observação próxima, por outro aprendemos juntos a apresentar nossa imagem online”, conta a diretora. Ela relata que o novo método de trabalho  envolve conhecimentos básicos de tecnologia, mas também de fotografia, iluminação, composição, enquadramento e produção. “Essas descobertas foram preciosas para criar novas possibilidades direcionadas a uma comunidade que tende a ficar cada vez mais conectada e imersa no mundo digital – as pessoas com deficiência. Conseguimos romper barreiras importantes: geográficas, de acessibilidade, de acesso à tecnologia, de formatos alternativos e mais democráticos para a nossa produção artística”, explica.

Depois de quase seis meses com essa experiência, Ana Luiza tem a percepção de que “as pessoas estão conseguindo participar das aulas com mais facilidade, e tudo isso que aprendemos juntos se somou ao trabalho que já era desenvolvido. As dificuldades se transformaram em oportunidades de novos aprendizados e novas formas de autoconhecimento, o que é inevitavelmente traduzido na forma como as pessoas se movem, como criam e expressam sua arte”.

Imagem: captura de tela

Sobre a experimentação nas plataformas digitais para a continuidade das aulas, o depoimento de Ana Luiza:

  • Essa situação tirou as pessoas da zona de conforto, nós tivemos, como sociedade, que nos adaptar e estabelecer concessões difíceis. Para a pessoa com deficiência, que já vivenciava o isolamento como estado natural das coisas, surge uma oportunidade muito relevante de desconstruir e analisar esse lugar de isolamento em suas diversas facetas. Pela primeira vez, o cotidiano do cidadão brasileiro com deficiência é vivenciado também por grande parte da sociedade “sem deficiência”, o que pode gerar experiências inéditas de empatia e inclusão social sempre que surgem oportunidades de diálogo.

O projeto

Com a proposta de ampliação do trabalho que já está sendo desenvolvido, a cia. inscreveu o novo projeto na Lei Rouanet, que inclui: três oficinas de dança diárias para participantes de diferentes perfis e faixas etárias; seis palestras com especialistas convidados, promovendo recursos de repertório, saúde, bem estar e desenvolvimento artístico-pedagógico para todos os participantes; e a criação, produção, execução e apresentação virtual de um espetáculo de dança inclusiva, unindo os participantes do projeto e o elenco da Cia. de Dança Lápis de Seda.

Com participação gratuita de 100 alunos, o projeto é para promover a continuidade ao trabalho de difusão da dança inclusiva, investindo na formação, informação e ferramentas para a promoção de uma cultura de inclusão do cidadão com deficiência e sua rede de apoio, em um ambiente 100% virtual, com segurança física e emocional para todos os participantes. “Queremos dar maior visibilidade e promover a quebra de tabus e paradigmas relacionados à deficiência, à diferença e às minorias sociais”, explica Ana Luiza.

Apresentação: Será que é de éter – crédito Tóia Oliveira

A Companhia

Com seis anos de atuação, a Cia. de Dança Lápis de Seda conquistou o reconhecimento da comunidade em que atua. Desde o início, a Cia. optou por um trabalho regular e contínuo, com foco na inclusão social, profissionalização e desenvolvimento de pessoas com deficiência. A partir dessa experiência, chegou a essa nova etapa – essencial para os integrantes da Cia. e toda a comunidade em que estão inseridos.

Sobre espetáculos já realizados, destacam-se Convite ao Olhar, que obteve o Prêmio de Dança Elisabete Anderle, em Santa Catarina. Entre 2016 e 2017, a companhia circulou com o espetáculo por várias capitais brasileiras.

Em 2017, a companhia estreou Será Que É de Éter?, uma homenagem aos 50 anos de carreira de Chico Buarque. Com música ao vivo, o espetáculo também transitou por diferentes cidades do país.

Quem é Ana Luiza Ana Luiza Ciscato

Diretora Artística | Cia. de Dança Lápis de Seda

Pedagoga, arte-educadora e professora de dança. Tem sua formação inicial em dança clássica pela Royal Academy of Dance (1985) e pela Metodologia Cubana de Dança Clássica (Cuba, 1993). Há mais de vinte anos trabalha com a inclusão social por meio da dança. Especializa-se em dança pelos institutos Steps e Martha Graham School, em Nova York e, paralelamente, em uma técnica de apoio às pessoas com deficiência por meio da dança conhecida como Psicoballet, em Cuba, 1993. Com os conhecimentos adquiridos em Cuba, inicia em 1995 o Projeto “Criança que Dança”, enquanto diretora do Ballet Carla Perotti de São Paulo – SP. Esse projeto resulta no atendimento e inclusão de 180 bailarinos/estudantes provenientes de favelas da zona sul da cidade. Em 2003, aplica o Psicoballet na Estação Dançar, escola que fundou em Florianópolis, com foco na inclusão de pessoas com deficiência. Desde 2006, atua como professora e diretora artística do grupo de dança da APAE de Florianópolis. Por este trabalho, recebe o Prêmio Franklin Cascaes de Cultura em 2010. No ano seguinte, obtém o certificado de professora pelo método DanceAbility, reconhecido internacionalmente, que propõe técnicas inovadoras para a inclusão de pessoas com deficiência. Em julho de 2012, coreografa e co-dirige o espetáculo BREATHE – Battle of the Winds, abertura oficial dos Jogos Náuticos da Olimpíada de Londres, incluindo bailarinos com deficiência do Grupo de Dança da APAE de Florianópolis e do projeto local Diverse City em Weymouth, Reino Unido. Desde 2014 é diretora artística da Cia. de Dança Lápis de Seda, que já profissionalizou 10 bailarinos (entre eles, 6 pessoas com deficiência).

Assista ao vídeo realizado pela Cia Lápis de Seda, durante a pandemia: 

https://www.facebook.com/cialapisdeseda/videos/935071533666011/

#Desacato13Anos     #AOutraInformação

 

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