Chile, o ‘paraíso’ neoliberal

pineraPor Hedelberto López Blanch.*

A atividade do presidente chileno, Sebastián Piñera, tem sido intensa nos últimos dias e ele não tem descansado nem um momento em propagandear as bondades que representam, para o bem dos países, a aceitação de sistemas neoliberais, de livre comércio e privatizações.

Inegavelmente se converteu no melhor promotor das linhas diretrizes sobre o controle da economia global que se projetam de Washington e da União Europeia, mediante a utilização de mecanismos financeiros como o Banco Mundial (BM), o Fundo Monetário Internacional (FMI) ou o Banco Central Europeu (BCE).

Para as potências econômicas ocidentais, o Chile foi, desde a ditadura de Augusto Pinochet, em 11 de setembro de 1973, o paradigma do sistema neoliberal na região com o objetivo de permitir a entrada das companhias transnacionais que enriquecem com a extração de suas grandes riquezas minerais.

Piñera teve um papel destacado na criação e estímulo da Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia, México, Peru e agora Costa Rica) cujos motivos são os de reunir governos afins aos Estados Unidos (que apoiam o livre mercado e as privatizações) e tratar de impulsionar uma espécie reduzida da ALCA (Área de Livre Comércio para as Américas) que Washington tentou criar em meados da década de 1990.

Mas o perigo maior será que esta Aliança aponta em dividir a região em dois polos diametralmente opostos ao tentar debilitar a força integradora latino-americana que os governos democráticos e nacionalistas surgidos nos últimos anos alcançaram, que têm como premissas defender seus recursos naturais e humanos em defesa da independência e soberania econômica de seus povos.

O mandatário chileno visitou Washington no princípio de junho, onde se reuniu a portas fechadas com o presidente Barack Obama e ambos, em declarações à imprensa, exaltaram as semelhanças políticas e econômicas existentes entre seus países e defenderam o impulso nas negociações dentro do Acordo de Associação Transpacífico (TPP).

Obama felicitou as conquistas da economia chilena, que cresceu 5,6% em 2012 e destacou o papel do país sul-americano na Aliança do Pacífico, que disse, é integrada pelos países com as economias mais abertas da América Latina.

Resulta que, ao que parece, as contas feitas não são tão fidedignas, pois, na última rendição diante do Congresso (com aroma pré-eleitoral com vistas às eleições de novembro), Piñera criticou a herança recebida de sua antecessora, Michelle Bachelet, e reivindicou que sob seu governo o país cresceu uma média do 5,8% anual e foram criados quase um milhão de empregos.

A afirmação gerou uma forte resposta da oposição, que questionou o manejo oficial das estatísticas, o descumprimento de projetos e o insuficiente investimento em infraestrutura.

A revista inglesa The Economist afirmou que o prestígio estatístico do Chile está posto em dúvida pela recente discussão sobre se o governo manipulou as cifras para baixar a pobreza em uma pesquisa oficial da Caracterização Socioeconômica Nacional (CASEN).

A Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) encontrou que a taxa de pobreza não era 14,4% como o anunciado, mas 15%, parecida com a de 2009. Mas o governo enviou seu relatório de volta, pedindo que incluísse dados sobre ingressos informais recebidos pelos desempregados. Pela primeira vez nos 25 anos de história da CASEM, a CEPAL refez seus cálculos, o que custou o cargo ao representante da instituição latino-americana neste país.

Além disso, a CASEN afirma que foram criados apenas 420 000 empregos, muito longe dos anunciados pelo governo e que a pobreza afeta 2 564 000 de pessoas que sobrevivem em severas condições.

Os analistas afirmam que se fossem verdadeiras as cifras manejadas pelo Executivo, não haveria razão para que proliferassem, como sucedeu, as greves estudantis e mineras em todo o país.

Os estudantes, com apoio de professores e familiares, reclamam uma educação menos privatizada, pois são poucos os que podem pagar os altos preços do ensino. Mais de 700 estabelecimentos de ensino médio foram ocupados pelos alunos que foram reprimidos com força pelos carabineros. Esta luta desigual se mantém há vários anos.

Durante a presidência de Salvador Allende, 100 por cento das minas de cobre passou ao controle do Estado, situação que Pinochet reverteu e que conduziu, na atualidade, a que 70% da produção encontre-se em mãos de empresas privadas, a maioria estrangeiras.

A estatal Codelco possui apenas 30% do negócio do cobre e as estrangeiras 70%, mas as contribuições ao fisco são diametralmente opostas, pois a Codelco contribui com 70% e as transnacionais com 30%, pese a seus enormes lucros.

Como estabelece o Tratado de Livre Comércio (TLC) firmado entre o Chile e os Estados Unidos em 2004, grandes facilidades são concedidas ao investidor estrangeiro, dirigidas fundamentalmente à mineração e aos serviços de eletricidade, telecomunicações, água e bancos.

Por este motivo, segundo um estudo da Universidade do Chile, anualmente saem do país capitais pelo valor de 30 bilhões de dólares, o que representa aproximadamente 22% do Produto Interno Bruto.

As gestões de Piñera para impulsionar acordos neoliberais não ficaram apenas no salão Oval da Casa Branca, mas se expandiram com visitas à diretora do FMI Christine Lagarde, ao presidente do BM Jim Yong Kim e ao chefe do Departamento de Estado estadunidense John Kerry.

Para fechar o círculo, se encontrou com o presidente da Comissão de Assuntos Exteriores do Senado Robert Menéndez, um dos principais articuladores do bloqueio norte-americano contra Cuba e de impedir as viagens de cidadãos deste país à Ilha do Caribe.

Não cabe dúvida que o presidente chileno é consequente com suas ideias, pois como é lógico em uma pessoa como ele, que possui um capital de 2,22 bilhões de dólares segundo a revista Forbes e que aparece no número 437 entre os mais ricos do mundo, não pode pensar em resolver os problemas das grandes maiorias em sim em como incrementar seu capital.

Tradução: Liborio Júnior

* Rebelión.

Fonte: Carta Maior.

Foto: www.theclinic.cl

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