Caso Bacuri: Imprensa quase é barrada em audiência do Fórum da Capital

Representantes do Coletivo Memória, Verdade e Justiça não tiveram a mesma sorte. Esperaram no hall de entrada da repartição pública.

Por Ana Carolina Peplau Madeira (textos), e Sílvia Agostini (foto), para Desacato.info

Hoje, dia 9/12, aconteceu a audiência de oitiva de testemunhas e da autora do livro Eduardo Leite Bacuri, Vanessa Gonçalves, e da Plena Editorial, editora responsável pela publicação do livro, na 5ª Vara Cível do Fórum da Capital, às 14h30. Representantes do Coletivo Memória, Verdade e Justiça não tiveram permissão para subir e esperaram no hall de entrada da repartição pública.

A equipe do Portal Desacato quase foi barrada também. Depois de solicitar ao gabinete da juíza Daniela Vieira Soares, via telefone da recepção, então pôde subir, porém nada de entrar na sala. Não tinha espaço. Também foi procurado o secretário geral do Fórum, José Cláudio Passamani, pois na recepção, não havia informação sobre qual portaria ou determinação limitava a entrada das pessoas.

Ele explicou, via telefone, que recebeu orientação verbal do diretor da instituição de controlar a entrada de pessoas para evitar confrontos e intimidações, a exemplo de casos ocorridos anteriormente. Explicação não foi aceita pelos advogados do coletivo, pois são representantes dos Direitos Humanos que pretendiam acompanhar as oitivas. Outro motivo para não permanência nem de testemunhas convocadas no local, foi o fato de dois estudantes de Direito pedirem para assistir também.

A advogada Rosangela de Souza faz hoje mesmo uma denúncia à OAB e falará a respeito na Assembleia Legislativa. Solicita que seja marcada reunião com a direção do fórum. Também pretende realizar denúncia à Corregedoria Geral.

A coordenadora do coletivo, jornalista Sílvia Agostini do Portal Desacato, conversou com a viúva do Eduardo Leite, Bacuri. Operário do setor de telefonia, Bacuri desempenhou um importante papel da luta pela derrubada da ditadura, foi preso, torturado e morto por agentes do DOI-CODI.

Mesmo havendo sendo chamadas várias testemunhas, o local da audiência, sala 902 era apertada. Duas testemunhas, a viúva Denise Peres Crispim e Reinaldo Morano Filho, ficaram fora enquanto outras duas prestavam depoimento.

Processo

A ação é movida pelo o Coronel Jorge Zuchowski, apontado no livro como sendo um agente infiltrado, que levou à prisão do militante Eduardo Leite, conhecido na resistência à ditadura pelo apelido de Bacuri. A ré, jornalista Vanessa Gonçalves falou que estava tranquila ao prestar seu depoimento, mesmo tendo o coronel na sua frente. Teve um leve temor de que ele fizesse alguma provocação, mas estava segura por ter feito um trabalho jornalístico consistente.

“Desde que começou o processo, algumas pessoas reclamaram pela Internet, mas considerei normal. Jornalista é assim mesmo, nem sempre agrada a todos”, comenta a paulistana Vanessa.  Denise Peres Crispim contou que sua família era perseguida desde que ela nasceu.

Seu pai, José Maria Crispim foi deputado durante a Constituinte e foi cassado em 1948. “Queria que fosse feita justiça, que não foi feita para ninguém. O país tem história, ficam negando o que aconteceu é um negócio esquizofrênico. O meu conceito de justiça não é o torturador ir para cadeia. Isso é problema da Justiça, não meu. O que espero é que eles sejam julgados, sejam chamados para assumir os seus crimes”, declara a viúva de Bacuri.

Quem foi Eduardo Leite, Bacuri?

Foi um de seus mais destacados e respeitados combatentes de oposição à Ditadura. Perseguido, teve que passar a viver clandestinamente e passou a ser uma das pessoas mais procuradas pelo DOI-CODI por sua liderança e destemor.

Em agosto de 1970, o delegado do DOPS de São Paulo Sérgio Fleury, chefe do Esquadrão da Morte e um dos mais terríveis torturadores de presos políticos, montou emboscada para a captura de Bacuri, no Rio de Janeiro, com a ajuda de dois agentes infiltrados, que se passavam por companheiros de luta. Assim que Bacuri caiu nas mãos dos torturadores da ditadura, foi levado para a chamada Casa da Morte de São Conrado onde sofreu bárbaras torturas.

 Foi levado depois para vários centros de torturas, sem nunca fornecer qualquer informação que permitisse a localização e prisão de seus companheiros. Durante 109 dias seguidos Bacuri foi torturado. No dia 9 de dezembro de 1970, a ditadura anunciou que havia localizado Bacuri numa estrada deserta perto de uma cidade do litoral de São Paulo e o matou após troca de tiros.

Era uma farsa conhecida e denunciada dentro e fora do Brasil. Denise falou que entrou com pedido na Comissão Interamericana de Direitos Humanos – órgão da Organização dos Estados Americanos – para que o processo siga para a Corte Americana. O pedido foi aceito, mas ainda não notificado ao governo brasileiro. Após seguir os trâmites burocráticos, o processo será efetuado também nos Estados Unidos. Assim, o governo brasileiro será também responsabilizado por este crime.

Quem é o Coronel Jorge Zuchowski?

Oficialmente expurgado das Forças Armadas, em 1964, o tenente Jorge Zuchowski passou para a reserva com a promoção para oposto de capitão. Integrou-se em organizações de luta contra a ditadura, foi para Cuba para treinar táticas de guerrilha e voltou para o Brasil para se integrar outra vez às organizações de luta contra a ditadura.

Manteve-se no Brasil durante o período em que Bacuri foi capturado até os dias de hoje, mas alega que nunca conheceu Bacuri. Em 1985, o ministro do Exército, General Leônidas Pires Gonçalves, ex-comandante do DOI-CODI do Rio de Janeiro, fez a reintegração de Jorge Zuchowski e o promoveu de Capitão à Coronel, passando Major e Tenente-Coronel num salto promocional incomum.

O que diz o livro?

A autora Vanessa Gonçalves informa no livro Eduardo Leite Bacuri, baseada em antigas publicações e muitos depoimentos, que Bacuri foi levado à emboscada em que foi capturado por dois agentes infiltrados. Um seria Artur Paulo de Souza, que depois foi denunciado como torturador do DOPS gaúcho e que usava o apelido de Maneco, e o outro seria o Capitão Jorge Zuchowski, que usava o apelido de Tio ou Tio Zuque.

Galeria de fotos: Ana Carolina Peplau Madeira

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