Casan justifica e se explica, mas a água continua faltando

Por Celso Martins.

A Casan alega crescimento populacional desordenado e necessidade de ampliação da Estação que trata as águas de Pilões/Cubatão. O diretor geral da Agesan, Sérgio Grando, diz que a falta de água é uma “barbaridade”. Enquanto isso a população vê antecipado o seu “21 de dezembro”. Vejamos!

O drama do escritor
Antes do verão passado o escritor Raul Longo pediu que a Casan lhe indicasse a capacidade de uma caixa d’água para sua residência na Ponta do Sambaqui. A empresa disse que um reservatório com 2.500 litros seria suficiente. Longo acreditou. Nesta segunda-feira (10.12) se arrependeu da iniciativa ao verificar que a mesma está com algumas gotas acumuladas no fundo.
“Eu ainda perguntei se não seria necessário uma caixa com cinco mil litros e eles responderam que não. A caixa de 2.500 litros vazia do escritor Raul Longo. Foto: Celso Martins

Disseram que correria o risco da água estragar”, complementa. O drama de Raul que mora em uma baixada se assemelha ao de centenas de outros moradores residentes nas partes mais altas de Sambaqui, Barra do Sambaqui e Santo Antônio de Lisboa.
Longo foi entrevistado por volta das 14 horas desta segunda-feira. Às 20h40 telefonou ao Daqui na Rede para informar que entrou em contato com o 0800 da Casan. “Disseram que não havia nenhum registro de falta de água em Sambaqui e que anotaria a primeira reclamação recebida”, disse. “Estou telefonando a eles há dias e muitos pediram caminhão pipa”.

Maricultura
Nas imediações o agrônomo Nei Leonardo Noli observa desconsolado o rancho de maricultura vazio. Sem água nos últimos dias e sofrendo com o abastecimento irregular desde meados de outubro. A água costuma chegar de madrugada, desaparecendo por volta das 8 horas. “Pode ser coincidência, mas sempre que aparece o carro da Casan e desliga um equipamento, volta a faltar água”.
Noli se refere ao “booster” (bomba de pressão ou pressurizador de rede hidráulica) existente na Ponta, junto à rua das Ostras. Sem água doce ele não tem como eliminar das ostras e mexilhões os pequenos predadores, como as polidoras e planárias, entre outros. “Uma ostra leva até seis horas na água doce, mas estes organismos não sobrevivem”, acrescenta. Com isso cai a qualidade do produto.

Ataque de nervos

Morador da parte alta da rua Osvaldo da Rocha Pires (rua do Centro Comunitário), o representante comercial Paulo Breitenbach, pode contar até a semana passada com uma pequena nascente acima de sua casa. Mas ela secou. E a água da Casan que vinha chegando à noite, sumiu. “Estou à beira de um ataque de nervos”, confessa, com “criança recém nascida em casa”.

 5 mil litros

Na travessa Jandira Pires da Cunha, em Sambaqui, uma moradora adquiriu um reservatório de cinco mil litros. No momento está sendo cavado um enorme buraco na parte da frente de seu terreno para abrigar o equipamento. Ao lado será instalada uma bomba para levar a água até a caixa d’água na parte de cima. “Se não fizer assim vou ficar sem água na temporada”, sustenta a moradora S. C.

Agora é a estiagem

Recorte do jornal "O Estado" de outubro de 1994. Reprodução/Acervo: Celso MartinsE o que responde a Casan? Há cerca de 15 dias a empresa justificava o desabastecimento pelo excesso de chuvas nas nascentes. Agora, segundo comunicado da empresa, o problema decorre da falta de chuva. Confira abaixo a íntegra da informação encaminhada pela Casan à Agesan (Agência Reguladora de Serviços de Saneamento Básico do Estado de Santa Catarina). Se não chover em 72 horas a situação vai ficar ainda pior.

SAA da região Sul e Leste da Ilha está operando com pressões baixas, causando o abastecimento intermitente em algumas regiões como Campeche, Tapera, Rio Tavares. Estamos com as equipes percorrendo as redes de distribuição com objetivo de encontrar o vazamento que está causando o problema.

SAA Norte da ilha: Região do Sambaqui também está operando com pressões baixas, estamos percorrendo o bairro para identificar a causa deste problema.

SAA Integrado: Bacia do Itacorubi operando com intermitência. Estamos disponibilizando carro pipa para os casos emergenciais.

Alertamos que os níveis dos mananciais de Pilões, Costeira, Monte Verde, Morro da Lagoa estão com níveis baixos devido a falta de chuvas. Caso não tenhamos chuva nas próximas 72 horas a situação poderá agravar-se“. Assina a nota o superintendente da Casan para a Região Metropolitana da Grande Florianópolis, Carlos Alberto Coutinho.

 Agesan

“É uma barbaridade o que está acontecendo”, afirma Sérgio Grando,  diretor geral da Agesan com exclusividade para o Daqui na Rede. “A Casan terá que explicar os motivos”, acrescenta. “Nos anos anteriores essa falta de água acontecia entre o Natal e o Final de Ano,  mas ainda estamos na pré-temporada”.
Ao contrário da campanha publicitária da Casan, “o aumento da capacidade de reserva nas residências não é solução para o problema”, assinala Grando. “Estamos muito preocupados”, complementa, informando haver solicitado da Casan a elaboração de um plano de emergência para a temporada.

Casan pode estabelecer racionamento de água na Grande Florianópolis

A Casan inicia nesta terça-feira uma campanha pedindo que a população economize água. É o que antecipa o assessor de imprensa da empresa, Carlos Mello, em mensagem encaminhada ao Daqui na Rede.
Nas entrelinhas está a confissão de que a Casan não tem como garantir o abastecimento de Florianópolis. Por dois motivos: o rápido e desordenado crescimento da cidade e a necessidade da conclusão de obras de ampliação da ETA do Morro dos Quadros (Palhoça) que trata as águas dos principais mananciais – os rios Vargem do Braço (Pilões) e Cubatão.

Recorte do jornal "O Estado" de outubro de 1994. Reprodução/Acervo: Celso Martins

Justificativas 

Com base em informações colhidas de Carlos Alberto Coutinho, Mello escreve que o “abastecimento em Santo Antonio  de Lisboa  e Sambaqui, está sendo considerado normal no todo, com aquelas intermitências nas pontas, final de rede como Barra do Sambaqui, caso da rua Osvaldo da Rocha Pires” (rua localizada em Sambaqui).
“No caso”, assinala Mello, “Coutinho recomenda que as caixas d’água  estejam sempre cheias para evitar o desabastecimento. No caso de Sambaqui, as caixas já estão vazias.
“Coutinho também informa que devido ao aumento do consumo, as redes estão trabalhando com altos níveis de pressão máxima, o que as torna suscetíveis de eventuais vazamentos, mas que estão sob observação e monitoramento das equipes”. Cabe destacar que se a pressão estivesse normal as casas nas áreas altas estariam abastecidas e a estrada geral repleta de vazamentos.
Mello prossegue informando que “a estiagem prolongada também está contribuindo em parte para os problemas no abastecimento de água”, informando que as represas de apoio ao abastecimento no Rio Tavares e Quilombo (Itacorubi), “estão com níveis mínimos de água”. Para tanto, informa, “será feito comunicado, a partir desta terça-feira, solicitando economia e uso racional da água.
Para a temporada, a Casan aciona no próximo dia 20 um “esquema emergencial de verão”,  acionando “as captações auxiliares já implantadas no Norte da Ilha”, casos das “Estações de Tratamento de Água Compactas na Daniela, Ratones, Vargem Grande e Vargem Pequena, no Santinho e na Praia Brava”.
Além disso “haverá reforço nas equipes de trabalho de plantão, entre outras medidas de prevenção”. Mello complementa informando que no ano passado, “o esquema emergencial fez com que não fossem registrados grandes problemas de abastecimento, a não ser em situações pontuais e relacionados a casos fortuitos como temporais, acidentes, falta de energia elétrica, entre outros”.
Vale comentar que toda a região de Santo Antônio de Lisboa, Cacupé, Sambaqui e Barra do Sambaqui começou a ficar sem água dias antes do Natal, assim permanencendo até os primeiros dias de janeiro.

Recorte do jornal AN Capital de 18.3.2001. Reprodução/Acervo: Celso Martins

A pior parte

O assessor Carlos Mello informa que a obra de ampliação da ETA do Morro dos Quadros já começou. “Nas regiões de Santo Antonio de Lisboa e partes altas da cidade como Saco Grande, Itacorubi e adjacências, as informações básicas do setor operacional tem sido de que o problema é recorrente em função do grande adensamento populacional dos últimos anos”.
Segue garantindo que esse problema “será resolvido com a ampliação” da referida unidade. “A obra de ampliação e instalação do equipamento chamado floco decantador, orçada ao redor de R$  13 milhões e meio,  já está em andamento e deve ampliar a capacidade de filtragem e distribuição de água  para o próximo verão”.
“Com as melhorias que incluem também decantador e de sistema de tratamento de efluentes”, continua Mello, “será ampliada a capacidade de tratamento de água de dois mil para três mil litros por segundo, além de garantir qualidade e quantidade, reduzindo a turbidez em períodos de chuvas intensas.  A implantação de duas novas adutoras para ampliar a distribuição de água também estão previstas para breve. Orçadas ao redor de R$ 15 milhões, os projetos estão em fase de análise e liberação por parte da CEF”.
Ou seja, nenhum consolo, nenhum aceno de que as coisas se resolvam. Ao contrário. As explicações que nada explicam parecem dirigidas a consumidores estúpidos, eivadas de contradições, deixando antever um “21 de dezembro” prolongado.

Fonte: Daqui Na Rede

 

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