Carta do professor agredido pela polícia em repressão na UFSC

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Queridos amigos e colegas,

A Universidade foi agredida por uma ação despropositada e desproporcional da polícia federal, junto com a polícia militar dentro do campus. Não houve aviso nem autorização de qualquer autoridade universitária para esta ação. Chegaram policiais a paisana, sem nenhuma identificação revistando as mochilas de estudantes dentro do café do CFH. Estávamos em meio a reunião do Conselho de Unidade, quando a vice-Diretora, profa. Sônia Maluf que se dirigia para saber o que estava acontecendo, quase foi presa (teve seus documento apreendidos) ao defender um estudante da agressão policial. Os policiais, que não tinham ainda se identificado como tais arrastaram a força um estudante para um carro particular (sem placa oficial, sem distintivo da polícia) ameaçando professores e outros estudantes que não permitiram a ação arbitrária. Em poucos minutos centenas de pessoas cercavam os policiais decididas a não permitir que esta arbitrariedade ocorresse. Não havia mandato, nenhum tipo de documento. em poucos minutos a tropa de choque estava postada, pronta para entrar em ação contra centenas de pessoas. Por umas 3 horas permaneceu o impasse: os policiais não conseguiam levar o preso (diziam que ele tinha que assinar um auto) e os manifestantes não conseguiam libertar o estudante. Vários professores procuraram negociação com os policiais, mas o comandante da operação, Delegado Cassiano, da Polícia Federal, mostrou-se um sujeito inexperiente e despreparado. Quando havia claramente uma possibilidade negociada de levar o estudante para a Delegacia da Polícia assinar o auto, acompanhado por professores da UFSC e pelo Procurador Federal, bastando para isto criar um distencionamento com a retirada da polícia de choque, o Delegado Cassiano não aceitou negociar e ordenou irresponsavelmente a ação do grupo de choque, que arremessou abundante arsenal de bombas de gás lacrimogênio, gás de pimenta, gás ácido, balas de borracha arremessando sobre um grupo desarmado. Só aí é que os veículos foram virados pela multidão atacada. A foto abaixo foi quando eu ainda tentava negociação, pedindo aos policiais do choque que parassem o ataque para continuar a negociação. Vários alunos foram atingidos por balas de borracha e fragmentos de bombas de gás. Agradeço aos amigos pelas mensagens de apoio. Estou bem. Só lamento a força desproporcional e o ato covarde e despreparado de um Delegado irresponsável, que colocou muitas vidas em risco.

Paulo Pinheiro Machado

Fonte: Facebook

Foto: Bolívar Marcon Pinheiro Machado

1 COMENTÁRIO

  1. Operações truculentas como esta ocorrem todos os dias nas periferias, porém não nos sensibilizamos, talvez por estamos condicionados à aceitar a violência física e psíquica que sofrem todos os dias a população empobrecida.
    Pegaram o estudante, mas poderia ter sido o jovem pobre, negro e sem escolaridade para cursar algum curso universitário; que falariam as cabeças pensantes desta instituição? Acredito que teriam dado um suspiro de alívio por terem tirado de circulação uma possível ameaça.
    Que falarão aqueles e aquelas que frequentam cursos que proporcionam uma percepção crítica e complexa da sociedade, mas que muitas vezes exigem mais segurança, mais câmeras e portões no campus?
    Este fato ocorrido na UFSC é a ponta do iceberg, é um tema complexo e profundo que envolve inclusive o debate sobre o papel da universidade inserida numa sociedade de classes; debate acerca da descriminalização de drogas, dentre outros temas.
    A Instituição “Universidade” precisa ser avaliada criticamente, ela não paira na sociedade de forma neutra, pelo contrário, existem forças disputando a todo instante a construção dos discursos e idéias que serão disseminadas como verdades construídas.
    Devemos refletir criticamente sobre o que aconteceu na UFSC, para isso, creio ser necessário uma análise profunda, sociológica, filosófica, histórica e política, procurando entender o que fomenta este tipo de encaminhamento para aquilo que é entendido como crime, ilegal, marginal, etc. sobretudo quando a soberania dos grupos dominantes é ameçada.

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