Carta aberta aos médicos cubanos

Médico Pedro Carvalho, membro da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, trabalhou até pouco tempo como supervisor do Mais Médicos no sertão Pernambucano. Ao encerrar suas atividades, ele escreveu uma carta aos médicos e médicas cubanas com quem trabalhou.

Segue carta na íntegra.

Às Hermanas e aos Hermanos de Cuba,

Pensei por muito tempo antes de escrever essas palavras de modo a colocá-las à altura do respeito e da admiração que tenho por cada um de vocês nesta caminhada. Digo que é bem difícil encontrar aquelas que façam jus a esses sentimentos.

Respeito-os e admiro-os por tudo que fizeram por nosso povo brasileiro, muitas vezes tão sofrido e combalido por injustiças seculares que atentam contra sua saúde, sua dignidade e sua felicidade. Por terem trazido a esse povo algo muito além do atendimento médico, algo que aí chamam de esperanza. Esperança de que um cuidado com qualidade e humanidade é, sim, possível, mesmo em rincões isolados deste imenso Brasil no qual desembarcaram.

Respeito-os e admiro-os pelo exemplo de abnegação e desprendimento por deixarem suas famílias, seus amigos, suas vidas profissionais e sua terra natal para cuidar de pessoas em outro país. E se assim agem é porque o senso de humanidade que carregam transcende fronteiras e os fazem reconhecer o outro, mesmo em terras estrangeiras, como irmão.

Respeito-os e admiro-os por terem permanecido incólumes sob o ataque vil e canalha de muitas e muitos médicas e médicos brasileiras(os) que sob o argumento raso e hipócrita da defesa profissional não fizeram mais que achar uma via fácil para destilar o ódio e desnudar a pequenez do seu caráter. Na verdade, não passam de preconceituosos e cegos demais para olharem para si mesmos e assumirem que não puderam ou não quiseram fazer o que vocês fizeram. E mesmo diante de tudo isso, mantiveram-se aguerridos e altivos, pois estavam cientes da sua dignidade e da importância da missão que lhes foi incumbida.

Respeito-os e admiro-os por terem chegado nesses sertões longínquos, onde pessoas talhadas pelo sol e pela labuta são sempre lembradas do seu esforço e nunca dos seus direitos, mesmo os mais básicos como saúde e alimentação. E nesses sertões se instalaram e passaram a viver não com o povo, mas como o povo.

Respeito-os e admiro-os por terem chegado em locais de culturas e dizeres tão distintos e ainda assim conseguirem se comunicar e reparar os diversos determinantes sociais, políticos e biológicos da saúde de pessoas e comunidades. E assim o fazendo, transformaram, já em menos de um ano a vida de muitas pessoas.

Peço desculpas a vocês por todas as minhas falhas enquanto supervisor e vos digo que muito mais aprendi que ensinei.

Saibam que agora a vida separa nossas trilhas, mas que pelo muito das que percorremos juntas, um vínculo permanente foi criado. Um vínculo que transcende fronteiras e idiomas, eternizado por lembranças e pela marca indelével do trabalho cuidadoso de vocês. Um vínculo de respeito e admiração. Um vínculo chamado amizade.

Saludos,

Venceremos!

P.S: Hoje, nos meus atendimentos, a cadeira fica ao lado da mesa. Obrigado por isso.

Fonte: Saúde Popular.

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