Carta a uma senhora que reza e reza

Foto: EFE

Por Carola Chávez.

(Português/Español).

Não me surpreende que não me cumprimentes mais. Sempre soube que a hipocrisia dos convencionalismos não era teu estilo. O teu negócio, segundo descobri te conhecendo, é a hipocrisia piedosa, essa arrogante batida no peito sem peito nem golpe, essa história da paz seja convosco sim, contigo não, de arroz doce; esse “Senhor, não sou digno de que entres na minha casa” transladado ao jardineiro “por favor, direto ao jardim e pela porta de trás.”

Tu, piedosa com os esmoleiros, resentes que se acaba a fonte da tua piedade ímpia. Resentes não ver a criança de farrapos na rua com a mão estendida para receber tuas migalhas arrogantes, a salvação de tua alma às costas da perdição de sua vida. A condena perpétua dos pobres que seriam bem-aventurados, segundo tua doutrina, em outra vida; nunca nesta. Os direitos dos pobres te arrebatam a possibilidade de exercer a caridade que não resolve nada e que aplaca tua limitada consciência. A piedade que te faz boa.

Tuas rezas pontuais e diárias na missa das cinco, clamando dor e morte para os que nos empenhamos em que venha a nós seu Reino a este vale de lágrimas. Porque as lágrimas nunca foram tuas, porque as crianças mortas de fome nunca foram as tuas, porque os bons desejos se adiantaram a ti e aos teus, como se adiantaram para mim. A diferença é que eu não me achei bem-aventurada quando minha benção descansava sobra a maldição de tantos.

Eu não rezo, eu nunca juntei minhas mãos para pedir pelos pobres, nem me senti boa dando-lhes um real que sobrava. Eu fui ruim desde pequenina, tu já sabes. Eu não confesso pecados que não tenho, eu me nego a reduzir Jesus a uma hóstia insípida, e mais ainda a acreditar que a engolindo venha a salvação à minha alma. Não, eu não rezo, eu luto pelo direito de teus esmoleiros para que deixem de sê-lo. E não peço pela morte de ninguém a um Deus convertido em sicário pelo teu ódio, eu combato pela vida… eu não rezo, eu não odeio, eu amo e construo…

Não te persignes com para exorcizar-me, porque não tem remédio. Eu escolhi o caminho que me mostrou meu pai, tu o conheces-te: aquele que nos presenteava domingos felizes sem missa, o maluco que comprava livros que nunca forma contos de fada. Ele que não fez de mim uma casta senhorita, o que me ensinou a questionar tudo, o que promoveu sempre o direito ao esperneio. O chavista, pois!

Não, não é necessário o colar de alhos, nem a água benta importada de Roma, os vampiros são outros e se batem no peito –sem estacas- contigo. Tranquila que já estou terminando. Só queria te dizer que me alegra não me parecer contigo, que a maioria não nos pareçamos contigo, porque de que não sejamos como tu depende a paz de todos.

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Versão em português: América Latina Palavra Viva.

Carta a una señora que reza y reza

Por Carola Chávez.

No me sorprende que me hayas quitado el saludo. Siempre supe que la hipocresía de los convencionalismos no era tu estilo. Lo tuyo, según descubrí conociéndote, es la hipocresía piadosa, ese arrogante golpe de pecho sin pecho ni golpe, ese la paz sea contigo sí, contigo no, de arroz con leche; ese “Señor, no soy digno que entres en mi casa” trasladado el jardinero “por favor, directo al jardín y por la reja de atrás.”

Tú, piadosa con los limosneros, resientes que se acaba la fuente de tu piedad impía. Resientes no ver al niño harapiento en la calle con la mano extendida para recibir tus migajas arrogantes, la salvación de tu alma a costa de la perdición de su vida. La condena perpetua de los pobres que serían bienaventurados, según tu doctrina, en otra vida; nunca en esta. Los derechos de los pobres te arrebatan la posibilidad de ejercer la caridad que no resuelve nada y que aplaca tu limitada consciencia. La piedad que te hace buena.

Tus puntuales rezos diarios en la misa de cinco, clamando dolor y muerte para quienes nos empeñamos en que venga a nos su Reino a este valle de lágrimas. Porque las lágrimas nunca fueron tuyas, porque los niños muertos de hambre nunca fueron los tuyos, porque las bienaventuranzas se adelantaron para ti y los tuyos, como se adelantaron para mi. La diferencia es que yo no me creí bienaventurada cuando mi bendición descansaba sobra la maldición de tantos.

Yo no rezo, yo no junté nunca mis manos enjoyadas para pedir por lo pobres, ni me sentí buena dándoles un bolívar que me sobraba. Yo fui mala desde chiquita, tú lo sabes. Yo no confieso pecados que no tengo, yo me niego a reducir a Jesús a una oblea insípida, y menos a creer que tragármela sea la salvación mi alma. No, yo no rezo, yo lucho por el derecho de tus limosneros a dejar de serlo. Yo no pido la muerte de nadie a un Dios convertido en sicario por tu odio, yo combato por la vida… yo no rezo, yo no odio, yo amo y construyo..

No te persignes como para exorcizarme, porque no hay remedio. Yo escogí el camino que me mostró mi papá, tú lo conociste: el que nos regalaba domingos felices sin misa, el loco que me compraba libros que nunca fueron cuentos de hadas. El que no hizo de mi una casta señorita, el que me enseñó a cuestionar todo, el que promovió siempre el derecho al pataleo. ¡El chavista, pues!

No, no es necesario el collar de ajos, ni el agua bendita importada de Roma, los vampiros son otros y se dan golpes de pecho -sin estacas- contigo. Tranquila que ya estoy terminando. Solo quería decirte que me alegra no parecerme a ti, que la mayoría no nos parezcamos a ti, porque de que no seamos como tú depende la paz de todos.

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