Carnaval da Mangueira será histórico com samba-enredo antirracista e pró-diversidade

Por Yuri Ferreira

Imagem: Reprodução

O Carnaval é um evento popular, democrático e crítico. Em 2018, a Unidos de Tuiuti surpreendeu com o samba-enredo ‘Meu deus! Meu deus! Está extinta a escravidão?’, uma dura crítica ao status quo político e ao racismo estrutural do nosso país. Em 2019, a tradicionalíssima Mangueira levantou o caneco do Grupo Especial com ‘Histórias pra ninar gente grande’samba-enredo homenageando Marielle Franco.

Em 2020, a escola verde e rosa apostará novamente no aspecto crítico. Com um samba-enrendo chamado ‘E a verdade vos fará livres’, a Mangueira vai evocar a Jesus Cristo de volta à terra em tempos de intolerância, racismo, fundamentalismo e crescentes desigualdades.

Com histórico de lutas, a Mangueira vai manter tom crítico no enredo de 2020

A associação de Jesus Cristo com a luta contra a opressão e com o amor deixou muitos cristãos incomodados. Grupos fundamentalistas religiosos já estão se movendo contra o samba-enredo, que critica a sociedade atual por não estar vivendo de maneira íntegra os valores cristãos.

“As fantasias e alegorias não ofendem ninguém. Ao contrário, provocam a reflexão que é necessária para que a gente avalie se está seguindo os ensinamentos cristãos. O que o enredo denuncia, o ódio, o preconceito, a intolerância, isso sim deveria ofender os cristãos. Jesus andou com pessoas humildes e desprezadas, discriminadas. Isso não ofende, mas chacoalha a consciência das pessoas”, afirmou Leandro Vieira, carnavalesco da Mangueira, ao G1.

Indumentárias da Mangueira pra o desfile de 2020

 

Confira na íntegra a letra do samba-enredo da Mangueira:

“Senhor, tenha piedade
Olhai para a terra
Veja quanta maldade
Senhor, tenha piedade
Olhai para a terra
Veja quanta maldade

Mangueira
Samba, teu samba é uma reza
Pela força que ele tem
Mangueira
Vão te inventar mil pecados
Mas eu estou do seu lado
E do lado do samba também

Eu sou da Estação Primeira de Nazaré
Rosto negro, sangue índio, corpo de mulher
Moleque pelintra no buraco quente
Meu nome é Jesus da Gente

Nasci de peito aberto, de punho cerrado
Meu pai carpinteiro, desempregado
Minha mãe é Maria das Dores Brasil

Enxugo o suor de quem desce e sobe ladeira
Me encontro no amor que não encontra fronteira
Procura por mim nas fileiras contra a opressão
E no olhar da porta-bandeira pro seu pavilhão
E no olhar da porta-bandeira pro seu pavilhão

Eu tô que tô dependurado
Em cordéis e corcovados
Mas será que todo povo entendeu o meu recado?
Porque, de novo, cravejaram o meu corpo
Os profetas da intolerância
Sem saber que a esperança
Brilha mais na escuridão

Favela, pega a visão
Não tem futuro sem partilha
Nem messias de arma na mão
Favela, pega a visão
Eu faço fé na minha gente
Que é semente do seu chão

Do céu deu pra ouvir
O desabafo sincopado da cidade
Quarei tambor, da cruz fiz esplendor
E ressurgi pro cordão da liberdade

Mangueira
Samba, teu samba é uma reza
Pela força que ele tem
Mangueira
Vão te inventar mil pecados
Mas eu estou do seu lado
E do lado do samba também”

Outro vídeo que viralizou foi o de Marluci Brasil, uma professora de interpretação de texto e pedagoga que faz, ao estilo de aulinha mesmo, uma profunda análise do texto criado pela Mangueira:

 

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