Caravana Lula Pelo Brasil, Pelo Sul, Por Santa Catarina

Foto: Elenira Vilela

Por Elenira Vilela, para Desacato.info.

Eu participei dos dois dias da passagem de Lula por SC e é preciso registrar que foram momentos ímpares, de muita emoção, de uma força impressionante.

Das pessoas que saíram de casa para acompanhar a presença de Lula, a amplíssima maioria o fez por respeito e gratidão ao Presidente.

No sábado, pouco depois das 6 h da manhã eu estava com meu filho e a companheira Carla Ayres, além de muit@s outr@s companheir@s no aeroporto, para garantir que a chegada do Presidente e sua comitiva fosse com o respeito que todas as pessoas, mas particularmente o homem que retirou o Brasil do Mapa da Fome da ONU, merece.

Dali fui para a Assembleia Legislativa para acompanhar a reunião que o Presidente fez com representantes das comunidades dos Institutos e Universidades Federais de SC. Estavam presentes estudantes – incluindo indígenas, professores, técnicos, incluindo diretores de campus e reitores. Também estavam presentes o nosso eterno Ministro da Educação Fernando Haddad, o cientista político Emir Sader, a ex Ministra Ideli Salvati e parlamentares.

Foto: Elenira Vilela

Nesse encontro o Presidente Lula firmou dois compromissos fundamentais para a educação brasileira: revogar a Emenda do congelamento do orçamento federal, retomando o mínimo constitucional para a educação e de construir a federalização do Ensino Médio no Brasil, em um claro reconhecimento da importância desta etapa de formação para a garantia do acesso pleno ao conhecimento e à formação científica, humana e profissional a todas e todos os brasileiros e da qualidade da rede federal.

Emocionante a presença de uma estudante com deficiência visual e o Orfeu, seu cão guia, para quem Lula fala especialmente. “O direito é do cão, porque ninguém proíbe o cego de entrar. Agora vou lutar pelo direito dos cães de votar, afinal eles nunca traem”.

Foto: Elenira Vilela

Um dos momentos mais emocionantes desse ato foi o agradecimento do Pró Reitor de pesquisa da UFFS Joviles Vitório Trevisol ao presidente pela oportunidade que a universidade representa, nela mais 80% dos estudantes são oriundos de escolas públicas e a maioria é a primeira pessoa da família a ter o acesso ao ensino superior.

Apesar de curto, esse momento foi fundamental também na reafirmação da importância da educação pública e da autonomia das Instituições de produção e divulgação do conhecimento científico, com lembrança ao abuso de autoridade perpetrado contra servidores da UFSC e com sua consequência trágica no suicídio do Reitor Cancellier.

Fomos então para o Largo da Catedral, de onde vinham notícias de bela mobilização. Como sempre a relação de Lula com o povo é algo que arrepia, mas todas as vezes que vemos e sentimos percebemos a distinção dele como o maior líder popular brasileiro do século XX. Lula tem dificuldade em caminhar, porque até as pessoas de sua segurança querem tirar um foto, dar um abraço, dizer e ouvir umas palavras. Não falarei mais disso, porque essa é a marca desse líder por onde ele passa e teria que citar isso até na dificuldade que ele tem de ir ao banheiro sem que alguém queira tirar uma foto com ele.

No palanque momentos emocionantes, como a filiação do Desembargador e professor Lédio Rosa ao Partido dos Trabalhadores, afirmando que sua decisão não acontece por compromisso com a pessoa do Lula, mas por continuar seu compromisso de vida na defesa da Democracia e da Justiça, uma luta contra as arbitrariedades de alguns membros do Judiciário a que Lédio se dedicou por tanto tempo, especialmente contra o próprio Presidente Lula e seu partido.

Novamente o discurso de Lula encanta e aprofunda compromissos fundamentais para a retomada da grandeza do Brasil para seu povo e para o mundo. Destaco a retomada do patrimônio público que estão sendo desnacionalizados, como o caso do pré-sal e o compromisso de um país para seu povo, com a isenção de Imposto de Renda para todas as pessoas que ganhem até 5 salários mínimos e a cobrança do imposto sobre grandes fortunas.

Lula também emociona quando fala do enfrentamento aos fascistas e à classe exploradora e escravocrata que vem organizando atos violentos contra ele e todas as pessoas que lutam por um país para seu povo. “Somos da paz, mas se eles baterem não vamos oferecer a outra face!!!”. Ele avisa ao judiciário injusto que não adianta prendê-lo, porque cada pessoa do povo vai continuar falando mesmo sem ele, num ato de extremo reconhecimento de quem tem a centralidade da vida do país.

Ao aeroporto, organização impecável agora para chegar ao Oeste catarinense, Lula vai à Chapecó. Não pude acompanhar essa etapa, mas os relatos dão conta dos momentos de maior tensão em terras catarinenses. Tentam impedir Lula de descer no aeroporto, de entrar no hotel, de sair do hotel para participar do ato. Muita violência orquestrada por fascistas sem compromisso com o povo e exploradores. Há pessoas feridas, a mais grave foi Paulo Frateschi que aos 68 anos se interpôs a uma pedrada que tinha como alvo o Presidente. Ele ficou com a orelha parcialmente dilacerada, mas estava no dia seguinte feliz em poder continuar acompanhando a passagem do líder intacto pelo nosso estado, um ato heroico diante de uma atitude antes de tudo injusta contra quem defendeu tão fortemente os direitos do nosso povo.

Apesar de muita chuva, o ato em Chapecó foi muito bonito, contava com milhares de pessoas que suportaram o frio, a chuva e os atrasos ocasionados pela ação dos fascistas para ouvir a pessoa que tanto fez pela agricultura, pela educação, pela saúde e pelos direitos da maioria trabalhadora e pela juventude do nosso país. Havia um grupo pequeno de revoltados que tentaram tumultuar o ato, mas não conseguiram e quando o Presidente Lula começa a falar eles vão embora, de fininho, como que com medo de que a venda de ódio colocada em seus olhos pela imprensa golpista fosse retirada exatamente pelas palavras do homem que aprenderam a odiar.

Me incorporei à comitiva em Chapecó para seguirmos pela manhã a uma agenda de quem quer estar em todos os locais do Brasil e dá a mesma importância para ouvir grandes intelectuais que dá para o povo que planta, colhe e alimenta nosso país. Também se incorporaram a Presidenta do PT e Senadora Gleisi Hoffman e o maior líder do MST brasileiro João Pedro Stédile.

Visitamos uma propriedade de agricultura familiar, o presidente foi em uma casa, conversou com a família, ouviu agradecimentos e preocupações. Estávamos em Nova Erechim e vieram agricultores e suas famílias de toda a região conversar com aquele homem que colocou o financiamento da agricultura familiar na agenda do país. Novamente muita emoção, alguns jovens gritaram em êxtase quando souberam que a Gleise também estava lá.

Lula emociona e se compromete com retomar a importância do financiamento da agricultura familiar e fala da necessidade que os burocratas tem de conhecer o perfil de quem está sendo atendido. “No Banco o agricultor familiar que vai pedir financiamento para o feijão que ele mesmo vai plantar não pode ser atendido do mesmo modo que o grande empresário, o atendente tem que conhecer essa realidade e vamos trabalhar pra mudar isso no próximo governo”. Um engenheiro agrônomo formado pela UFFS entrega uma cópia de seu diploma ao presidente e agradece a oportunidade que a Universidade pública representou para ele e sua família.

Ouço uma das frases mais marcantes dessa caravana “Nós te agradecemos porque no seu governo pela primeira vez pudemos nos sentir GENTE!”, a frase vem de uma agricultora. Na saída todos nos agradecem, “obrigado por trazer ele aqui”, “Cuidem bem dele pra nós”, “Obrigada por vir até tão longe nos ver”…

Dentro do ônibus ficamos todos próximos do presidente, escutando, ele perguntando sobre a realidade local, quer saber de problemas atuais e de realizações dos nossos governos. De vez em quando até dentro do ônibus tietamos, pedimos autógrafos em camisetas e bandeiras. Ele é cuidadoso, pede a caneta especial para o autógrafo ficar melhor, pede para esperarmos o ônibus parar para não borrar. Quando vamos pedir fotos ele pergunta sobre luz, sobre se o cabelo está bom, quer sair bem, quer ajudar. As vezes lembramos que é necessário deixá-lo relaxar e descansar. Por vezes temos que lembrarmos disso uns aos outros, porque sua presença é especial demais.

Seguimos para a São Miguel do Oeste para as visitas à Cooperoeste que produz o leite Terra Viva, produto da Reforma Agrária, lá acontece o ato com as organizações da Via Campesina. Está presente neste e nos momentos seguintes a maior liderança do MST de SC, o companheiro Vilson Santin, também uma das maiores lideranças do Movimento de Mulheres Agricultoras, a companheira Justina de Cima, entre muitas outras lideranças do campo no Brasil. Lula fala da importância de garantir para quem produz receber pelo trabalho “Não é possível pagar 90 centavos para a pessoa que acorda às 4 da manhã para ordenhar a vaca, para quem alimenta e cuida dela, o que não paga nem o custo de produção e a gente pagar mais de 3 reais em uma padaria por esse leite. Quem produz é que tem que ganhar!”. A defesa da dignidade do povo, do direito a viver do trabalho e cuidar da família também é fala recorrente do presidente.

Seguimos para a cidade de São Miguel, com uma parada anterior programada em uma cooperativa que resgata a soberania alimentar com a criação e manutenção de um banco de sementes crioulas. Lula manifesta algum cansaço pela primeira vez “Essa parada estava na agenda?”, demora um pouco a descer, resgata forças, penteia os cabelos e desce, dizendo que teria que ser rápido. Faz a visita, ouve sobre a importância do banco de sementes e vai voltando para o ônibus. No meio do povo o cansaço é esquecido, alguém pergunta se ele quer um café e ele vai até uma casinha próxima, fica lá, conversa animadamente, ganha chapéu feito a mão, volta com toda animação, tendo demorado bem mais que o programado no lugar. O amor do povo e o salame da terra o alimentam.

Vamos para o centro de São Miguel para o ato. No caminho um dos maiores momentos de tensão que presenciei, quando algumas pedras e muitos ovos são jogados nos ônibus da caravana. As pedras são dirigidas na tentativa de quebrar os para-brisas do ônibus e parar a caravana. Não conseguem, a polícia militar vê os 30 vândalos agirem e nada faz, a polícia que acompanha a caravana impede que a ação seja pior. Seguimos e a tensão baixa novamente. Novas conversas, avaliações, piadas, lemos notícias.

O ato estava muito bonito. Uma linda faixa agradece “IFSC/SMO 7 anos. Obrigado Lula”. As falas vão acontecendo exaltando a importância dos governos liderados pelo PT pra região. O Deputado Paulo Pimenta anuncia que foram identificados os agressores do trevo e registrado boletim de ocorrência contra eles, não ficarão impunes.

Foto: Elenira Vilela

A Senadora Gleisi falando da importância da região para o país, destacando a beleza dos atos da caravana e a ligação do povo com o presidente Lula. A melhor resposta para os fascistas é o povo nas ruas com Lula. Fala da inocência do presidente. Alguns ovos são arremessados de um prédio.

O ato seria em uma praça próxima, mas a prefeitura não autorizou alegando evento previamente agendado (não havia evento acontecendo lá no momento), aconteceu em uma rua mais estreita, o palco cercado de prédios. Quem arremessa os ovos se esconde nas sombras, não respeita, se acovarda. Mas a caravana não, Gleisi termina sua fala, desafia o agressor a sair das sombras e aparecer, a vir falar e a ouvir.

Lula começa a falar, novamente os opositores contidos atrás de uma barreira policial começam a ir embora durante sua fala, parecem temer essas palavras por sua verdade. Novamente alguns ovos arremeçados. Nada para a relação desse homem com seu povo, ele continua, chama os agressores à responsabilidade, novamente conversa sobre a importância de cada um e cada uma levar sua mensagem, saber que a força dele está na força de cada um de nós. O ato termina lindo como começou, apesar da tensão, não pelos ovos em si, mas porque não se sabe se somente ovos seriam arremessados. Lula está limpo, limpo porque é íntegro e forte. É um gigante!!

É preciso antes de terminar destacar a importância das pessoas que organizam a caravana. Tanto nacionalmente pensando em logística, priorizando o contato com o povo diverso, na relação com o poder institucional que tem a obrigação de defender e respeitar um chefe de Estado. Também das pessoas de cada lugar por onde a caravana passou que trabalharam para organizar, para mobilizar apesar do silenciamento da grande mídia, mobilização que passou por singelas faixas e panfletos em cada canto, para organizar a segurança local, ajudar a caravana a evitar conflitos ou a enfrentá-los quando necessário. Impossível não valorizar as pessoas que convivem com o presidente e cuidam de sua segurança cotidiana, de sua alimentação, de sua medicação, da água que ele toma, de selecionar quem vai estar em cada ônibus da caravana, de fazer a comunicação de tudo que acontece para que o mundo saiba o que a mídia golpista tenta mas não consegue esconder. Como aqueles agricultores, eu os agradeço, cuidar desse homem é cuidar de um patrimônio do povo brasileiro.

Jamais esquecerei essa experiência. Jamais permitiremos que o Presidente Lula, que o nosso Lula seja retirado do lugar de líder que é.

Depois dos intensos momentos junto à caravana, vivi os momentos da preocupação estando longe, a terrível notícia de que ônibus em que tinha amigos de décadas foram alvejados por tiros. Felizmente a caravana venceu mais essa, ninguém ferido, toda a agenda cumprida por todo o sul com uma única exceção, ato de encerramento construindo a unidade da esquerda e dos setores democráticos com Boulos, Manuela, Lindbergh, Índio e tantxs outrxs  contra a escalada fascista! A imprensa golpista mente e distorce, mas o sucesso da caravana transborda pelos meios de comunicação independentes e pelas redes sociais das pessoas comprometidas com a democracia!! Continuamos na luta pelo Brasil!!

#LulaLivre #LulaValeALuta #RevogaEC95 #EnsinoMédioFederal #FascistasNãoPassarão #CaravanaLulaPeloSul #LulaEmSC

 

[avatar user=”Elenira Vilela” size=”thumbnail” align=”left” link=”attachment” target=”_blank” /]Elenira Vilela é professora e sindicalista.

 

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