Caminhoneiros

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Por Elaine Tavares. 

As pessoas se movem por interesses. Alguns, por interesses bem pessoais, singularíssimos, outros por interesses coletivos, altruístas. Mas, tudo é interesse. Os caminhoneiros estão na rua pelos seus. Uma boa parte deles é autônoma e é esse povo que não aceitou o acordo feito entre empresas e governos. São os que vivem na estrada enfrentando os horrores da vida, com os prazos apertados e as drogas para não dormir. Um bom número tem mais de um caminhão, é fato, mas certamente também pega a estrada, vivendo o que vivem os que não têm caminhão. Estão querendo que o preço do diesel baixe para que possam viver melhor. Só isso já nos obriga a solidariedade. E ponto final.

Agora, podemos contar com essas pessoas para a construção do socialismo? Possivelmente não. São nossos parceiros na luta pela manutenção da Petrobras pública? Possivelmente não. Querem o fora Temer? Possivelmente não. Odeiam os comunistas? Possivelmente sim. Querem a intervenção militar para garantir o que acreditam ser a ordem? Possivelmente sim.

Possivelmente a maioria esmagadora dos caminhoneiros não esteja nas nossas trincheiras. Mas, isso também é responsabilidade nossa. Digo nossa para nominar movimentos sociais, sindicatos, partidos, toda essa fatia de instituições que deveria estar nas ruas, nos espaços onde estão os trabalhadores e os pequenos “empreendedores”, discutindo a nova sociedade.

Os caminhoneiros pararam e pararam o Brasil. Isso diz muito sobre a quem tem a força de parar a produção. Vejo os depoimentos desses homens e mulheres que cruzam as estradas e, por vezes, me enterneço. Mesmo com aqueles que pensam que na ditadura as estradas eram melhores. São criaturas tentando se manter dentro desses sistema de terror que é o capitalismo. Há que disputar esses corações e essas mentes. Há que trabalhar.

Já estamos vendo alguns movimentos se aliarem ao grito dos caminhoneiros, colocando outras pautas, politizando, ampliando o protesto. E, caso os caminhoneiros vençam sua luta singular, possivelmente voltarão às estradas nos odiando, a nós, os comunistas. Mesmo que tenhamos sido solidários e tenhamos marchado com eles e por eles. E é assim que é a vida. Uma batalha constante, mesmo entre nós. Ás vezes a gente ganha, às vezes a gente perde. Por vezes conseguimos ampliar, por vezes não. Ainda assim seguimos.

Que a luta dos homens e mulheres da estrada encontre a vitória e que nós possamos também encontrar o caminho para que essas pessoas sonhem com um mundo novo, fora do sistema capitalista.

 

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Elaine Tavares é jornalista.

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