Crise faz sete anos e pressiona economias do planeta

Desde o estouro da crise, Portugal vive política de cortes de gastos sociais e escalada de desemprego
Desde o estouro da crise, Portugal vive política de cortes de gastos sociais e escalada de desemprego

A crise não tem prazo para terminar e tem pressionado governos para a recessão. Maior dilema hoje é generalizar as políticas mercantis ou universalizar direitos

Por Emir Sader.

Em julho de 2007, o banco de investimentos Bear Steans anunciava a quebra de duas das suas filiais de investimentos de alto risco (conhecidos como hedge funds). A contaminação global dessa quebra não tardou. Começaram quebras em cadeia na França, na Alemanha. Começou assim a primeira fase da crise econômica mundial, a dos títulos chamados de subprime.

Havia que salvar os bancos, proclamava o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Foram salvos, mas a dimensão da superprodução – pela ampliação sem fundamento dos créditos bancários – levou a economia norte-americana à recessão, seguida pelo mesmo fenômenos nos países da União Europeia.

A crise começava pelo sistema bancário, promovido a eixo da economia mundial pelos processos de desregulamentação neoliberal. Tornaram-se o setor mais sensível e, ao mesmo tempo, a ponta do iceberg da economia. A crise só não foi maior pelo crescimento da economia chinesa e de países da América Latina, entre os quais o Brasil.

Sete anos depois, quando no Brasil candidatos da oposição propõem o retorno aos programas neoliberais, as políticas de austeridade dos governos dos EUA e da Europa jogam álcool no fogo da crise e só a multiplicam. Se no começo da crise eram os bancos que podiam quebrar – e foram acudidos porque se quebrassem as telhas cairiam na cabeça de todos; eles foram foram salvos, estão bem, obrigado –, no retorno da crise foram os países que quebraram. Os bancos se salvaram e os países – como Grécia, Espanha, Portugal – foram à falência.

Na reação à crise, a Europa destrói o mais generoso sistema que havia construído – o Estado de bem-estar social, que durante pelo menos três décadas garantiu pleno emprego e direitos para todos. As políticas de austeridade vão eliminando direitos, antes de tudo dos mais frágeis, os imigrantes, os idosos, os jovens, enquanto a riqueza se concentra mais nas mãos do 1% mais rico, entre os quais estão os executivos das grandes corporações e os banqueiros.

Esse é o maior dilema da humanidade hoje: generalizar as políticas mercantis, que seleciona as pessoas pelo nível do seu poder aquisitivo, ou universalizar direitos. O que diferencia atualmente a Europa e alguns países da América Latina é a opção em torno dessas duas alternativas. Por isso aumentam as desigualdades, a pobreza e a miséria na Europa, enquanto elas diminuem nos países latino-americanos que optam por superar o neoliberalismo.

A crise no centro do capitalismo não tem prazo para terminar e pressiona nossas economias para a recessão. A diferença entre as propostas que se enfrentam nestas eleições está entre a de resistir à recessão, implementar medidas reativas, como se havia feito já no começo da crise. Ou se somar aos ventos da crise e implementar, novamente, como nos anos 1990, duros ajustes fiscais.

Os brasileiros decidem entre estas duas alternativas. Se tiverem os olhos postos na crise no centro do capitalismo, não devem ter dúvidas sobre o melhor caminho, tanto do ponto de vista econômico como social. Seguiremos na contramão das tendências gerais no mundo da globalização neoliberal, mas estando do lado dos poucos países que não entraram em recessão e seguiram diminuindo a pobreza, a miséria e a desigualdade no mundo atual.

Foto: Pedro Benavente/Imago/Keystone

Fonte: Rede Brasil Atual

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.