Brasil: o relato de uma tortura

relatoPor Clarissa Peixoto

Nesta semana, revi um vídeo que dois americanos, Haskell Wexler e Saul Landau, produziram no Chile em 1971 com depoimento de brasileiros exilados naquele país. Fui motivada a revê-lo por um artigo do jornalista Paulo Nogueira (leia aqui), que afirmava tê-lo assistido recentemente. O documentário chama-se “Brasil: o relato de uma tortura” e condensa em um pouco mais de uma hora, depoimentos de vítimas do regime militar no Brasil, além de demonstrar práticas de tortura utilizadas pelo aparelho de repressão.

Os testemunhos são de jovens brasileiros, presos políticos por oposição ao regime, libertados em troca do embaixador suíço, sequestrado numa ação da organização de esquerda Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).

O que mais me impressionou, eu que nasci nos período de transição “lenta, segura e gradual”, foi poder  acessar as falas e as feições de quem sofreu as agruras de um país silenciado, mas no tempo e no espaço deles, não no meu. É, sem dúvida, um importante documento jornalístico, um importante documento histórico. No vídeo, não há recriação, não há transcrição das falas. Há a imagem e a voz da juventude brasileira dos anos de chumbo, abafada pela violência.

Um relato da nossa história que, penso eu, deveria ser assistido por todo brasileiro. Pelas novas gerações de brasileiros. É também um filme que levanta, na atualidade, a necessidade de revermos a nossa própria história. Quanto o aparato de repressão e violência, marca dos 21 anos do regime militar, ainda não está vigente e operando em todos os recantos do Brasil?

O povo brasileiro desconhece o que de fato aconteceu naquele período e, talvez, não calcule a brutal herança deixada, que reflete ainda nos cárceres desse país afora.

Assim como Paulo Nogueira, a voz e a feição de Dodora ficaram na minha cabeça. Morreu aos 31 anos. Suicídio. Maria Auxiliadora morreu com a minha idade.

Imagem: Cine Planeta

 

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