Bolsonaro contribui para agravar a violência policial e contra as mulheres

Pesquisador da Human Rights Watch, César Muñoz comenta relatório da organização que apontou retrocessos no Brasil, além da sabotagem do governo federal ao enfrentamento da pandemia

Violência policial aumentou em 2020, mesmo durante o isolamento em função da pandemia. Foto: Isac Nóbrega/PR

De acordo com o pesquisador sênior da Human Rights Watch, César Muñoz, o governo Bolsonaro tem contribuído para o aumento da violência policial no Brasil. Além disso, tem atuado para dificultar o aborto legal, se alinhando internacionalmente a regimes autoritários que buscam impedir o avanço dos direitos reprodutivos e sexuais das mulheres.

O Relatório global 2021 da organização, divulgado nesta quarta-feira (13) apontou que o governo brasileiro sabotou os esforços de combate à pandemia da covid-19. Os povos indígenas foram os maiores prejudicados em função dessa omissão. Muñoz detalhou esses e outros retrocessos que constam no relatório, em entrevista ao Jornal Brasil Atualnesta quinta-feira (14).

Segundo ele, por causa da piora na situação dos direitos humanos no Brasil, o governo Bolsonaro deve ficar internacionalmente isolado, já que o presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, tem posições opostas às de Donald Trump, seu rival e antecessor.

“As circunstâncias no mundo mudaram com a eleição de Joe Biden. E Bolsonaro está numa situação de isolamento internacional. Na questão específica dos direitos das mulheres, a posição de Biden é totalmente contrária a de Trump. Na Amazônia, no momento em que estamos vendo a destruição do patrimônio ambiental brasileiro, Bolsonaro também vai estar isolado”, afirmou.

Violência policial

Em 2019, a polícia matou 6.357 pessoas no país, uma das maiores taxas de mortes pela polícia no mundo – e quase 80% das vítimas eram negras. O número mais atualizado mostra que as mortes por agentes cresceram ainda mais (6%) no primeiro semestre de 2020. “A violência polícial é um problema crônico no Brasil, que não começou com Bolsonaro, mas piorou no seu governo”, frisou Muñoz.

Ele destacou que em estados como Rio de Janeiro e Amapá, os policiais são responsáveis por até 30% das mortes violentas. Com isso, passam a ser vistos como uma fonte de perigo para as populações mais pobres dessas localidades. Outro problema, segundo o pesquisador da Human Rights Watch, é a corrupção policial. Ele diz que ambas as situações, além da falta de punição aos agentes envolvidos com corrupção e crimes violentos, acaba colocando o bom policial em perigo.

Direitos das mulheres

Dentre os retrocessos nos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, o pesquisador da Human Rights Watch apontou portarias editadas pelo governo em agosto e setembro, exigindo que médicos comuniquem a polícia caso atendam vítimas que desejem interromper gestação nos casos previstos em lei.

Na sequência, em outubro, o Brasil também assinou uma declaração internacional contra o aborto e em defesa da família tradicional. A iniciativa foi promovida pelos Estados Unidos. E contou com apoio de alguns dos países mais autoritários do mundo, como Arábia Saudita, Sudão, Congo, Egito, Emirados Árabes Unidos e Belarus.

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