Blumenau: Pelo direito de ir e vir na cidade

Por Magali Moser.

Um movimento que começou tímido tem se fortalecido e chamado a atenção em Blumenau, nos últimos tempos. Na cidade onde ir pra rua lutar pelos próprios direitos ainda é visto como algo incomum, os estudantes que protestam contra o aumento da passagem de ônibus no município têm assumido uma luta que deveria ser coletiva. Este ano já foram cinco manifestações desde o anúncio pelo Consórcio SIGA, cuja pretensão era de aumentar a passagem de ônibus para R$ 3,45 (um reajuste de 19%!).

Contrariando a expectativa dos usuários do transporte coletivo, o prefeito Napoleão Bernardes (PSDB) assinou sexta-feira o pedido de reajuste da tarifa do transporte coletivo de Blumenau, que passa de R$ 2,90 para R$ 3,05, a partir de 11 de março. Apesar da pretensão inicial do SIGA não ter se confirmado, o novo valor assusta. Entre as capitais, a tarifa de ônibus mais cara do Brasil é a cobrada em São Paulo (R$ 3), segundo levantamento da empresa Ticket Transporte.

Os questionamentos em torno dos reajustes da tarifa de ônibus em Blumenau se tornaram ainda mais frequentes a partir da criação do Consórcio Siga, em 2008, com a união das empresas Nossa Senhora da Glória, Rodovel e Verde Vale. Desde então, somente dois aumentos não enfrentam problemas com a Justiça, em 2008 e 2009. O Ministério Público precisou intervir e os cálculos foram refeitos. Em 2010, o promotor Gustavo Mereles Ruiz Dias, em ação civil pública sobre o caso, chegou a pedir o afastamento de Rudolf Clebsch, então presidente do SETERB e do prefeito da época, João Paulo Kleinübing, de seus cargos e as suas devidas condenações, juntamente com o Consórcio Siga. Além do aumento ilícito da passagem, naquele ano, o promotor apurava também a concessão do serviço por 30 anos, em 2007, quando foi assinado o contrato entre as três empresas e o município, ficando o Consórcio responsável por todo o sistema de transporte coletivo urbano na cidade.

Diante de tantas denúncias de irregularidades no processo e das justificativas apresentadas para os reajustes se repetirem, os usuários perdem a paciência e vão às ruas para serem ouvidos. Cansados de se sentirem reféns, assumem o papel de protagonistas. O movimento pela redução da passagem de ônibus em Blumenau é formado principalmente por estudantes e lideranças comunitárias.

– R$ 2,90 já é um absurdo. Imagina R$ 3,05! O movimento vai continuar – adianta a estudante de Psicologia da FURB Ester Bevian Graf, uma das militantes.

O movimento é apartidário, garante a estudante de Direito da FURB Michele Mantelli, uma das organizadoras. Ela relata que apesar do movimento buscar a qualidade de vida e a garantia da mobilidade urbana, é comum os manifestantes serem mal compreendidos inclusive pela própria comunidade, especialmente por motoristas que se sentem incomodados com os “transtornos” causados pelas manifestações. Por isso, o grupo tem a preocupação de orientar a população sobre seus interesses e distribui panfletos informativos com esta intenção.

É mais do mesmo falar da sede de ganância dos empresários diante da qualidade (?) do serviço. Quem usa o transporte coletivo conhece bem o tempo perdido para pegar um ônibus, o desconforto causado pela superlotação, além do calor insuportável – apesar das promessas antigas de se colocar ar condicionado nos veículos. (Alguns deles, responsáveis pelo trajeto Gaspar – Blumenau – Gaspar, oferecem o serviço e disponibilizam acesso à Internet wi-fi. Há de se reconhecer a necessidade de buscar atrativos para manter os usuários.)

Hoje à tarde, às 17h30min, Blumenau vai testemunhar uma nova manifestação contra o aumento. A concentração será a partir das 17h30min, na prefeitura. No plano de governo do atual prefeito, enquanto candidato, a mobilidade urbana foi apresentada como prioridade. A população quer saber: Quais são as ações pensadas para atender às necessidades de pessoas que estudam, trabalham e vivem o cotidiano da cidade? Uma das necessidades mais básicas do ser humano, o direito de ir e vir na cidade está cada vez mais comprometida. A mobilidade urbana não determina a condição de exclusão social, mas se constitui em uma das ferramentas para superação dessa condição.

Foto: http://tbonet.com.br/

Fonte: http://jornalistamagalimoser.wordpress.com/

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