Banda formada por palhaços desperta a graça de ser humano

Por Paula Guimarães.

Depois de quase duas horas de espetáculo, que passaram num piscar de olhos, ouviu-se o coro do público “mais um!”. Para alegria de todos, os palhaços da Super Banda voltaram ao palco, simulando que estavam surpresos com o pedido. Boró, Farinha, Farofa, Xicoza, Flor e o maestro Nandola, munidos dos mais variados instrumentos musicais – entre eles agogô, trompete, bateria, surdo, sanfona, guitarra, violão e pandeiro – conduziram o infantil “Para todas as idades”, realizado no último fim de semana, no Circo da Dona Bilica, em Florianópolis.

Com uma pitada de Rock and Roll, o show traz em seu repertório músicas infantis atuais (uma de composição própria) e clássicos da década de 80, como “Plunct Plact Zum” de Raul Seixas. No palco, eles cantam, dançam, jogam capoeira, e principalmente são palhaços.

Errar é humano. E se há alguém que erre muito até acertar, esse é o palhaço, que faz sua graça resistir ao tempo de forma tão universal. Ele permite ao público rir de si mesmo e estabelece uma “relação de afeto com a humanidade”, como explica Gabriela Leite, de 30 anos, a palhaça Flor.

Diferente do malabarista, do mágico e dos outros personagens circenses, admirados pelos seus feitos, o palhaço carrega a figura do fracassado, daquele que não se adapta ao padrão. “O palhaço é humano, é real, e como tal, quer ser amado. Ele quebra estruturas enrijecidas, edificadas dentro de nós. É a figura do ridículo, e a gente é tão ridículo né?”, explica a palhaça residente do Circo da Dona Bilica.

Tudo vira motivo de riso num espetáculo que não omite a graça nem mesmo de um imprevisto, seja falha técnica ou tosse vinda do público. “A palhaçaria dilata potências, acontece agora, não é algo que se constrói fora. Numa tentativa de buscar a humanidade do artista vestido de palhaço”, afirma Gabriela.

A palhaça explica que a sociedade sempre precisou de um bobo da corte, de alguém que ria e faça rir dos padrões e, nisso está sua função social. Única artista do grupo com formação acadêmica, encontrou a linguagem da palhaçaria na faculdade de Teatro, e teve contato direto com sua vocação na oficina que inaugurou o Circo da Dona Bilica – onde ao lado de outros colegas da Cia AtrapaTrupe tornou-se residente desde então. “Na palhaçaria toda a pesquisa ocorre em você mesmo. Não existe personagem, não há interpretação, é o seu ridículo exposto, num difícil processo de autoconhecimento”, explica ela.

Os artistas da Super Banda trabalham a criação de outro espetáculo musical, este com repertório específico para o público adulto. A Cia AtrapaTrupe teve origem em 2010 com os espetáculos “Os 3Rs em: A Grande Missão” e o “Os 3Rs na trilha do Lixo”, voltados à educação ambiental,  num intercâmbio entre as linguagens da palhaçaria, teatro, musica e dança. Em parceria com o palhaço Pepe Nuñez – que ao lado de sua companheira Vanderleia Will, a manezinha Dona Bilica, é idealizador do Circo – a companhia montou os espetáculos “Entre Notas e Tropeços” e “Atrapalhaços”.

 Links úteis:

http://www.atrapatrupe.com.br

http://www.circodonabilica.com.br

 Fotos: Chris Mayer

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