Atos à direita, eu estou fora

 voltaPor Cadu Amaral.

O que começou há algumas semanas com manifestações de rua contra os aumentos abusivos dos valores das tarifas do transporte publico se transformou em uma coisa amorfa, sem foco e amplamente influenciado e dirigido pela pauta da direita brasileira. Tanto que ate o Movimento Passe Livre (MPL) retirou-se do último ato por discordas de “práticas conservadoras” nas manifestações.

As práticas conservadoras a que se referia o MPL vão além de cartazes pedindo o fechamento do Congresso ou contra a legalização do aborto, mas se trata também de agressões físicas e morais a militantes partidários, de sindicatos ou centrais sindicais e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), por esses estarem portando a bandeira de seu partido. Em São Paulo chegou-se a apedrejar militantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Estas são claramente pauta da direita, que no Brasil sempre teve um viés golpista – não é preciso dar aula de História aqui! – inflado pela grande mídia. Basta puxar a memória rapidamente e lembraremos que no início das manifestações veículos de comunicação como Globo, Folha, Estadão e Veja eram peremptoriamente contrários aos atos. Vândalo era o adjetivo mais educado que dedicavam às pessoas que estavam nas ruas.

Ao contrário do que muita gente pensa, partidos políticos estavam à frente das organizações das manifestações. E no Brasil inteiro. Mas logo fascitoides passaram a dirigir a massa nesses atos. Não dormindo no ponto, a mídia tratou de ampliar o volume dos gritos de fora partido. E logo a corrupção virou a pauta central das manifestações. Mas nada há contra corruptores.

Dizer que há insatisfação com o rumo de um monte de coisas é lugar comum, é chover no molhado. É claro que tem, mas não é virando à direita que elas vão se resolver. Na internet grupos como o Anonymous e o Change Brazil fazem a guerra suja da boataria golpista. Só para ter ideia, o jargão “O gigante acordou” era um dos dizeres da Marcha da Família com Deus e pela Democracia que foi o estopim do golpe civil-militar de 1964.

Foto do livro “Marcha pela Família”. Santos/SP

Um bocado de gente, me incluindo nisso, achou que dava para disputar por dentro essas manifestações, ledo engano. Disputa ideológica, não diretiva no sentido de ter o ato para si. Como é o centro do discurso fascista contra os partidos políticos. Essas manifestações já estão dominadas pela pauta da direita e se os setores democráticos do país não abrirem os olhos, não seria surpresa a repetição ou tentativa, mesmo que com nova roupagem, do que aconteceu em 1° de abril de 1964.

Na última sexta-feira (21) em São Paulo, 76 organizações dos movimentos sociais do país como o MST, a União Nacional dos Estudantes (UNE), a Marcha Mundial de Mulheres, o Levante Popular da Juventude, a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), estiveram reunidas para debater os rumos que essas manifestações estavam tendo. Também participaram representantes dos partidos PT, PCdoB, PSTU, PSOL, PCO, PCB, PSB e PPL.

Mas as discussões parecem ter ficado na tônica de disputar a pauta dos atuais atos existentes. Esses que apedrejam e agridem, física e moralmente, quaisquer militantes das organizações existentes.

Penso que todas as entidades que participaram dessa reunião deveriam organizar uma contraofensiva à esquerda nas ruas. Não se trata de organizar cruzadas para ter pancadaria. Isso os fascitoides já fazem nos atos do Globo Repórter.

Defendo organizar outras manifestações, onde se paute mais agilidade na reforma agrária, se paute reforma política – com financiamento público de campanhas para acabar com o poderio econômico nas campanhas eleitorais, voto em lista partidária e o fim das coligações proporcionais –, 100% dos royalties do pré-sal para a educação, contra as presepadas da cura gay e do estatuto do nascituro, pela taxação das grandes fortunas, Estado laico e pela liberdade ideológica e de organização.

Uma manifestação assim contará com minha presença e de tantos outros que, mesmo sem ter filiação partidária (até nem gostando de partidos) iriam às ruas. Não irei mais a nenhum ato que não tenha a participação efetiva dessas organizações e que mantenha dentro dos manifestantes fascistas que repetem a pauta da mídia brasileira e agem como animais ao atacarem militantes partidários e sindicais.

Ao contrário de Vladimir Safatle em seu artigo na edição 754 de CartaCapital, eu não confio nessa moçada que está saindo às ruas nesse momento. Mesmo tendo um sentimento legítimo de insatisfação, ela não consegue perceber sua transformação em massa de manobra da direita brasileira. Destila ódio e alimenta o espírito golpista de nossa “grande imprensa”.

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 Fonte: http://caduamaral.blogspot.com.br/2013/06/atos-direita-eu-estou-fora.html

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