Atingidos por barragens iniciam jornada de lutas para denunciar descaso da Vale

De acordo com o MAB, mineradora ainda não reassentou famílias de Mariana e Brumadinho; movimento alerta que a saúde das pessoas piorou

Mariana (MG) – Distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), atingido pelo rompimento de duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco (Antonio Cruz/Agência Brasil)

São Paulo – O Movimento Atingido por Barragens (MAB) lança a jornada de lutas “Se a Vale destrói, o Povo constrói”, nesta terça-feira (15). Além de relembrar os crimes cometidos pela mineradora Vale S.A. nas regiões de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, o objetivo é denunciar a falta de amparo da empresa junto às famílias.

O lançamento das atividades está acontecendo na sede do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), desde às 18h, em São Paulo. Além de representantes de movimentos populares, a abertura do evento tem a presença do ex-ministro dos Direitos Humanos do Brasil e ex-membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi.

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De acordo com o coordenador do MAB, Pablo Andrade Dias, o Binho, a Vale faz propaganda de mentiras, principalmente em relação ao auxílio às famílias atingidas pelos crimes socioambientais. “A vida destas pessoas está ruim e só piora, com o passar do tempo. Comunidades inteiras sequer foram reconhecidas, nem retomaram a seu modo de vida. Por exemplo, nenhuma família foi reassentada quatro anos depois do crime em Mariana”, denuncia, em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual.

Binho alerta que a saúde das pessoas que moram próximo ao Rio Doce só piorou e se estendeu para outras regiões. “Vemos os mesmos sintomas aos moradores da proximidade do Rio Paraopeba, depois do crime de Brumadinho. São doenças de pele, queda de cabelo e problemas gastrointestinais. Teve um estudo no ano passado, com 15 pessoas, sobre a presença de materiais pesados e todas estavam contaminadas com arsênio, níquel e outros metais”, lamentou ele.

A jornada também tem como objetivo a construção de uma casa para uma das famílias atingidas em Barra Longa (MG). O município foi tomado pela lama de rejeitos, após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana. O crime deixou mais de 362 famílias desabrigadas, além de 19 pessoas mortas. A bacia do rio Doce e o litoral capixaba foram devastados e milhares de famílias ficaram sem abastecimento de água, trabalho ou fontes de renda.

“É um ato simbólico e para denunciar a enrolação da Vale, mostrando que é possível construir casas de maneira mais ágil. Vamos denunciar também que as empresas têm agido de má fé, sem reconhecer algumas famílias atingidas. A Dona Iolanda, a quem será entregue a casa, é uma das pessoas não reconhecidas pelas empresas. As empresas são responsáveis por indenizar as famílias, mas quem decide a forma que as vidas serão reconstruídas são as famílias, que precisam ser protagonistas desse processo”, contou o coordenador do MAB.

Um Termo de Transação e Ajustamento de Conduta (TTAC) foi firmado entre as mineradoras responsáveis pelo crime, governos e instituições estaduais e federais. No entanto, o papel da Fundação Renova, criada a partir do acordo, não tem garantido os direitos do atingidos, segundo Pablo Dias.

No crime de Brumadinho, neste ano, 272 pessoas foram mortas, o que representa quase 1% da população da cidade. “Não foram só as perdas que abalaram essas pessoas, os pescadores não podem mais pescar, os agricultores não podem mais plantar, então o modo de vida das pessoas mudou. Ao longo do Rio Doce, principalmente nas cidades de Mariana e Barra Longa, onde mais de 600 casas foram destruídas e nenhuma das famílias foi reassentada até hoje. É um absurdo, pois já se passaram quatro anos do crime de Mariana”, criticou.

Diversas atividades estão agendadas pelo MAB até o mês de novembro. No próximo dia 25 será realizado um ato em Belo Horizonte. Já no próximo mês, uma série de encontros entre os atingidos pelos dois crimes e uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Minorias, da Câmara dos Deputados, também estão marcados.

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