As velhas e as novas imagens da dominação

Imagem: Reprodução

No abismo que separa Washington de Bagdá, as massas procuram o herói no meio do fogo e dos crimes. A expressão “lado do Bem”, perceptível tanto numa reportagem quanto num filme de super-heróis, parece tentar resumir toscamente os segredos da história. Para boa parte das pessoas que se deixam ser administradas por forças conservadoras, o importante não é saber que estamos inseridos em relações de produção independentemente da nossa vontade individual. Exatamente por não enxergarem as máscaras do imperialismo no atual estágio de desenvolvimento do modo de produção capitalista, muitos fazem questão de se vestir como figurantes numa fajuta história de mocinhos e bandidos.

O grande ” fato “ é que o proletariado parece fazer parte de uma trama maniqueísta digna da saga Guerra nas Estrelas. A civilização ocidental, cuja força e arrogância se fazem sentir hoje através do Exército imperialista dos EUA, sempre necessitou de inimigos para combater pelos interesses das classes proprietárias. Se nem sempre estes “ inimigos históricos “ são exemplos a serem politicamente defendidos pela classe trabalhadora, afinal o fundamentalismo islâmico, por exemplo, é também tremendamente opressor(cabe lembrar que este último sempre esteve a serviço de uma aristocracia brutal), aqui nas bandas do Ocidente devemos denunciar sistematicamente as agressões imperialistas inclusive em suas representações estéticas: é neste contexto que as imagens da dominação tornam-se absurdamente atraentes, heroicas e vibrantes para as massas.

Os monstruosos homens de terno de gravata defensores do Capital, naturalizam a violência, institucionalizam o assassinato e, como não podiam deixar de ser, falam “em nome de Deus. “ Sabemos que apelar para divindades sempre foi um garantido recurso para os dominadores obterem sucesso político e militar. O Papa Urbano II, que governou os católicos entre os anos de 1088 e 1099, promoveu a Primeira Cruzada (1096) com o objetivo de legitimar os interesses econômicos e políticos da nobreza e do Clero, retomando terras em Jerusalém e os lugares considerados sagrados pelos cristãos, então ocupados pelos turcos. Sob o grito de guerra “Deus o quer”, cavaleiros cristãos levantaram a cruz contra a meia lua e por um longo período aquele território foi adubado com sangue. É chocante saber que este sangue não parou de ser derramado. Um paralelo histórico macabro encontra-se em relação ao atual governo norte americano. Não é preciso ser um especialista nos conflitos do mundo contemporâneo para saber que os EUA não engoliram a Revolução iraniana de 1979 e que pretendem controlar cada gota de petróleo que jorra dos territórios islâmicos. Existe aqui uma dialética entre o sangue e o petróleo. Mas é curioso ao mesmo tempo como os recursos ideológicos para ilustrar “a vontade de Deus”, saltaram dos versículos da Bíblia para as histórias em quadrinhos, das vozes dos líderes políticos/religiosos para as grandes e pequenas telas.

O relâmpago que anuncia Thor não traz clarões, mas a escuridão para a cabeça das massas. No mesmo céu que desfere marteladas contra os trabalhadores, surge o escudo do Capitão América degolando iranianos. Ainda sobre o ar, o Homem de Ferro vigia a Coréia do Norte (mas todo mundo sabe que ele tem receio de comprar briga com a China). Hulk está rosnando contra a América Latina, enquanto o Príncipe Submarino nada pelos mares da África e da Europa… Os leitores mais velhos devem se lembrar daqueles desenhos animados dos super heróis Marvel que ainda passavam na televisão nos anos de 1980. Produzidos na década de 1960, estes desenhos possuíam uma lenta estrutura de quadrinhos em que o som hipnótico de fundo e a letargia das imagens davam uma atmosfera de sonho. Trata-se mais propriamente de um típico pesadelo promovido pelo terror imperialista, que hoje surge perante a cultura como “clássicos” e possui uma influência dramática muito maior do que qualquer produto cultural canonizado por uma elite intelectual. Engana-se quem pensa que estes personagens de quadrinhos são simplesmente produtos voltados para os aficionados neste gênero. Esta produção que movimenta milhões é em termos estéticos expressão do que realmente se passa em termos políticos e militares no mundo.

Qualquer um sabe que para o materialismo histórico prestar atenção nas imagens dos produtos culturais que servem para “entreter”, significa compreender a linguagem do imperialismo. Diante do crescente maniqueísmo sustentado por governos conservadores, devemos revelar a dialética na cultura.

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