As mil mortes de Marielle

Por Elaine Tavares. 

No dia em que foi divulgado o nome dos matadores de Marielle, o que mais se viu nos perfis dos bolsonaristas foram calúnias e mentiras sobre ela. Um verdadeiro horror. Cada um e cada uma, a seu modo, tentando desqualificar essa mulher que vinha lutando bravamente, inclusive pelos policiais militares que também são vítimas da violência no Rio de Janeiro.

São muitos os relatos de familiares de policiais assassinados que tiveram o apoio de Marielle nos mais de 10 anos em que ela trabalhou com a ajuda jurídica e psicológica à vítimas da violência. É, Marielle não começou sua luta contra a violência quando se elegeu vereadora, antes disso já travava pesadas batalhas.

Como parlamentar pode ir mais fundo nessa luta e estava dedicada a esfacelar as milícias (grupos paramilitares que extorquem comerciantes e populares) que tomaram conta do Rio. Assassinada por dois policias (um aposentado e outro ex) ligados às milícias, ao longo desse ano ela ainda foi sendo assassinada em cada mentira, em cada calúnia, em cada maledicência dita contra ela. Seu corpo segue quente e recebendo balaços.

Agora, encerrada a fase de saber quem foi que atirou, deveria ter sequência para se chegar ao mandante. Mas, mais uma vez Marielle é assassinada. O delegado que estava à frente das investigações foi afastado do caso. Segundo o governador do Rio, ele não foi exonerado, apenas está saindo porque “ele está esgotado, absorveu informação demais” e vai passar alguns meses na Itália, para espairecer, talvez. Sabe-se que os assassinos foram avisados que haveria a prisão, e já tratavam de fugir. Mas, o delegado antecipou o ato e conseguiu pegá-los, um deles já em fuga. Isso diz muito. Muito mesmo.

Agora, sabe deus quem vai assumir o caso e com que vontade de chegar à verdade. Marielle seguirá morrendo…

Mas, se Marielle segue sendo assassinada todos os dias, seja pelas autoridades ou pelas gentes bolsonaristas, isso significa que ela segue viva. E segue. Nas ruas, nas praças, nas casas, nos corações dos que amam a paz e a justiça. E para cada novo balaço que ela receba, uma nova ressurreição. Mil vezes alvejarão seu corpo. Mil vezes se levantará. Até que caia aquele que mandou apagar seu sorriso. Só aí poderemos chorar e fazê-la descansar!

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Elaine Tavares é Jornalista em Florianópolis.

 

 

 

A opinião do autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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