As chuvas e o planejamento de ocasião

Por Charles Henrique Voos.

As chuvas inundaram a Rua 9 de Março no dia 4 de março.
As chuvas inundaram a Rua 9 de Março no dia 4 

Mais uma vez Joinville foi atingida pelas chuvas. Mais uma vez as tempestades tropicais mostraram como a nossa cidade é vulnerável. A combinação chuva+maré é infalível. É assim antes mesmo de Joinville existir, mas a omissão e o descaso, mais uma vez, serão os responsáveis por nada acontecer em curto prazo.

Para quem não lembra, a cidade de Joinville não era pra ser ocupada no entorno da atual rua 9 de março, pois a instalação dos primeiros imigrantes em 1851 aconteceu devido a uma crise da Sociedade Colonizadora de Hamburgo, responsável pelo empreendimento colonizador. A falta de dinheiro fez os empresários esquecerem o planejamento inicial, de ocupação das áreas no atual bairro Bucarein, lugar que não alagava e tinha terras mais férteis para plantio.

Como faltou grana, levaram os imigrantes para uma estradinha aberta em 1848 por caçadores (a 9 de março) e Joinville cresceu a partir dali. Por uma ocasião, todos foram levados para o pior lugar possível.

Enchente da década de 1920
Enchente da década de 192

Quase 163 anos depois, o planejamento de ocasião continua, e continuará fazendo os joinvilenses cobaias do “vamo vê o que dá”.

O Conselho da Cidade de Joinville, no último mês de Janeiro, tirou a obrigatoriedade de empreendimentos em áreas alagáveis fazerem o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), pois demandaria “altos custos”. O EIV é um estudo importantíssimo e cria mecanismos para levantamentos de riscos e solução destes. Inclusive possíveis inundações. Como mostra o mapa abaixo, de 2011, grande parte da cidade está sob risco de enchentes:

Areas-alagaveis-Joinville

Fonte: Prefeitura Municipal de Joinville, 2011.

Por qual motivo a maioria dos conselheiros aprovaram (com a bênção do IPPUJ) esta não-obrigatoriedade, sendo que grande parte da cidade enfrenta anualmente problemas com as chuvas? Uma das hipóteses, certamente, é que grande parte da zona sul da cidade corre riscos, e esta mesma parte da cidade é palco de intensa especulação imobiliária para a construção de grandes empreendimentos (GM, UFSC…) e local de futuros loteamentos.

A ocasião, novamente, é a principal regra do planejamento urbano de Joinville. Como serve ao bolso de alguns, serve para a cidade, mesmo que ela continue embaixo d’água.

163 anos errando.

 

Foto: Jefferson Michels.

Fonte: À Margem

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