As atletas brasileiras e as Olimpíadas do Rio

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Por José Eustáquio Diniz Alves.

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Existem algumas coincidências entre a participação das mulheres brasileiras na política e nas Olimpíadas. A primeira mulher a disputar uma prova olímpica aconteceu há 84 anos, quando a nadadora Maria Lenk participou das Olimpíadas de Los Angeles, em 1932. Por coincidência, o mesmo ano em que as mulheres brasileiras conquistaram o direito de voto.

A primeira medalha de ouro conquistada pelas mulheres brasileiras foi nas Olimpíadas de Atlanta em 1996, quando Jacqueline Silva e Sandra Pires venceram o vôlei de praia. Foi também em 1996 que se deu início à aplicação da política de cotas (Lei 9.100) buscando elevar a participação das mulheres na política parlamentar.

Nos últimos 20 anos, as mulheres brasileiras deram a volta por cima nas Olimpíadas, mas continuam subrepresentadas na Câmara Federal, nas Assembleias Legislativas e no Senado. O Brasil, com apenas 9,9% de mulheres na Câmara Federal está em 153º lugar no ranking mundial da União Interparlamentar (IPU).

Nos esportes olímpicos a situação é outra. O número de mulheres brasileiras disputando as Olimpíadas aumentou bastante nas últimas décadas. Nas Olimpíadas de Barcelona, em 1992, o percentual de mulheres na delegação brasileira foi de 26%, passando para 29,3% em Atlanta, em 1996 e 46% em Sidney, em 2000. Nas três Olimpíadas seguintes (2004, 2008 e 2012) a divisão por sexo ficou próxima da paridade (50% para cada sexo). Na Rio 2016, o número de mulheres disputando provas aumentou, mas a percentagem, surpreendentemente, caiu para 45%. Lembrando que os Estados Unidos e a China possuem delegações com maioria feminina.

As Olimpíadas de Barcelona (1992) foram as últimas em que as mulheres brasileiras não conquistaram medalhas. De lá para cá, tem havido maior igualdade de gênero no pódio. Nas Olimpíadas de Sidney e Atenas as mulheres brasileiras não conquistaram medalhas de ouro, mas conquistaram 4 medalhas (33%) em 2000 e somente 2 medalhas (20%) em 2004. A primeira medalha de ouro feminina do Brasil foi conquistada apenas nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996. Nesta Olimpíada as mulheres conquistaram 4 das 15 medalhas brasileiras, representando 27% do total.

Porém, o hiato de gênero no topo do pódio foi revertido 12 anos atrás, pois as atletas brasileiras conquistaram 2 das 3 medalhas de ouro, tanto em Pequim 2008, quanto em Londres 2012. Na China, as mulheres ganharam 6 das 15 medalhas brasileiras, representando 40%, o maior percentual da história. Mas na Inglaterra, o desempenho das atletas brasileiras foi um pouco melhor, conquistando 7 das 17 medalhas, representando 41% do total.

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Nas olimpíadas do Rio 2016 os homens retomaram a hegemonia e conquistaram a grande maioria dos pódios. Nas medalhas de ouro as mulheres ficaram com 2 das 7 medalhas conquistadas (representando 29%). Nas medalhas de prata, as mulheres ficaram com 1 em 6 medalhas (representando 17%), nas medalhas de bronze, as mulheres ficaram com 2 das 6 medalhas (representando 33%). No total, as mulheres ficaram com 5 medalhas no Rio (26%) e os homens com 14 medalhas (74%).

Somadas as últimas 3 olimpíadas (Pequim, Londres e Rio) houve quase paridade de gênero na conquista de medalhas de ouro com 6 medalhas para as mulheres e 7 para os homens. Mas no total de medalhas a participação feminina na Rio 2016 só ficou acima de Barcelona 1992, mas ficou abaixo do desempenho ocorrido em todos os outros jogos desde Atlanta 1996.

A participação brasileira na Rio 2016 foi a maior e a melhor de todas as edições dos jogos desde 1920, em Antuérpia, quando o país participou pela primeira vez. O número de atletas (465) foi recorde. O número de medalhas de ouro (sete) também foi recorde, assim como o número de medalhas de prata (seis) e o número de medalhas totais (dezenove).

Em relação à classificação no ranking geral dos países o Brasil também obteve a melhor posição no ranking geral, na olimpíada do Rio, ficando em 13º lugar, praticamente empatado com a Espanha e uma medalha de ouro à frente do Quênia e da Jamaica. Pela primeira vez em décadas o Brasil fica na frente de Cuba que terminou em 18º lugar, mostrando as dificuldades por que passa Cuba em todas as áreas.

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Mas considerando os países sedes, o Brasil teve uma das piores participações. Em geral, os países sedes dividem as primeiras colocações. Na olimpíada de Montreal, em 1976, o Canadá ficou em 27º lugar. Nas olimpíadas da cidade do México, em 1968, e de Atenas, em 2004, o México e a Grécia ficaram em 15º lugar. Na olimpíada do Rio, em 2016, o Brasil ficou em 13º lugar, pouco melhor do que os 3 casos anteriores, mas bastante atrás do que todos os outros casos de países sedes.

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O Brasil é o quinto país do mundo em tamanho de população e território. O sétimo PIB da economia internacional (em ppp). O 75º lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Nas olimpíadas do Rio ficou em 13º lugar. Agora que terminaram os jogos, o Brasil precisa, com calma, fazer uma avaliação de todo este processo.

Segundo as considerações do jornalista Vinicius Torres Freire (FSP, 21/08/2016): “Nos Jogos do Rio, a equipe brasileira teve seu melhor desempenho. Em número e cores de medalhas, foi quase idêntico ao da Grécia que sediou os Jogos de 2004. Os estádios gregos decaem em ruínas. Logo depois de Atenas 2004 (16 medalhas, 6 de ouro), o esporte grego regrediu a duas de prata e duas de bronze nas Olimpíadas de 2008 e 2012. Em 2010, a Grécia faliu. Hum. (…) talvez a ânsia de medalhas se inscreva na história desse nosso intuito de grandezas meio sem fundamentos. Não precisa ser assim, claro. Em vez de pirâmides das manias de grandeza, esportivas ou outras, poderíamos começar por baixo, para que as crianças bem tratadas decidam (ou não) virar medalhistas”.

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: [email protected]

Fonte: EcoDebate

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