Artistas LGBT fazem arte contra o conservadorismo e o preconceito

Por Larissa Costa

O ilustrador La Cruz defende que a arte pode instigar a indignação política da sociedade / Gabriela Matos

A arte, historicamente, cumpre um papel importante de propor debates, tocar em assuntos ainda tabus e subverter alguma ordem imposta. Foi assim na ditadura militar, que reagiu com perseguição, exílio e censura à música, ao teatro, à ilustração.

Desde o golpe em 2016, o conservadorismo tem saltado aos olhos. No ano passado, o episódio do cancelamento da exposição “Queermuseu”, em Porto Alegre (RS), as manifestações contrárias à exposição de Pedro Moraleida “Faça Você Mesmo Sua Capela Sistina”, no Palácio das Artes, em BH, são exemplos de que o obscurantismo tem saído do armário.

No entanto, artistas continuam atentos e dispostos a enfrentar essa situação. “A arte nunca pode perder seu status de rebeldia. Ela tem que nos instigar a ser diferente, a pensar diferente, a olhar para lugares que não olhamos”, acredita o ilustrador e autor Fernando Siqueira.

O também ilustrador La Cruz defende que a arte pode, ao mesmo tempo, ser agitação e propaganda, se referindo a um conjunto de métodos utilizada pelos movimentos populares para fomentar a indignação política da sociedade.  Para ele, a arte é capaz de denunciar, mas também de apontar formas de superação das injustiças. “Nossa arte tem também o papel de anunciar aquilo que queremos enquanto nação. A arte faz parte da construção de um Projeto Popular para o Brasil, não somente no sentido estético e superficial, mas no sentido de acompanhar a própria construção do país”, afirma.

LGBT na arte

Além da ilustração, La Cruz e Fernando são homossexuais e têm em comum a consciência de que essa dimensão das vidas atravessa suas produções artísticas. Preconceito, aceitação, relação com a diferença, homoafetividade, descoberta do próprio corpo são temas que aparecem nos detalhes dos livros de Fernando, um deles direcionado para o público infantil.

“Vou convidando as pessoas para a reflexão. Dizendo as coisas de formas mais sutis, usando imagens mais simbólicas e menos diretas, é possível tocar mais fundo”, defende Fernando. Atualmente, ele está com uma campanha de financiamento colaborativo para o lançamento do seu segundo livro, chamado “Figuras de Liberdade”, inspirado em memórias da sua infância no interior.

La Cruz também usou financiamento colaborativo para lançar sua história em quadrinhos “Comigo-Ninguém-Pode”, que narra a vida de Luís Andaluz, que é negro e gay. Assim como em todo o seu trabalho, a temática da diversidade sexual aparece com força. “Apesar de não ser autobiográfico, o personagem principal passa por várias turbulências que eu passei na minha vida. Acabei levando para minha produção gráfica o reflexo daquilo que tive como vivência e vivo cotidianamente”, descreve.

Sophie Silva também escreve e desenha quadrinhos, além de cantar e compor. Ela é transexual e lésbica e em sua produção aborda temas como a liberdade de ser quem é e a coragem de amar. Nos quadrinhos, ela gosta de explorar romances entre mulheres, por avaliar que há uma falta desses conteúdos direcionado para as homossexuais. “Hoje, romances lésbicos são muito sexualizados, fetichizados, o que não é legal ler quando se é uma mulher lésbica. Então quis fazer uma coisa de uma forma mais bonita, fofa, romântica”, conta.

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