Articulação de movimentos promove atos em todo Brasil no Dia da Consciência Negra

Por Lilian Campelo. 

Manifestações em diversas cidades do Brasil irão celebraram no domingo (20) o Dia da Consciência Negra. Os atos, foram organizados por uma articulação de movimentos negros chamada Convergência Negra, e teve como mote “Fora, Temer, nenhum direito a menos para negros e negras!”.

Segundo nota dos organizadores, o objetivo do ato foi de “expor à sociedade que o governo de Michel Temer é oriundo de um golpe parlamentar e representa um retrocesso às conquistas democráticas e também uma ameaça aos direitos conquistados pela população negra nos últimos anos”.

Um texto de convocação para as marchas apresentou onze pontos que unificam os movimentos negros brasileiros, como extermínio da juventude negra e intolerância religiosa. Leonor Araújo, presidente nacional do Instituto Gangazumba e coordenadora do Coletivo de Entidades Negras (CEN), afirma que alguns atos foram realizados no dia 20 e outros no dia 18, como em Vitória (ES), cidade onde mora. “Como os movimentos que participarão da marcha entregaram uma carta com pautas de reivindicação do povo negro ao governador do estado [do Espírito Santo, Paulo César Hartung Gomes], a marcha precisava acontecer em um dia útil”, justifica.

Márcio Gualberto, coordenador político institucional no CEN e integrante da Convergência Negra em Salvador, conta que nas principais capitais aconteceram atos e manifestações, já que a data integra a agenda dos movimentos negros pelo país. Em cidades pequenas, médias ou grandes ocorreram atividades e, segundo ele aponta, pelo menos em 18 capitais ocorreram manifestação, e cita como exemplo São Paulo, Vitória, Manaus, Belém, Brasília, Rio de Janeiro e Maceió.

Marcha

Em Salvador (BA), o Dia da Consciência Negra foi marcado por três atividades, com início ainda na madrugada do dia 20 com a ‘Alvorada dos Ojás’ que, de acordo com Gualberto, foi uma cerimônia cultural que consiste em envolver os troncos das árvores do Dique do Tororó, lagoa onde estão as estátuas que representam os orixás, em um pano branco formando um laço. O ato simboliza a ligação do homem com a natureza. A atividade cultura foi organizada pelo CEN, juntamente com outras entidades que partirão em caminhada até o Pelourinho.

Em mais dois pontos da cidade, nos bairros da Liberdade e Campo Grande, ocorreram duas marchas seguindo em direção ao encontro dos participantes da atividade cultural, como explica Gualberto. “Esse ano todas essas ações foram unificadas às 15h. Nós nos deslocamos junto com o povo do Candomblé para o Pelourinho ao Terreiro de Jesus e recebemos as duas caminhadas que se unificaram ali,  uma culminância desses atos que ocorreram em lugares diferentes e elas se encontraram para que a gente tivesse um grande ato no centro de Salvador”, conclui.

Na capital paraense, como uma das manifestações em celebração ao Dia da Consciência Negra aconteceu o “Encontro de Negras e Negros do Pará (ENNPA) – Identidades negras, combate, enfrentamento e superação do racismo”, entre os dias 17 a 19 de novembro, organizado pelo Centro de Estudo e Defesa pelo Negro no Pará (Cedenpa).

O evento foi realizado no Centro Cultural Tancredo Neves (Centur) e contou com feira de produtos de empreendedoras negras e empreendedores negros, exposição de artistas negras e negros, oficinas e plenárias. Os debates abordaram temas como o extermínio da juventude negra, a estética, a identidade, a religiosidade e a saúde. No dia 20, uma roda de negritude, com apresentação de artistas locais, encerrou o encontro, no Quilombo da República, localizado na Praça da República, em Belém.

E, integrando a agenda nacional, a marcha “Um milhão de negras e negros nas ruas contra o golpe” ocorreu em Belém, no dia 18. Segundo Arthur Leandro, integrante da Rede Amazônica de Matriz Africana (Reata), a data foi escolhida para que lideranças do povo tradicional de matriz africana pudessem participar, visto que a sexta-feira é um dia mais tranquilo nos terreiros. se comparado aos outros dias.

Em São Paulo (SP), a XIII Marcha da Consciência Negra foi realizada no domingo (20), a partir das 11h no Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista. Na sexta (18), em comemoração a um ano da Marcha das Mulheres Negras, o coletivo impulsor da atividade no estado paulista organizou uma maratona de 12h de debates online. As entrevistas e debates estão disponíveis na página do coletivo de São Paulo da Marcha das Mulheres Negras.

Genocídio

Arthur Leandro, da Reata no Pará, afirma que várias organizações do movimento negro, coletivos de mulheres e juventude negra participaram da marcha em Belém afirmando o combate ao genocídio da população negra. Este ano, seis líderes afro-religiosos foram assassinados na região metropolitana da capital paraense, e neste mês é lembrado os dois anos da “Chacina de Belém”, nome pelo qual ficou conhecido o assassinato de onze jovens, todos moravam na periferia da cidade. “O Pará é um dos estados com maior índice de violência contra a juventude negra”, indica Leandro.

O “Mapa da Violência 2016: homicídios por armas de fogo no Brasil”, estudo que pesquisa a evolução de mortes causadas por armas de fogo, no período de 1980 a 2014, apontou que as maiores vítimas deste tipo de violência são homens jovens e negros. Segundo os dados do estudo, entre 2003 e 2014, as taxa de homicídios por arma de fogo na população branca diminuiu 26,1%, enquanto que na população negra aumentou 46,9%. No ano de 2003, morriam 71,7% mais negros do que brancos; em 2014, esse número saltou para 158,9%. Este é um dado que o próprio estudo chama de “perversa e preocupante” “seletividade racial”, ou seja, morrem 2,6 vezes mais negros do que brancos no país.

Fonte: MST.

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