Armênia: O Genocídio da primeira nação inteiramente cristã

Arshile Gorky, “El Artista y su Madre,” 1926-36
Arshile Gorky, “El Artista y su Madre,” 1926-36

Por Antônio Henrique Campolina Martins.

O Genocídio Armênio de 1915 é, sem dúvida alguma, um dos maiores escândalos do século XX. Um Povo, portador de uma cultura milenar, documentada por monumentos preciosíssimos, de uma religião tradicional, de língua própria, de uma literatura  mundialmente reconhecida, em suma de uma tradição riquíssima, um Povo cuja identidade é atestada em Documentos de autoridade indiscutida, um Povo bíblico, foi cruelmente massacrado; as cidades da Armênia Ocidental foram todas saqueadas; os lares destruídos pela espada impiedosa de usurpadores. A ordem era o aniquilamento total, amplo e irrestrito dos infiéis através de deportações e de chacinas sucessivas a partir de 1895, com o Grande Massacre, passando pela Carnificina Selvagem de Adana, comandada pelos Jovens Turcos traidores (1909), culminando no Genocídio Sistemático de 1915, que provocou a indignação do mundo inteiro, e nas chacinas da região de Esmirna, sofridas também pelos Gregos (1921-1923). A partir de então, um grupo político-intelectual com base na Turquia e internacionalmente representado vem sistematicamente negando a existência destes fatos, através de uma propaganda mordaz e irreal, propaganda esta que não só minimiza a barbárie cometida contra os Armênios, mas manipula, através da distorção dos acontecimentos, a verdade sobre um dos maiores conflitos do século XX. Para este grupo, os documentos que atestam o Genocídio não passam de um mito, criado pelos Armênios, com o fim de reivindicar territórios e indenizações. A tese do grupo é claríssima: não houve Genocídio e, portanto, não há lugar para reivindicações, nem mesmo morais. Tudo não passa de propaganda Armênia, de pressão psicossociológica junto aos governos inimigos da República Turca.

Ora, os historiadores são unânimes no que se refere ao número das perdas e dos prejuízos ocorridos entre 1915 e 1920. Só durante esta época podemos afirmar que 1.500.000 Armênios forma mortos. Dentre eles encontram-se intelectuais, escritores, poetas, redatores, professores, diretores de escolas; 2500 cidades foram cruelmente saqueadas, 4000 igrejas e capelas foram destruídas ou danificadas e destinadas a outras finalidades. 203 mosteiros foram secularizados assim como cerca de 30.000 manuscritos perdidos ou queimados. A Igreja Apostólica Armênia perdeu 3.000 presbíteros e 50 bispos e arcebispos. Os Dignitários, depois de torturados, foram submersos em petróleo e queimados vivos. Vê-se, pois, de modo patente, que durante estes cinco anos, durante o Genocídio,
as perdas foram enormes e os números aqui mencionados são com segurança internacionalmente reconhecidos. O que se poderia acrescentar em termos de perdas humanas e de prejuízos, de danos materiais e morais quando se sabe que desde 1890 até 1923 a repressão, os massacres, as deportações foram efetuadas de modo quase contínuo e, em períodos determinados, com a ênfase total de uma vontade de extermínio brutal. A pouca importância que este grupo outorga ao Tratado de Paz de Sèvres, firmado em 10 de agosto de 1920 entre as principais Potências Aliadas, contendo seis artigos relativos à Armênia (secção VI, artigos 88 a 93), onde as potências aliadas declaram reconhecer a Armênia como Estado livre e independente, e a relevância com que o mesmo grupo divulga,
pormenorizadamente, a Conferência de Lausanne, onde no início, os representantes Armênios não foram admitidos e onde não houve sequer satisfações para as suas reivindicações, mostram a continuidade desta posição se inserindo na tradição de intransigência prepotente do Império Otomano.

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Revista Ética e Filosofia Política Revista do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Juiz de Fora. www.eticaefilosofia.ufjf.br

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