Anticapitalistas personificam as consequências da crise

EFE

Nice: ‘Só ditaduras são capazes de defender interesses do FMI, Banco Mundial e países imperialistas’

Os cerca de dois mil participantes do Fórum dos Povos, o Contra-G20, se reúnem desde a terça-feira (01/11) nos antigos abatedouros da cidade de Nice, no sul da França. Paralelo ao encontro das 20 maiores economias mundiais, que começa esta quinta-feira (03/11), o movimento pretende ser a voz daqueles que não foram convidados para as reuniões em Cannes, luxuoso balneário francês.

“Estamos acampados aqui há cinco dias e vamos ficar até o final da semana”, afirma um catalão de 28 anos que se apresentou como “Jack Sparrow”, militante do movimento espanhol “Indignados”. Setenta deles vieram de Barcelona. “Se não tivesse esperança, estaria na minha casa. Ou melhor, na da minha mãe ou da minha namorada, porque eu não tenho casa, nem trabalho, há um ano e meio.”

Os alvos da cúpula paralela são claros, assim como as demandas contra o atual sistema financeiro

“Somos pró-sistema, mas anticapitalistas, apartidários, e sem conexão sindical”, explica. O movimento gostaria de ocupar também as praças de Nice, mas parece não estar totalmente de acordo com o sistema de mobilização francês. “A representação da organização do evento é muito restrita, alguns grupos atuam de maneira completamente inversa, são verticais e partidários”, afirma, denunciando que o Contra-G20 segue unicamente uma programação de ação já negociada e validada com a prefeitura e a polícia da cidade.

Apesar de em menor número, representantes de coletivos internacionais se deslocaram para o fórum alternativo, entre eles os norte-americanos do Occupy Wall Street e os ingleses do Coalition of Resistance. “É uma epidemia revolucionária. Se ela atingir um país da União Europeia, ela atingirá todos os outros”, aposta Alaa Talbi (FOTO ABAIXO), tunisiano integrante do Fórum Tunisiano para os Direitos Econômicos e Sociais e do Fórum Social Magrebino.

“Há um respeito generalizado. Me dizem que somos o modelo a ser seguido. O povo derrubando um regime, como aconteceu na Tunísia, deve continuar no mundo todo”, diz. “Nós denunciamos o sistema financeiro, que ameaça a democracia. Só ditaduras são capazes de defender os interesses do FMI [Fundo Monetário Internacional), do Banco Mundial e dos países imperialistas, ao invés dos direitos do povo”, analisa Talbi.

Na terça-feira, dia da abertura do Fórum, cerca de 10 mil manifestantes desfilaram pacificamente pelas ruas de Nice, acompanhados de perto por 1,5 mil policiais.

Fora da zona do euro

“É importante se encontrar em um momento em que todos os líderes mundiais tentam decidir por nós, sem nossa presença”, protesta a grega Anastasia Theodorayopoulou, membro do Partido Europeu de Esquerda, congregação que reúne cerca de 30 partidos e atualmente é liderada pelo presidente do Partido Comunista francês.

Para ela, fazer parte de eventos como esse é cada vez mais difícil. “Muitos queriam estar aqui, mas não há dinheiro para o transporte”, diz a militante, que participou da organização das manifestações e greves em seu país natal.

Na terça-feira, o primeiro-ministro grego, Giorgos Papandreou, sugeriu a realização de um referendo para a aceitação ou não do pacote de resgate da União Europeia, atualmente no quinto lote. O presidente francês, Nicolas Sarkozy e a chanceler alemã, Angela Merkel, mostraram irritação com o anúncio e insinuaram que a Grécia pode sair da zona do euro.

“Eles sabem muito bem que não há processo que possa obrigar a Grécia a sair, por enquanto”, garante Theodorayopoulou. “Em princípio, o referendo é democrático, e devíamos estar contentes, mas consideramos esse governo ilegal. Ele foi eleito com um programa de governo totalmente diferente do que está sendo implantado e quer se legitimar através do referendo e não convocar eleições antecipadas”, explica.

“O problema não é a Grécia, é a política neoliberal. Hoje somos nós, amanhã será a Itália, a Espanha ou Portugal”, conclui.

Fonte: Operamundi

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