Ana de Hollanda ou Ativistas do Inferno


PorJair A Alves*

Ana de Hollanda, o fenômeno ou Ativistas do Inferno

Depois da Presidenta, Dilma Rousselff, é muito difícil encontrar na mídia impressa ou eletrônica algum agente do Governo Federal com mais destaque do que a ministra, Ana de Hollanda. Essa freqüente visibilidade poderia ser considerada extraordinária e incompreensível, mas, em verdade, é o disfarce de uma certa decepção branca vivida pela oposição e, ao mesmo tempo, pelos grupos autodenominados “ativistas” que esperavam um início de governo Dilma “mais à esquerda”, irresponsável de preferência. Sabiamente a sucessora de Lula no comando preferiu trabalhar dentro do espaço restrito do Palácio do Planalto, sem alardes, principalmente nos primeiros trinta dias. Veio a público excepcionalmente quando uma situação emergencial pediu, foi o caso do desastre ambiental na região serrana fluminense e, mais recentemente, acompanhando o ex-presidente a Portugal, e também há dois dias atrás, na nesta terrível tragédia do bairro de Realengo zona oeste do Rio de Janeiro.

Entre dezembro e janeiro saiu de cena o grupo de transição e entrou uma nova equipe de trabalho, destacando-se a presença dos ministros da Fazenda, Casa Civil e Planejamento. Nem os badalados Ministérios da Saúde, Educação e Justiça tiraram o brilho desse triunvirato. E onde entra, Ana de Hollanda? Após o Baile de Reveillon era preciso desmontar o palco e cuidar da produção; a vida segue o seu rumo. Sem um governo com atos que provocasse frisson no noticiário, diário, aqueles que não foram convidados para o baile escolheram a parte que consideram fraca do seu adversário, e partiram pra cima. Sem nenhum exagero e pela última vez é possível usar o bordão do ex-presidente, “nunca na história desse país” uma mulher apanhou tanto em público, diante dos olhos incrédulos de quem ainda não está entendo direito o que se passa.

Nessa trágica semana, a dobradinha da direita e a turma “dos mais à esquerda” protagonizaram um capitulo patético. O jornal O Globo fez uma matéria sobre a visita da Ministra ao Senado num tom absolutamente, conservador, preconceituoso e tendencioso. Este transformou a visita protocolar de Ana de Hollanda um pastiche, como se a Cultura no Brasil se resumisse à questão dos DA. A matéria parece ter sido produzida, pela Assessoria de Imprensa da Fundação Getulio Vargas (FGV).  No dia seguinte, um dos blogs mais críticos a Ana de Hollanda reuniu todos os expoentes dos autodenominados “ativistas”, com a desculpa de comentar a matéria classificando mais uma vez a ministra como uma tremenda “reaça”. Seria cômico, se não fosse trágico. No dia da visita ao Senado, um senador da oposição, desde já candidato ao Planalto em 2014, assimila o tom Pit Bull e também parte aleatoriamente para o ataque, não só em relação ao governo atual, mas a toda a trajetória de Lula no Planalto. Da próxima vez, o senador, os blogs e a assessoria da FGV, contra Ana de Hollanda, precisam combinar melhor porque isso pode virar uma farsa sem disfarce, principalmente quando um trágico episódio como o de Realengo tenha anulado mais uma tentativa de ganhar visibilidade, no grito. De novo me lembrei do compositor, “alo, alo, Realengo, aquele abraço!” (*).

Mas, por que durante esses quase cem dias vestiram Ana de Hollanda, de Geni? Porque o que menos importa para os “ativistas”, é a Cultura e a Civilização; elas que se danem, ou não; já dizia o compositor e “super Ministro” lembrado, acima. O encontro entre os integrantes do MINC e as figurinhas da dessa onda Digital que deixa claro a que vieram. Todo o encontro foi gravado, e está disponível na Internet. Mas, isso não é tudo, semanas antes lhes foi perguntado a eles por que se consideravam integrantes da Produção Cultural e qual o seu peso, em relação a outros setores da produção? A isso eles nunca responderam, até porque efetivamente nada têm a ver com a Cultura, salvo com o espaço político que pretendem ocupar de forma agressiva e sem concessões. Ora falam em nome de autores de obras que não criaram, ora falam em nome de um público consumidor que desconhecem, ora falam de uma literatura que nunca produziram. O movimento abriga até, inclusive, um advogado de Direito ao Consumidor. Enquanto isso, a grande maioria dos Artistas, Estudiosos da Cultura e administradores da Área, arredios e cansados de discussões, histéricas e ainda atordoados, tentam entender o fenômeno midiático, Ana de Hollanda. Não há fenômeno, o que existe de fato é:

– Um ensaio geral, na tentativa de um Golpe De Direita ou de Esquerda; tanto faz. O resultado seria o mesmo; lamentável;

– Um atentado contra o Estado brasileiro, um abuso inconcebível contra a escolha de uma Presidenta eleita, legitimamente, há menos de seis meses. Tudo o que desejavam é que Dilma enveredasse pela ilegalidade, mas essa deu o “drible da vaca”, como seu diz no futebol, ou “vendeu o número”, como dizem os malabaristas: saiu “discosta”, acenando para a torcida;

– A proliferação de falastrões, sem o menor compromisso com a Arte e a Cultura brasileira e que, apesar de nenhuma autoridade, conclamam o Partido dos Trabalhadores a se revoltar e a “tomar uma atitude”. Alguns, como profetas de feira livre, vociferam sem sequer serem membros desse partido; a maioria pertence ao eixo, PV / Pc PCdoB. Apelar para herança, contraditória ou não, de um partido de origens populares, que fez e está fazendo história é, no mínimo, um insulto à inteligência de pessoas que entregaram a sua vida profissional à democratização do Brasil. Por outro lado, os seus dirigentes precisam tomar cuidado para não permitir o surgimento de um outro caso, Celso Daniel, enigmático e ainda insolúvel. Ana de Hollanda é uma vitima, e não ré, dessa “patrulha”.

Essa gritaria farsesca,  é um deboche contra milhares de Artístas que sofrem décadas a fio, a espera de um melhor aparelhamento do Estado para atender atividades complexas e indispensáveis para a formação da Identidade Nacional. Por fim, resta dizer que após o término de sua gestão, Ana de Hollanda voltará como sempre à sua atividade profissional, gravando seus sambas e falando com os seus amigos pelo telefone. Talvez, o fato de ela ser tão normal e desprendida de interesses que não seja o artístico e ligados à Cultura Brasileira, tenha assustado tanto a esses “ativistas”.

 

*Dramaturgo e ator.

 

(*) O compositor Gilberto Gil esteve preso pela Ditadura Militar no Presídio Realengo no ano de 1969, pouco antes de partir para o exílio.

 

 

 

 

Imagem: mg1.com.br

 

 

 

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