Ainda não chegamos ao fundo do poço

Foto: Pexels

Por Elissandro Santana, para Desacato. info.

Antes do golpe político-jurídico-midiático já nos encontrávamos imersos em confusão política, pois sempre estivemos sob o manto da alienação projetada pelos donos do poder, mas durante os episódios que antecederam o impeachment, houve uma intensificação da maldade e da idiotização em grau mais avançado. Para isso, a mídia empresarial entrou em cena e confundiu até mentes mais sadias e humanitárias da nação brasileira despertando o conservadorismo e o reacionarismo implantado pelos colonizadores em nossas consciências coletivas desde os primeiros processos de formação de nossa nacionalidade. O fato é que em meio a todos os acontecimentos e ficcionalidades operadas no país, ficamos todos atordoados diante do ódio fomentado pela mídia empresarial a serviço da elite colonial e não percebemos que algo maior estava sendo gestado: a materialização do mal disfarçada de ética e moral.

Ao discorrer sobre as faces do mal, não me refiro ao Legislativo, pois este representa o próprio mal há anos, mas à mídia golpista e ao judiciário. Com relação à mídia, esta se perdeu no meio do caminho, já que não conseguiu projetar nenhum candidato e agora, se passando por democrática, segue a desgraça e se coloca como isenta diante da possibilidade de que chegue ao poder um fascista que odeia mulheres, negros, indígenas, LGBTS e outras minorias. No que concerne ao judiciário, ele operou em duas frentes de maldades, no mínimo, às vezes, se omitindo e em outras ocasiões rasgando a Constituição julgando de forma partidária e panfletada.

A mídia e o judiciário são os grandes responsáveis pelo quadro no qual estamos e pelo que virá após as eleições. São os pais dos filhos do ódio que estão tomando corpo a partir de facetas múltiplas de aversão à diferença e busca desesperada pela vitória de uma representação do atraso para o executivo para completar a roda de horrores que há anos é realidade no Legislativo.

No bojo dessa confusão, todo o aparato serviente à elite da dependência e apologista do atraso – políticos (do Legislativo e do próprio Executivo a partir dos dráculas em forma de vices), judiciário partidário corrompido e fazendo com que acreditemos na justiça brasileira que, historicamente, sempre condenou os pobres e livrou a cara dos ricos (e quando falo de ricos, direciono-me aos verdadeiros donos do capital, isto é, aos capitalistas, e não àqueles que, por mais que ganhem bem, não são detentores de nada e de nenhum poder, ainda que, muitas vezes, se encontrem sob a égide da ilusão se achando poderosos.) e mídia tradicional conservadora, os oprimidos, nós, sem que nos déssemos conta, compramos e recopilamos o projeto do opressor e fomos às ruas vociferar o ódio no “Fora Dilma” ou no “Lula na cadeia” sem que compreendêssemos que nestes gritos existiam concretudes latentes de nossa ignorância, pois o ódio nunca foi contra Dilma ou Lula, mas contra todos nós minorias exploradas. Digo tudo isso, pois a elite sempre odiou os pobres e a história está aí para corroborar isso, basta que abramos bem os olhos ou quaisquer outros sentidos para vermos o que se esconde por trás desse grande palco montado pela elite brasileira tacanha.

Em meio ao ódio, não nos demos conta de que as artimanhas do Legislativo, do submundo do Executivo e do Judiciário com o aval do quarto poder, ou seja, a mídia tradicional, que, na verdade, funciona como primeiro poder, pois é ela quem idiotiza a nação e cumpre o papel central na desestabilização de todo o país a partir da lavagem cerebral que opera todos os dias nos telejornais editoriais disfarçados de jornalismo fatual informativo, nos programas de auditório de animação, mas que também se colocam como espaços de difusão de análises políticas para a alienação total das massas e até pelas produções cinematográficas em forma de panfleto elogiando os não doutos juristas da manipulação e condenando aqueles com os quais não se identificam ou não servem às elites. O ódio como projeto foi e é a maior arma da elite da dependência e tudo isso graças a toda a aparelhagem público-privada, estatal, sempre a serviço dela e para ela.

Idiotizados, não percebemos que fomos enganados e ainda saímos às ruas exigindo fora esse ou aquele, a partir de gritos cíclicos que demonstram que em pleno século XXI ainda não amadurecemos politicamente e que, pelo jeito, não amadureceremos tão cedo.

Elissandro SantanaElissandro Santana é professor da Faculdade Nossa Senhora de Lourdes e do Evolução Centro Educacional, membro do Grupo de Estudos da Teoria da Dependência – GETD, coordenado pela Professora Doutora Luisa Maria Nunes de Moura e Silva, revisor da Revista Latinoamérica, membro do Conselho Editorial da Revista Letrando, colunista da área socioambiental, latino-americanicista e tradutor do Portal Desacato.

2 COMENTÁRIOS

  1. Vamos chegar se a esquerda, os socialistas e comunistas voltarem ao poder. Aí sim, fundo do poço, vide Venezuela.

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