Acerca dos resultados das eleições gregas

Por Aleka Papariga*.

“Os resultados da eleição mostram definitivamente uma reversão do cenário político que nos é familiar, a interrupção da rotação dos dois partidos, PASOK e ND. Estamos a mover-nos para uma fase transicional onde haverá uma tentativa de criar um novo cenário político com novas formações, novas figuras com uma orientação de centro-direita ou baseada numa nova social-democracia que terá o SYRIZA como núcleo, destinada a impedir a ascensão do radicalismo do povo que levaria as coisas rumo a um verdadeiro derrube [da reação] em favor do povo. Haverá uma tentativa de formar um governo ou a partir destas eleições ou de eleições a seguir, um governo composto por todos os partidos, ou um governo de unidade nacional, ou uma coligação governamental destinada precisamente a impedir a criação de uma maioria que lute pela mudança.

Dirigimo-nos aos membros do partido, aos membros do KNE, aos amigos, aos apoiantes, aos eleitores, às pessoas que cooperam com o partido, a todos que têm estado conosco na linha de frente do movimento e na batalha eleitoral e apelamos a estarem na linha de frente das lutas nos próximos dias porque temos questões sérias e prementes que estão em andamento, tais como acordos de negociação coletiva, a proteção dos desempregados, a bancarrota dos fundos de segurança social, as novas medidas que montam a 11,5-13,5 mil milhões de euros as quais serão pagas a partir dos bolsos do povo. Não podemos desperdiçar qualquer tempo. O povo não deve desperdiçar tempo.

Urgimos os eleitores do PASOK e da ND em particular, aqueles que pertencem à classe trabalhadora e aos outros estratos populares, a estarem também na linha de frente, juntamente conosco e outros militantes, nas lutas, nos lugares de trabalho, nas escolas e universidades, nos bairros populares. São eles que têm de proporcionar um novo momento e um carácter de massa à luta. Apelamos ao povo para que não se deixe enganar pela tentativa de disfarçar o sistema político que se verificará nos dias e meses a seguir. Os resultados das eleições, apesar do facto de que os votos foram dispersos em ambas as direções, direita e esquerda, objetivamente demonstram uma tendência positiva: que mudanças radicais estão a amadurecer ou amadurecerão na consciência das pessoas, que o movimento do derrube real amadurecerá e que este movimento não estará distante longe, ou melhor ainda, não estará em oposição à proposta política do KKE sobre os problemas imediatos, para o poder dos trabalhadores e do povo.

Consideramos significativo, positivo e ao mesmo tempo um grande legado para o próximo período o facto de que confrontámos as forças pró europeias e pró UE na sua totalidade, sem considerar as posições que elas tomar em relação ao memorando, o facto de que combatemos a fim de promover a nossa própria proposta alternativa a qual responde e satisfaz os interesses do povo. Consideramos que esta proposta constitui um legado significativo para o povo e naturalmente acrescentará um novo impulso às lutas do povo. Sentimos que as nossas responsabilidades e o nosso papel em relação ao povo e seus problemas devem ser fortalecidos e acreditamos, de facto estamos certos, continuaremos a ser a força insubstituível que defende os interesses do povo.

A respeito do resultado eleitoral do KKE: naturalmente o CC emitirá uma avaliação abrangente depois de estudar os resultados como um todo e as tendências do eleitorado em cada região de modo a extrair conclusões mais completas. Mas podemos dizer que o KKE literalmente ultrapassou obstáculos em ambos os lados. Por um lado havia a cólera, os protestos, a indignação que eram absolutamente justificados mas que era principalmente sem foco e por outro lado houve as ilusões. Como mostram os resultados neste ponto o KKE teve um pequeno aumento. Naturalmente que teríamos gostado de um maior. No entanto, tenho a dizer que o CC e o partido como um todo não têm ilusões de que os votos do KKE pudessem aumentar exponencialmente porque o desempenho do KKE nas eleições é acima de tudo relacionado com a formação não só de um movimento militante do povo como também da formação de uma maioria poderosa que esteja emancipada dos dilemas bem conhecidos assim como das ilusões regeneradas.

O KKE tornou público no momento certo, antes das eleições e sem qualquer hesitação, que tipo de posição tomará em relação a qualquer governo que emerja das eleições, centro-direita, centro-esquerda ou “esquerda” seja ele servido como um governo de unidade nacional ou como um governo de todos os partidos como está a ser discutido exatamente agora.

Clarificamos a nossa posição: naturalmente estamos certos de que nem o PASOK nem a ND nos proporão cooperação. Eles estão muito bem conscientes das profundas diferenças entre nós. Mas gostaríamos de responder mais uma vez à proposta do SYRIZA repetida após as eleições referente a um governo da esquerda. Responderemos claramente sem recorrer àquilo que todos nós podemos ver, nomeadamente que os votos e cadeiras nõ são suficientes. Talvez o SYRIZA pense que são suficientes, pois tentarão obter apoio e votos dos deputados de todos os outros partidos. Clarificamos a nossa posição: continuamos a dizer não à cooperação porque na análise final não chegámos a esta posição de não de acordo com as nossas expectativas altas ou baixas a respeito dos resultados das eleições.

Ouvimos que o presidente do SYRIZA pedirá uma reunião e que eles querem manter discussões privadas acerca do programa da coligação de governo. Logicamente quem fez uma proposta para uma coligação governamental deveria ter dito em pormenor antes das eleições o que farão em Junho, em Julho, em relação a questões concretas etc. ao invés de slogans gerais e denúncias gerais do memorando. Ou pelo menos elas deveriam ter estado prontas agora. O que querem eles exatamente? Temos ouvido apenas acerca de algumas concessões que podem ser asseguradas ou coisas semelhantes.

No entanto um governo, sem considerar a sua composição, deve tratar de todo o espectro dos problemas. Ele não deveria simplesmente denunciar o memorando mas devolver ao povo os ganhos que foram abolidos antes do memorando – porque a maior parte dos ganhos foi abolida antes do memorando – bem como todos os muitos outros que foram abolidos após o memorando. Um governo tem de administrar tudo e não meramente os benefícios de desemprego, como foi mencionado. Ele tem de administrar questões de economia, a postura dos grupos de negócios para com o povo trabalhador, a lista das privatizações adoptadas nos anos anteriores. Ele tem de lidar questões de política externa tais como os compromissos gerais que decorrem da UE, NATO, da aliança estratégica com os EUA. Não há governo que divida os acordos em pedaços, políticas abstratas e promova apenas o pacote de medidas do dia seguinte.

A fim de concordar com um tal governo o KKE precisa fazer uma meia-volta completa, um salto mortal e não simplesmente um pequeno recuo, uma pequena viragem. Ele deve fazer uma mudança completa. E acima de tudo teria de fazer compromissos inaceitáveis que nada têm a ver com os interesses do povo. Talvez o povo não esteja interessado na pureza ideológica dos vários partidos, mas um partido que em todos estes anos, desde o próprio momento inicial da sua fundação, tem estado na linha de frente da luta não quer abandonar esta posição a fim de ganhar alguns ministérios. O povo não precisa desta espécie de KKE”.

Atenas, 06/Maio/2012
O Gabinete de Imprensa do CC do KKE

* Secretária-geral do CC do KKE.

 
O original encontra-se em http://inter.kke.gr/News/news2012/2012-05-07-ekloges

Fonte: http://resistir.info/ .

Foto: http://www.rtp.pt. “As pessoas estão sofrendo.”

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