Ação em defesa das águas e da vida reúne povos indígenas e comunidades tradicionais em Araguaína (TO)

Com o tema Águas do Cerrado, Casa Comum: Nossa Responsabilidade, foi realizado no último 22 de março de 2016 na Praça da Bandeira na cidade de Araguaína (TO), ação ecumênica para celebrar o Dia Internacional da Água. O ato foi uma realização das Pastorais Sociais, Universidade Federal do Tocantins (UFT) e Diocese de Tocantinópolis (TO). Ao menos 450 pessoas participaram das palestras, apresentação de trabalho escolar, amostra de documentários, comercialização de produtos da agricultura familiar, venda de livros e distribuição (gratuita) de jornais e revistas.

Na ocasião, representantes dos povos Apinajé, Krahô e Karajá Xambioá, Ribeirinhos, Quilombolas, Trabalhadores Rurais, Estudantes e Professores manifestaram suas angústias e preocupações com a violenta destruição do Bioma Cerrado para produção de grãos para exportação. As lideranças denunciaram que as atividades promovidas pelo agronegócio estão provocando fome, sede, escravidão, expulsão de trabalhadores rurais e agravando os conflitos no campo.

Os povos repudiaram a implantação do Programa MATOPIBA na região que abrange os Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia (saiba mais). Este megaprojeto é uma imposição violenta das grandes empresas para sufocar os pequenos agricultores familiares, povos indígenas e populações quilombolas e conta com vultosos recursos do Governo Federal. Enquanto isso, as aldeias indígenas e as comunidades camponesas não recebem sequer a visita de um técnico da EMATER ou do RURATINS para acompanhar e dar orientações a quem produz para alimentar a população do campo e da cidade.

“Se o campo não planta a cidade não come”. Os camponeses ressaltaram que 70% dos produtos que alimentam as cidades vem da Agricultura Familiar e destacaram a diversidade e a qualidade dos produtos orgânicos produzidos. Os trabalhadores organizaram uma pequena feira com diversas espécies de macaxeiras, abóboras, milho verde, bananas, feijão e outros produtos trazidos da roça e colocados à venda no local. Essa iniciativa serviu também como intercâmbio e troca de experiências, produtos e sementes.

Em depoimentos, os participantes alertaram que se o Cerrado não for protegido em breve não teremos mais águas limpas para beber e banhar. O fato é que centenas de nascentes e mananciais hídricos estão comprometidos e ameaçados pelo desmatamento para implantação de carvoarias e plantio de eucalipto, soja, milho e cana. No entorno das T.Is. Apinajé e Karajá Xambioá algumas nascentes já estão secas (leia aqui o manifesto dos povos do Cerrado no Dia Mundial da Água).

Na realidade, estamos assistindo essa classe política desacreditada e corrupta implantar e consolidar às custas de vidas humanas a barbárie e a tirania do latifúndio no campo brasileiro. Nessa conjuntura difícil para evitar a extinção do Cerrado, a morte dos rios, o massacre dos camponeses e o genocídio dos povos indígenas temos que nos unir, lutar e resistir. Não podemos permitir que a anarquia, o retrocesso, a corrupção e a desordem social tomem conta do Brasil novamente.

Sabemos também que essa classe política sempre esteve a serviço de grandes empresas do agronegócio como Monsanto, Basf, Bayer, Bunge, Dow, Dupont e Syngenta. Essas empresas que sempre dominaram a fabricação e o comércio de sementes transgênicas, de venenos, (pesticidas) e adubos químicos em todo o Mundo e agora estão invadindo, grilando e roubando as terras do Cerrado para o plantio e produção de grãos em larga escala. São esses políticos que inventaram o MATOPIBA e agora estão entregando o Cerrado para as transnacionais.

Por essa razão os ruralistas são inimigos declarados dos povos indígenas, das populações quilombolas e dos agricultores familiares brasileiros. Movidos pela ganancia cega e pela fome de lucros sem limites esse bando está sempre em guerra contra a natureza, não respeitam as leis e violentam os direitos das populações mais empobrecidas, desinformadas e isoladas do Brasil. A saúde da população e do meio ambiente também é coisa ignorada desrespeitada pelos ruralistas.

O evento também teve muita mística e cantorias indígenas, essa parte foi conduzida e ficou por conta do povo Krahô, que sempre anima os eventos com maracás e cantos que dialogam com a natureza trazendo sempre muita força e energia positiva para nossos encontros e reuniões. Seja nas praças, nas ruas, nas escolas, nos sindicatos, nas aldeias, nas cidades ou nas estradas, esperamos em breve nos encontrar novamente na luta em Defesa das Águas e da Vida em todas as suas dimensões.

fotos: Antônio Veríssimo

Terra Indígena Apinajé, 29 de março de 2016
Associação União das Aldeias Apinajé-Pempxà

Fonte: CIMI

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