Acampamento Marcelino Chiarello: Nós temos a boa nova para anunciar

Por Claudia Weinman, para Desacato. Info. 

Aos poucos, com o trabalho e a unidade das famílias, o Acampamento Marcelino Chiarello, agora estabelecido em linha Vargem Bonita, interior do município de Xanxerê-SC, vai ganhando vida. A produção já começou a ser organizada. Saúde, educação, alimento, terra para plantar, tudo isso também está sendo encaminhado e a boa nova começa a ser anunciada.

Uma família, de mãos calejadas do trabalho no acampamento, encontrou-se com esta reportagem para contar sobre a vida que por ali está sendo fortalecida. Uma roda de prosa foi feita, e histórias, dessas, que a gente sentaria dias para ouvir, foram contadas. Mesmo na dificuldade, um companheiro e outro, arriscava brincar com o que percebem quanto a reação das pessoas para com quem sai do acampamento usando um boné do movimento, ou quando passam na rua, com a roupa carregada daquela fumaça que o vento empurra bem para o lado do varal. O humor é parte de uma luta histórica de quem sonha em ter de volta, tudo aquilo que o Capital tomou do seio da terra, das mãos dos/as trabalhadores/as.

A empresa, que ocupava a área onde agora as famílias colocaram suas bandeiras e estão firmando sua identidade, estava inadimplente há mais de 30 anos. Ao contrário do que diz a mídia tradicional, não houve invasão, mas a retomada de uma área do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). E agora, os sonhos vão encontrando-se, de barraco a barraco que foi erguido, outros que ainda estão para serem construídos.

As mulheres pensam também em organizarem-se dentro do acampamento, com um grupo de estudo, formação, para dialogarem, trocarem saberes. “A gente sofre, mas é a conquista do nosso sonho. Precisa batalhar para conquistar, ter tua verdura, fazer teu lugarzinho, a casa como a gente quer né”, disse uma delas.

Na reunião com o prefeito do município de Xanxerê nos últimos dias, foram solicitadas lonas, mangueiras, atendimento médico, kit de primeiros socorros. A boa nova, é de que esses serviços estão sendo disponibilizados e encaminhados. Uma escola itinerante passará a funcionar dentro do acampamento para atender a demanda de mais de 50 crianças que hoje estão lá. Hortas medicinais também estão sendo organizadas. “A gente quer fazer um barraco, para os Padres virem e rezarem uma missa, isso ajuda o povo, queremos organizar a catequese também”, relatou um dos companheiros do acampamento.

O que a gente não quer, é ser escravo

A vida que o povo sonha, tem muita riqueza. Tem fruto colhido do pé e plantado por quem sabe como está fazendo isso. Entende que a terra é mãe e por isso, cuida dela para mantê-la viva. “É a gente poder organizar a terra, poder plantar, comer da sua produção, construir casas. Para não ser escravo. A gente sempre era muito discriminado e julgado. Quer ter saúde, vontade de estudar a gente sempre teve, mas não tinha dinheiro. As mãos estão calejadas de tanto trabalhar”, falou um dos companheiros do movimento.

E assim vai se construindo o sonhado assentamento Marcelino Chiarello. O sonho de muitos/as está ali, naquele chão pronto para ser cuidado. É sofrido sim, muitos dias foram frios no acampamento, alguma comida faltou, dessas do final de tarde, que a gente tem vontade de comer muitas vezes. Mas o sonho, há…esse é maior…e quem acredita nele, não abre mão, resiste, com coragem e a solidariedade de todos/as nós.

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