A vida dos comerciários parece não ter importância para a classe empresarial de Canoinhas

Com um misto de tristeza e revolta, assistimos parte dos representantes da classe lojista de Canoinhas expondo por mais tempo seus trabalhadores, e por consequência seus familiares, aos riscos de infecção pelo coronavírus. Não há escrúpulos, somente a ganância guia alguns empresários. Estarão eles vivendo em Marte? Não sabem o que está acontecendo na região Oeste de Santa Catarina?

Dados amplamente divulgados na imprensa e nas redes sociais, por fontes confiáveis, dão conta de que:

  • 7.524 vidas ceifadas pelo Covid-19 em Santa Catarina até o dia 03/03/2021;
  • 94,4% dos leitos de UTIs estão ocupados em todo o estado;
  • 251 pessoas estão na fila de espera por leito de UTIs;
  • 16 pessoas morreram na fila, à espera de vaga em UTI;
  • 1 morte a cada 25 minutos foi registrada no Brasil na última semana.

Em 2020, quando imagens dos mortos por coronavírus na Itália circularam o mundo, houve uma grande comoção social. Naquele período os cientistas já apontavam para a necessidade urgente de restrições da circulação das pessoas para evitar tragédias maiores. Lá, também, alguns governantes, pressionados pelo setor econômico, num primeiro momento preservaram os lucros à custa das vidas.

“Ora, eram só vidas de trabalhadores.” “Cientistas! quem liga para eles?” pensamentos como esses colocam vidas em perigo e, por difícil que seja acreditar, há empresários que pensam assim.

Infelizmente, chegamos no Brasil a uma tragédia de proporções muito maiores àquela enfrentada pela Itália, ainda que a comoção pareça não ser a mesma. Durante este tempo de um ano, o vírus sofreu mutações e tornou-se mais eficaz para se alastrar e causar mais estragos. Falamos, hoje, em variantes que têm um poder de transmissão pelo menos 50% maior do que os vírus de há um ano.

Em Santa Catarina temos atualmente em vigência um decreto do governador que restringe a abertura do comércio nos finais de semana. A diretoria do Sindicato dos Empregados no Comércio de Canoinhas avalia esta medida como excessivamente branda diante do que estamos enfrentando. Defendemos o fechamento total de toda atividade não essencial por 14 dias, como forma de evitarmos o colapso total – não só do sistema de saúde, pois este já enfrentamos – mas de toda a sociedade, com um verdadeiro genocídio ocorrendo nas nossas cidades.

Chegamos ao ponto de assistirmos à exportação de doentes! Santa Catarina, o tal “estado de excelência”, não consegue mais atender sua população e pede socorro a outros estados. Infelizmente, veremos trabalhadores Canoinhenses morrerem no Espírito Santo ou em outros estados para onde forem levados.

Apela-se para a população para que tenham consciência, se cuidem e não transmitam o vírus. Mas que escolha tem o trabalhador? O medo de perder o emprego e o sustento de suas famílias o impele a enfrentar o risco.

Esta responsabilidade é dos governos e do setor empresarial, que precisa entender que não há saída quando o lucro vem manchado de sangue. Mortos não trabalham mais, não consomem mais, não votam mais.

A decisão dos dirigentes empresariais de Canoinhas em aumentar em duas horas o horário do comércio local é absurdo, expõe por mais tempo os trabalhadores e não causa efeito econômico nenhum. Não será por ter mais duas horas que os consumidores gastarão um dinheiro que já não têm. Mas, em tempos de pandemia, passa a ser um incentivo a mais para uma circulação absolutamente não indicada.

Se a ideia é ampliar o horário, que se diminua o número de trabalhadores por turno e se contrate mais trabalhadores. Que se restrinja o número de compradores para circularem no interior dos estabelecimentos.

É urgente um olhar social sobre o que estamos enfrentando. É preciso gerar empregos, reduzir tarifas básicas como energia, água e gás de cozinha. É imperativo poupar vidas para que haja motivo de se ter um setor econômico.

Por que os empresários não negociam com os governos estadual e federal a redução de encargos? Os bancos receberam R$ 1 trilhão como auxílio.

Por que não gestionam junto ao governo federal, que ajudaram a eleger, pela aprovação do auxílio emergencial, um recurso que movimenta as pequenas economias locais?

Não responsabilize o trabalhador! Sem representação política e sem voz, estão sendo enviados para o ‘corredor da morte’. Calados pela falta de ar, muitos jamais voltarão para casa. Depois do estrago feito, assim como no exemplo italiano, talvez só restem os pedidos de desculpas e o peso na consciência pela culpa de destruir famílias em nome do dinheiro.

A intenção do CDL e o Sindilojas Canoinhas em prorrogar o horário de atendimento nesta sexta, dia 5, e segunda-feira, 8, merece o mais vigoroso repúdio. Segue nosso apelo às esferas políticas do município para que tomem providências a fim de evitar a exposição ainda maior dos trabalhadores ao risco de contaminação.

 

Fernando José Camargo

Presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio de Canoinhas

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