Vladimir Safatle: A única saída para o Brasil é a democracia direta

“Não há a mínima possibilidade de que a esquerda vença as eleições deste ano”, previu o filósofo e professor da USP, Vladimir Safatle, em uma palestra no Campus Central da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), hoje, 14. Isso porque, o grupo que realizou o golpe contra Dilma Rousseff (PT), fará todo o necessário para não entregar o poder.

Texto e fotos: Marcelo Zapelini, para Desacato.info

Em sua opinião, a prisão do ex-presidente Lula, líder nas pesquisas, é um dos expedientes a serem utilizados, que inclui o parlamentarismo e “uma nova ditadura militar, que deixou de ser uma loucura”. A defesa que alguns generais fazem de uma intervenção militar mostra que “as forças armadas são um Estado dentro do Estado”.

Saflate reforça o risco da questão militar ao afirmar que a ditadura não foi superada pelo país. O Brasil é o único país do Conesul que não julgou os torturadores e manteve na Constituição Federal (CF) de 1988 o ideário da Defesa Nacional estabelecido na CF de 1966.

Esse momento crítico para a democracia brasileira acontece quando a Nova República, iniciada em 1986, e o Lulismo se esgotam. “O modelo chegou ao seu limite e não temos outro”.

O filósofo avaliou que o “Lulismo não foi um verdadeiro combate à pobreza: o de cima desce e o de baixo sobe. Mas a capitalização dos pobres: todos sobem”. Com isso, “voltamos ao índice de desigualdade social de 1960” .

Durante os governos petistas, os ricos continuaram a ter tributos reduzidos. Pagam a mesma alíquota do imposto de renda que a classe média alta e por bens como iates e helicópteros continuam sem pagar impostos. Se pagassem, o país poderia arrecadar R$ 5 bilhões a mais, explicou.

Sem o rompimento da acumulação de renda ociosa, a inflação corroeu o poder de compra da população. No seu exemplo, a especulação imobiliária em São Paulo elevou o preço dos imóveis em 3 vezes.

Aos treze anos de governos petistas, imperava uma profunda frustração coletiva das classes em ascensão social, que encontraram um teto. “As pessoas foram compreendendo que não iriam conseguir realizar o que elas pretendiam”.

No último ano de Dilma, aconteceram mais de duas mil greves de trabalhadores. Para Saflate, esse número indica que as mobilizações de 2013 não eram apenas de setores remediados da sociedade: “a classe média não faz greve”.

O filósofo disse que “cabia à esquerda dizer que o Brasil é ingovernável neste modelo de representatividade e não tentar operar no seu interior”. O que redundou em um golpe pois, “todos os governos populistas acabam com um golpe”.

“O populismo incorpora diversas demandas sociais contraditórias como se estivessem convergindo a um ponto”, explicou.

“O populismo, em certo tempo, entra em paralisia” devido aos interesses antagônicos. Por isso havia, no governo Lula, conflitos entre o ministério do planejamento e Banco Central, entre o Ministério da Agricultura e o do Meio Ambiente, entre o Ministério da Educação e a bancada conservadora de situação. “Lula funcionava como um negociador universal”, mas com o tempo “criou-se uma consciência de que estava gerindo a inércia”.

Agora, em sua avaliação, não há mais espaço para pactos, como vinha ocorrendo desde o governo Sarney. “Daqui para frente será um modelo de extremos”, o que exige uma reflexão sobre representatividade. Para ele, o país chegou ao “grau zero de representatividade” não apenas na política, mas na imprensa, nos movimentos sociais e nos sindicatos.

Ao mesmo tempo, vê que “existe uma energia de transformação” ainda sem ainda um caminho para onde convergir.

Saflate apontou que “o único caminho para o Brasil é a radicalização da democracia direta, fora do espectro populista”. Para que seja possível, é preciso que a democracia tenha um corpo. “Essa incorporação pode ser uma ideia, um grupo, um partido, uma linha ou um líder. As formas de incorporação são vastas e é preciso uma delas”.

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