A realidade no jornalismo sindical

MARCELA 2

Jornalistas de diversos estados presentes no 19º Curso Anual do Núcleo Piratininga de Comunicação de 20 a 24 de novembro no Rio de Janeiro divulgam carta conjunta sobre imprensa sindical e condições de trabalho. (M.C.)

Veja a íntegra do documento:

Carta aberta dos profissionais de comunicação de entidades de classe de trabalhadores

A intenção deste manifesto, que surgiu durante os debates entre os participantes do 19º Curso Anual do Núcleo Piratininga de Comunicação, ocorrido entre os dias 20 e 24 de novembro de 2013, é esclarecer sobre o funcionamento prático da imprensa sindical e das funções dos profissionais de comunicação dentro das entidades classistas.

A atividade de assessoria de comunicação desenvolvida pelos assessores de imprensa é, efetivamente, uma função jornalística, além de ser uma área estratégica na política da entidade sindical.

Entretanto, a aplicação deste setor nos sindicatos tem resultado na exigência de uma multifuncionalidade dos profissionais de comunicação, gerando a sobrecarga de trabalho. Portanto, é preciso deixar claras  as funções exercidas.

O jornalista que atua em assessoria de comunicação entrevista, pesquisa, escreve, edita, identifica notícias factuais, sugere, fotografa, atualiza sites, monta boletins digitais, gerencia redes sociais  , diagrama publicações, cria materiais audiovisuais (redação de roteiros e entrevistas), escreve releases, sugere pautas, faz relacionamento com os veículos de comunicação, organiza coletivas de imprensa, entre outros, o que tem nos tornado profissionais superatarefados.

Criação de materiais gráficos e artes para redes digitais não é função de jornalista. Quem faz isso são publicitários. Não temos, em nossa formação, cadeiras voltadas para tal. No entanto, o desenvolvimento desses materiais nos tem sido cobrado.

Hoje muito se fala em conhecimento compartilhado e criação coletiva. Há anos se discute – e em muitos espaços já está implantado – o conceito de comunicação integrada, que consiste no conjunto articulado de esforços, ações, estratégias e produtos de comunicação, planejados e desenvolvidos por profissionais de comunicação de diferentes áreas, com o objetivo de agregar valor à marca (sim, o sindicato é também uma marca e vai ou não ter fidelidade e reputação) ou de consolidar sua imagem junto a públicos específicos ou à sociedade como um todo. A comunicação integrada é ideal para gerar as ferramentas para atingir um ambiente harmonioso, cooperativo e coeso, em torno de objetivos e de valores comuns.

Para o alcance de uma comunicação efetiva, é necessária a existência de equipes multidisciplinares, formada por profissionais de jornalismo, publicidade, relações públicas e marketing. Cada um tem formação específica para o exercício de suas funções. Juntos, eles atingem os objetivos elencados anteriormente.

Há uma absorção de profissionais pela demanda que acaba gerando um número elevado de horas extras, levando à necessidade de levar trabalho para fora do expediente.

Os equipamentos dos sindicatos nem sempre são suficientes ou adequados para a obtenção do resultado esperado. Mesmo sem essa tecnologia, o resultado é cobrado pela direção.

O gerenciamento de perfis nas redes digitais exige profissionais preparados, treinados e tempo para sua manutenção. Portanto, tem de ser planejado e manuseado por comunicadores, que, após consulta dos dirigentes sindicais, possam responder de forma proativa e reativa através de múltiplos cenários – não apenas colocar uma pessoa familiarizada com redes sociais à frente dos perfis.

As redes digitais são, sim, canais de comunicação com as categorias e devem ser gerenciadas de forma a dialogar com as classes.

É necessário que os sindicatos, entidades que defendem os trabalhadores e seus anseios, cultivem a solidariedade de classe com seus profissionais de comunicação, entendendo-os como trabalhadores que vendem suas forças de trabalho para sobreviver, mas que estão com suas relações de trabalho cada vez mais precarizadas.

Caso contrário, a cada dia a relação sindicalistas/jornalistas tende a se deteriorar por conta do aumento de casos de assédio moral e do descumprimento das legislações pertinentes ao exercício da profissão (entre elas o Decreto nº 83.284, de 13 de Março de 1979), o que leva à degradação das relações interpessoais que regem o ambiente de trabalho nas assessorias de comunicação sindical.

Faz-se necessário que o dirigente sindical aplique, na relação com o jornalista de sua entidade, o que pleiteia ao seu patrão empresário/político, sob pena de que a falta de confiança do profissional de comunicação sindical no dirigente sindical resulte em divergência e não em solidariedade.

Jornalistas são trabalhadores e também querem, por parte dos sindicalistas contratantes, a valorização profissional, melhoria das condições de trabalho e investimento em capacitação e aperfeiçoamento profissional. Não garantidas essas condições, a tendência é de que os sindicatos venham a sofrer com uma crise de invisibilidade ainda maior do que a existente atualmente. É preciso aliar o discurso à prática junto às equipes internas.

Profissionais de comunicação presentes ao 19º Curso Anual do NPC

23 de novembro de 2013.

Foto: Clarissa Peixoto

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