A RBS e o jornalismo conjugado no Futuro do Pretérito

Por Raul Fitipaldi, para Desacato.info

No segmento de política, no sítio Clicrbs, aparece a nota que você pode ler antes deste artigo de opinião.

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Foto: Captura de tela.

Além de não ter assinatura, a nota referida à operação Zelotes, que atingiu à RBS, está viciada de conjugações no futuro do pretérito (teria atuado – a Polícia Federal teria encontrado – a ex-ministra se comprometeria a prestar – o que corresponderia – Erenice, segundo o contrato, receberia – E-mails obtidos na investigação também mostrariam – Erenice teria respondido…) e assim continua. No mesmo texto, a Veja informa que Erenice ainda não está (conjuga em presente no meio de um oceano de futuros do pretérito) entre os investigados da Operação Zelotes — sua inclusão, segundo a revista, se daria (futuro do pretérito de novo) nos próximos dias.

Ou seja, depois de consolidar por repetição condicional que a ex-ministra está vinculada a operações ilícitas de propina, a Veja recua e afirma que Erenice Guerra não está entre os investigados. Mas, aí o estrago já foi feito e a cumplicidade de estilos da Veja e da RBS explícitajá sensibilizou o leitor e arquitetou a ideia de que a ex-ministra do governo é corrupta e capitaneou a corrupção desde a Casa Civil.

Delicadamente e baixando o perfil, se afirma na nota enlaçada acima, que a maioria das empresas investigadas não se manifestou ou diz não ter conhecimento dos problemas. No que a ela se refere, a RBS expressa que “desconhece a investigação e nega qualquer irregularidade em suas relações com a Receita Federal.”? Ou seja, a RBS julga, por desconhecimento que ela não está em falta. A RBS então, informa e julga mesmo na condição de possível ré.

O temperamento de baixo perfil com o qual se dilui a nota, não é o mesmo do início onde usa o primeiro futuro do pretérito para acertar o governo federal e mais diretamente o ex-presidente Lula, alvo preventivo dos atuais grupos de desestabilização nacional de cara a 2018: “A ex-ministra da Casa Civil no governo Lula, Erenice Guerra, teria (futuro do pretérito de novo) atuado em parceria com José Ricardo da Silva, um integrante do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf)”.

Não estou aqui defendendo o governo Lula, de forma alguma, até porque os atos de corrupção que por ventura se confirmem no seu mandato, são previsíveis no leque espantoso de alianças que seu governo fez com o capital e as elites do poder, daqui e estrangeiras. E que são inerentes ao sistema capitalista. O que quero é afirmar que nossa imprensa monopólica usa de todos os seus canais possíveis para desestabilizar o país a partir de suposições. O faz cotidianamente, o fez sempre e não deixará de fazê-lo. Oculta, no entanto, suas verdadeiras intenções corporativas na defesa dos seus clientes e de se própria.

A “opinião publicada” dos monopólios é a ferramenta mais podre do sistema comunicacional no Brasil, onde as concessões tem que ser revisadas logo. O descontrole comunicacional disfarçado de liberdade de expressão é um disparate pseudodemocrático que sempre atingirá os mais pobres, a massa trabalhadora, os mais fracos, permitindo que os obsequentes de plantão manipulem os fatos sem fiscalização alguma e em favor de seus interesses ilegítimos e imorais.

Um dos pecados mais lastimáveis dos governos sucessivos do PT tem sido permitir a interferência dos monopólios de comunicação, transformados no mais poderoso partido político do Brasil, como linha de frente da subjugação da população brasileira. Também são responsáveis impávidos, após mais de uma década, de que a mentira, a distorção, a uniformização da verdade, e os negócios mais vis dos veículos monopólicos de comunicação adoeçam o Brasil com doses gigantes de medo, o afastem da verdade, sejam ilegítimos e destruam umas das funções mais importantes do jornalismo que é a educação através da informação.

A RBS cumpre seu papel dentro das regras do jogo. E o governo não faz o que deveria: impulsionar de vez a democratização da comunicação no Brasil que precisa de uma Lei de Meios construída desde as bases da sociedade trabalhadora. Sem uma ferramenta popular e transparente, o jornalismo no Brasil seguirá caminhando entre a agonia e a morte. E o cidadão comum seguirá explorado com a permissão omissa de um Estado onde os maiores devedores de impostos se isentam desde tempos remotos. Enquanto isso, esse Estado descarrega sua sanha impositiva sobre os que produzem a riqueza, aliviando os ricos que medram com a miséria, a desigualdade e a desinformação, cristalizando este Brasil, como um dos países mais desiguais do Mundo.

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