A Polícia, a porrada e os professores (ou eu e você)

Foto: Guigo Ribeiro

Por Guigo Ribeiro, para Desacato.info.

Um. Dois. Três. Quatro. Recomeço de contagem. Um. Dois. Três. Quatro. Recomeço. Pausa para o respiro e volta. A polícia solicita gentilmente que sua vontade seja acatada. Essa solicitação, gentil, apresenta um soco no peito para maior pressa ao que deseja e cassetete, instrumento institucional para produção de ordem. E esse soco é para todo e qualquer um que ouse ir contra a farda. Contagem! Aparenta, de forma menos glamourosa, a contagem de um juiz em um ringue. Quem sabe, um juiz que vê alguém caído se molhando em uma chuva de socos, mas deixa molhar mais um cadinho. Contagem! Que direito pensa ter para estar aqui frente à polícia apresentando seu direito de se manifestar, professores? Para tentar reaver o que é de direito ou reivindicar outros, professores? Que direito pensa ter para exigir melhores condições de quem tem por obrigação dar melhores condições, professores? Que direito tem de discordar do que será feito com ou sem sua vontade, professores? Isso é uma democracia. Isso é uma democracia! Contagem! Os servos do Estado encucam sua essencialidade para a dita ordem e são treinados nos campos da ignorância e autoritarismo. Os servos do Estado cumprem ordens e só cumpre ordens. Tanto que argumentam que o sangue derramado foi por cumprir ordens. Os servos do Estado acreditam de forma totalitária na sua palavra final. Dicionário:

 Palavra: O pare significa uma arma apontada, engatilhada e pronta para cuspir o projetil que leva a vida.

Suspeito: pautado na forma, jeito e gesto de ser. Ou no que acham de tudo isso e como este achar será determinante para tornar alguém suspeito.

Dúvida: forma e meio para invadir o cidadão em uma revista ou exigir resposta dando dor e marcas, se assim necessário ou mediante ao humor do dia.

Certeza: condução para um papo com o superior com possibilidade real de permanência. 

Contagem! Os professores são agredidos quando usam de seu direito à manifestação. Os professores são agredidos quando imersos em condições absurdas de trabalho. Os professores são agredidos quando buscam melhores formas para o desenvolvimento de seus alunos. Os professores são agredidos quando, de novo, a bandeira tem um tucano. De novo! Os professores são agredidos sob ordem da bandeira tucana. Contagem! A violência é legitimada quando a ideia não adentra o tamanho da caixa presente. Não os convença ao pensamento de que existem pensamentos contrários. É chegado o momento de ser mais assertivo, portanto, de ter pré-determinado (DETERMINADO) tudo o que se pretende, sem opções, oposições. Não ousem discordar da deforma proposta.

Mais uma vez. Um. Dois. Três. Quatro. Contagem! Contagem para a próxima notícia de um extermínio, de uma bala vinda das mãos dos que tentam convencer que lutam pela ordem, pela segurança do povo. Contagem! Para a próxima repressão na próxima manifestação, seja esta pelo que for e estiver contrário ao que foi cuidadosamente decidido nas mesas e jantares dos homens de terno. Contagem! Para o próximo Rafael jogado numa cela e nela mantido pelo desejo de quem gosta e insiste em mandar. Contagem! Para as vozes que, mesmo com o mar de silêncio ao redor, insistem em gritar. Contagem! Para os costumeiros abusos de poder e sua mania de sempre abusar do poder. “Sem querer”. Contagem! Para a próxima extorsão, coação. Contagem! Para a próxima prisão forjada. Contagem! Para Acari, Osasco e outros tantos. Contagem! Contagem! Contagem! Certeza! A certeza é de todos. A questão é até quando. Afinal, quando alguém sofre a repressão no exercício de seu direito, a porrada é em todos nós.

Marielle Franco, presente!

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[avatar user=”Guilherme Ribeiro de Santana” size=”thumbnail” align=”left” link=”attachment” target=”_blank” /]Guigo Ribeiro é ator, músico e escritor.

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