A má fé da Anistia Internacional em relação a Cuba

sobre-cubaPor Maxime Vivas.

Segunda-feira, 5 de dezembro, poucos dias depois das exéquias de Fidel Castro. Vou falar de Danielle Mitterrand, Ségolène Royal, Zoé Valdés, Jacobo Machover, de falsos dissidentes, da mídia, da Anistia Internacional e dos métodos de produção das campanhas anti-Cuba.

Finalmente, conto por que razão Jacobo Machover, tendo tido a imprudência de fazer uma conferência em Toulouse, decidiu não pôr mais os pés na “Capital da Espanha republicana”.

A morte de Danielle Mitterrand, em novembro de 2011 abriu a dança dos hipócritas que tinham admirado esta mulher admirável, comprometida em causas humanitárias, mas que, mancha indelével, tinha abraçado Fidel Castro no alto da escadaria do Palácio do Eliseu. A mídia a recriminará sempre.

As recentes declarações de Ségolène Royal em Cuba abriram um cenário de ataques. Ela saudou a memória de Fidel Castro, como “um monumento da história”, rejeitando as acusações contra ele de violações dos direitos humanos e contestando as detenções políticas.

A Anistia Internacional então engasgou-se e resolveu mencionar numerosos casos de prisão

EL SEXTO

Esta ONG seleciona este exemplo para a Europa 1: “algumas horas após a morte de Fidel Castro, o artista El sexto [um grafiteiro] foi preso novamente. Ele teria escrito numa parede um grafiti dizendo simplesmente: “Se fue…”, ou seja: “Ele foi-se…”, irónica alusão à morte de Fidel… Reli: “… ele teria escrito numa parede um grafiti dizendo simplesmente : “Se fue…”

Gastei algum tempo a verificar (ou seja, perdi o meu tempo):   o executante do grafiti tinha decorado com tags (e não apenas simplesmente as duas palavras: “Se fue”), a parede em frente de um dos mais belos hotéis em Havana, e fez o mesmo em edifícios públicos.

Foi interrompido e retirado do local, algo que não teria acontecido em Paris se tivesse rabiscado o Ritz, o Crillon, o Palais Bourbon, o Palácio do Eliseu ou a Catedral de Notre Dame.

Três outras divertidas histórias de três outros dissidentes

Contarei agora as histórias divertidas de três outros dissidentes pelos quais a Amnistia Internacional e a nossa classe política se inflamaram.

1 – Raúl Rivero

Em março de 2003, cansado da multiplicação de balelas lançadas por agências de imprensa cubanas pretensamente independentes, na realidade financiadas pelos EUA (forneço provas detalhadas no meu livro “La face cachée de Reporters sans frontières” ), o governo cubano lançou um isco e apanhou um bando de mercenários (ou dissidentes, como eles dizem).

Entre eles, estava o poeta Raúl Rivero. Foi então desencadeada uma campanha internacional: Rivero estaria a ser submetido a condições de encarceramento terríveis, teria perdido 20 ou 30 kg, sua vida estava em perigo, etc.

Apanhando os mentirosos em velocidade, as autoridades cubanas libertam-no. Aparece então um homem grande e gordo, obeso, confessando ter livre acesso à leitura e ter devorado o último livro de Gabriel García Márquez,“Historias de mis putas tristes” , mas que tinha sofrido à noite com o cantar de um grilo. A Anistia Internacional reviu então o seu texto.

2 – Outro exemplo, mais divertido ainda: Armando Valladares

Trata-se de um ex-polícia do ditador Batista, preso logo após a vitória da Revolução quando transportava explosivos para realizar atentados. Ele beneficiou-se de uma campanha internacional pela sua libertação. A imprensa dizia-o poeta e paralítico. Quando o governo cubano decidiu deportá-lo para Madrid em 1982, o presidente François Mitterrand enviou Régis Debray para saudá-lo à sua chegada de avião. A multidão de fotógrafos então viu um homem rindo a descer a passarela com ambas as pernas.

A Anistia Internacional retirou-se, discretamente escondendo a cadeira de rodas prevista para o “poeta deficiente”, os funcionários eclipsaram-se. Hoje, sabemos que o único poema de que Valladares se aproveitou era um plágio. Agora vive nos Estados Unidos, onde Reagan o nomeou embaixador dos EUA junto da Comissão de Direitos Humanos da ONU (sic).

E Régis Debray escreveu: “o homem não era um poeta, o poeta não era paralítico e o cubano agora é “americano”. Este ativista simulava hemiplegia há anos numa cadeira de rodas”

3 – O terceiro exemplo cómico é o de Nestor Baguer

Também contei há algum tempo as suas façanhas no meu livro sobre RSF (Repórteres sem fronteiras), ele era a fonte cubana de RSF. Robert Ménard tinha ido recrutá-lo a Havana.

Nestor Baguer era um jornalista dissidente. Diziam que fora preso, atingido pela polícia, que lhe partiram um pulso, o seu material fora confiscado, fora perseguido, ameaçado, etc. A Amnistia Internacional lançava gritos de escândalo em tom ameaçador.

E, por fim, Nestor Baguer finalmente revelou que na verdade era um agente de segurança cubano infiltrado em círculos contra-revolucionários financiados pelos EUA. Ele nunca tinha sofrido (e por uma boa razão) qualquer prejuízo. Ele inventou tudo, incluindo o conteúdo dos artigos que escreveu, porém as informações contra Cuba nunca são verificadas. Pessoas de boa-fé poderiam passar horas, meses, anos a ver o que os nossos media propalam sobre Cuba e a descobrir as suas mentiras.

Indignada com a política dos EUA contra Cuba, Danielle Mitterrand disse ao marido: ‘”François, tu não podes deixar que isso aconteça! Ele respondeu: “Mas Danielle, não sou eu que mando, é o FMI, etc” (cito de memória).

Poderia acrescentar acerca do que é a informação sobre Cuba: “São os nove multimilionários franceses proprietários dos meios que a fazem”. Eles cedem de boa vontade a palavra, a dois especialistas anticubanos: Zoé Valdés, que deixou em Cuba a memória de uma estalinista que era preciso refrear quando ela ali militava e Jacobo Machover, convidado dos nossos meios de comunicação porque é um dito exilado, mas sem se insistir num detalhe: deixou Cuba com a idade de 9 anos.

EM COMPLEMENTO DA PEÇA RADIOFÓNICA

Num artigo publicado pelo Le Grand Soir (trechos abaixo), contei como Jacobo Machover foi vaiado quando fez uma conferência sobre Cuba em Toulouse, em 11 de junho de 2013, como parte do festival “Río Loco”.

Eis algum florilégio da sua intervenção: Fidel Castro queria a morte do Che; ele mandou matar Camilo Cienfuegos; não há nenhum êxito em matéria de educação; o Che mandava fuzilar com deleite; sua famosa foto é uma farsa; durante a intervenção cubana em África o Che esteve escondido numa embaixada; a mortalidade infantil aumenta; os cinco cubanos presos nos EUA são assassinos; etc.

No final da conferência, fiz uma pergunta, o que lhe permitiu produzir uma nova mentira, bem grosseira.

Pergunta: “Obrigado por me dar a palavra. Sr. Machover, o senhor é um especialista em Cuba e outros países da América Latina, como a Venezuela, sobre a qual escreveu. Minha pergunta é sobre esses dois países e verá que não me afasto nem do seu trabalho, nem da sua conferência. A 9 de março de 2005, Hugo Chávez fez uma conferência de imprensa em Paris. Os nossos meios relataram que se tratava de uma “conferência com elevada cor” (e sabemos como Chávez era exuberante).

O senhor assistiu, e o seu relato, publicado no site Cubantrip, está bastante deslocado relativamente ao dos seus colegas. Eu leio algumas curtas passagens do que viu (e cito): “Um soldado brutal e grosseiro de fato e gravata”, “um caudilho ridículo”, “um aprendiz de ditador”, “a semear o terror na Casa da Radio”, “cercado por um número incrível de guardas de segurança, a maioria cubanos, membros dos serviços secretos de Castro, que se passeavam à vontade pelo palco do estúdio 104 com suas pequenas malas, contendo uma metralhadora, bem visível… Esbirros bem reconhecíveis, prontos para fazer uso da força militar ao impudente que ousasse fazer uma pergunta incómoda ao “cidadão presidente”.

Um grupo de jornalistas, emitiu uma declaração crítica. Mas não a poderiam ter lido, intimidados pelas ameaças mal veladas do serviço de ordem castro-chavista. “O medo está aí. Pode-se toca-lo com o dedo, como em Cuba”.

Então, a minha pergunta: “ou é um sobrevivente, se sim felicito-me, pois, o festival Río Loco teria ficado empobrecido com a sua ausência, devido ao assassinato, de um jornalista no decurso de uma conferência de imprensa de um chefe de estado em Paris, ou então um mentiroso e, no segundo caso, o que nos diz do que se passa desde há meio século num país longínquo será mais credível do que as histórias absurdas que nos conta sobre o que se passa, agora, neste país?”

Machover manteve sua fábula grotesca, alegando (o palerma!) – ele que não põe os pés em Cuba há 30 anos – que conhecia de vista os agentes “dos serviços secretos castristas”.

[*] Resumo da minha Intervenção de 5/dezembro/2016 no programa cultural que animo às segundas-feiras na Radio Mon Païs em Toulouse. O programa “Excusez-moi de vous interrompre” é emitido às segundas-feiras às 22h00; terças-feiras às 11h00 e sábados às 04h30 e, graças à internet em radiomonpais.fr .

O original encontra-se em www.legrandsoir.info/… . Tradução de DVC.

Fonte: http://resistir.info/ .

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.