A internacional capitalista impôs o seu candidato

Por Álvaro Verzi Rangel.

(Port/Esp.)

A internacional capitalista encontrou em um ex-militar xenófobo, misógino e homofóbico chamado Jair Bolsonaro a figura para conquistar a Presidência do Brasil através dos votos, diante da incapacidade dos golpistas de 2016 para realizar as reformas estruturais que garantam a nula intervenção do Estado nas relações capital-trabalho e nas transações comerciais e financeiras, o “mercado livre” em estado puro.

O trabalho para impor esse discurso no imaginário coletivo dos brasileiros, imersos em uma profunda crise com mais de 13 milhões de desempregados, começou há mais de uma década, a partir dos think tanks do movimento ultraliberal, um enorme financiamento e a ativa participação das igrejas evangélicas, que tiveram um papel crucial na campanha eleitoral e na construção do imaginário coletivo cheio de golpes baixos e fake news (mentiras), como é habitual nesta época de pós-verdade.

A internacional capitalista existe, é organizada pelo movimento libertário de extrema direita, ou os ultraliberais (em inglês, são chamados de libertarians). Obviamente, está muito bem financiada, graças a um imenso conglomerado de fundações, institutos, ONGs, centros e sociedades unidas entre si por conexões difíceis de detectar, entre os quais se destaca a Atlas Economic Research Foundation, ou Rede Atlas.

No Foro Latino-Americano da Liberdade, organizado pela Rede Atlas, que aconteceu no luxuoso hotel Brick de Buenos Aires, em maio de 2017 – com a presença do presidente argentino Mauricio Macri e do escritor peruano-espanhol Mario Vargas Llosa –, os debates abordaram a temática de como derrotar o socialismo em todos os níveis, desde as batalhas campais nas universidades até a mobilização de um país para abraçar a destituição de um governo constitucional, como aconteceu no Brasil.

Quando uma das crises estruturais do capitalismo se fez sentir, em meados dos anos 70, a operação desta rede de intelectuais já se encontrava bastante avançada. Um dos seus campos de experimentação foi o Chile do ditador Augusto Pinochet, levado ao poder pelo golpe de Estado de 1973, promovido pelos Estados Unidos. Daí por diante passaram a proliferar artigos, livros, entrevistas radiofônicas e outros materiais críticos ao conceito de Estado de bem-estar, e esse material foi globalizado pela rede de terrorismo mediático dos grandes conglomerados cartelizados.

Independente das causas reais que impulsaram a socialdemocracia a instaurar o Estado de bem-estar nos países do centro capitalista, especialmente na Europa ocidental, o que contrariava o capitalismo era a regulação das relações capital-trabalho, as políticas redistributivas e os serviços de educação e saúde gratuitos, além da fortaleza dos sindicatos e das organizações populares.

Com os governos de Margaret Thatcher no Reino Unido, e de Ronald Reagan nos Estados Unidos, vieram os processos de privatização, desindustrialização, desregulação, estrangeirização e demolição do Estado de bem-estar, o que significava sobretudo desregular o mercado de trabalho. Mas seu maior sucesso foi, como expressou a própria Thatcher, o de fazer até mesmo os partidos socialdemocratas europeus se converterem ao credo neoliberal – além do britânico Tony Blair, o espanhol Felipe González também foi um exemplo destacado dessa virada de casaca.

As atividades da Rede Atlas começaram em 1981, na cidade de San Francisco, a partir de um sujeito chamado Anthony Fisher, que começou a desenhado o emaranhado de redes e fundações que o público percebia como instituições acadêmicas e imparciais. Logo, cresceram as filiais – com diferentes nomes – em outros países, especialmente os da América Latina e da Europa Oriental, após o fim da União Soviética.

Em 1991, a direção da Atlas passou às mãos do argentino-estadunidense Alejandro Chafuen, que havia apoiado o golpe militar de 1976 na Argentina e desde então dedica sua vida à destruição dos movimentos e governos progressistas na América Latina.

Gigantes corporativos como a ExxonMobil e Mastercard se uniram aos doadores da Atlas, que se “prestigiou” com figuras destacadas entre os ultraliberais, como as fundações associadas com o investidor John Templeton (fundos abutre) e os megamilionários irmãos Charles e David Koch. Assim começaram a surgir as numerosas fundações e organizações conservadoras que hoje compõem a rede.

A administração de Donald Trump está repleta de ex-alunos de grupos relacionados com a Atlas e amigos da rede. Sebastian Gorka, assessor islamofóbico de contraterrorismo de Trump, dirigiu um grupo de reflexão respaldado pela Atlas na Hungria. O vice-presidente Mike Pence já assistiu a eventos da Atlas. A secretária de Educação estadunidense Betsy DeVos liderou (junto com Chafuen) o Instituto Acton, um grupo de reflexão de Michigan que desenvolvia argumentos religiosos a favor das políticas dos ultraliberais, e que agora mantém uma filial no Brasil, o Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista.

Mas a figura principal da rede hoje é Judy Shelton, economista que assumiu a direção da Fundação Nacional para a Democracia (NED, por sua sigla em inglês), após ser conselheira da campanha de Trump. Para Chafuen, o caminho está traçado: mais grupos de reflexão, mais esforços para dizimar governos esquerdistas e mais devotos e alunos da Atlas elevados aos mais altos níveis de governo em todo o mundo.

Entre outras atividades, a Rede Atlas produz vídeos virais no YouTube que difundem a propaganda ultraliberal, para contribuir com a reconfiguração do mapa político da América Latina – funcionando, portanto, como um braço da política imperialista estadunidense.

Vários líderes ligados à Atlas obtiveram notoriedade ultimamente: ministros do governo conservador argentino, senadores bolivianos e dirigentes do Movimento Brasil Livre (MBL) que ajudaram a derrubar a presidenta constitucional Dilma Rousseff.

A rede ajudou a alterar o poder político em diversos países e se tornou uma extensão da política exterior dos Estados Unidos – os think tanks associados à Atlas são financiados pelo Departamento de Estado e pela NED organismo importante do soft power estadunidense, patrocinado pelos ultraconservadores irmãos Koch.

A NED e o Departamento de Estado contam com entidades públicas que funcionam como centros de operação e distribuição de parâmetros e fundos, como a Fundação Pan-Americana para o Desenvolvimento (PADF, em sua sigla em inglês), a Freedom House e a Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (conhecida como USAid), e são os principais entes que estipulam as diretrizes e os recursos, exigindo resultados concretos na guerra assimétrica que promovem.

A Rede Atlas conta com 450 fundações e grupos de reflexão e pressão, e com um orçamento operativo de 5 milhões de dólares (2016), graças às contribuições de organizações “sem fins de lucro” associadas, que apoiaram as diferentes frentes estabelecidas em cada país como o MBL no Brasil e a Fundação Pensar na Argentina, que foi o principal think tank da Atlas no apoio ao partido PRO (Proposta Republicana), criado por Mauricio Macri; além das forças de oposição na Venezuela e o candidato da direita nas eleições presidenciais chilenas, Sebastián Piñera.

Ao todo, a Rede Atlas possui 13 entidades afiliadas no Brasil, 12 na Argentina, 11 no Chile, 8 no Peru, 5 no México e na Costa Rica, 4 no Uruguai, Venezuela, Bolívia e Guatemala, 2 na República Dominicana, Equador e El Salvador, e uma na Colômbia, no Panamá, Bahamas, Jamaica e Honduras.

Os líderes do MBL e os da Fundação Eléutera – um grupo de “especialistas” neoliberais extremamente influente no cenário pós-golpe hondurenho – receberam financiamento da Atlas e formam parte da nova geração de figuras políticas que passaram pelos seminários de treinamento nos Estados Unidos.

A extrema direita “moderna” é o movimento libertário de extrema direita, que hoje navega sob a bandeira do republicanismo, e que baseia o seu acionar numa deliberada estratégia de desinformar as maiorias para impor suas políticas plutocráticas.

O impulsor deste movimento é o multimilionário Charles Koch, que adotou a tese de James McGill Buchanan – economista da Universidade de Chicago e Prêmio Nobel de economia de 1986 – para desarmar o Estado progressista, com uma estratégia operativa em defesa da santidade dos direitos de propriedade privada e da superação dos modelos estatais. Segundo ele, para que o capitalismo prospere é preciso cercear a democracia.

Entre as organizações mais importantes financiadas por Koch está o Centro Internacional para a Iniciativa Privada (CIPE, em sua sigla em inglês), filiado à NED. O CIPE teve um papel primordial no crescimento e na difusão das ideias da Rede Atlas, além de ser uma das forças principais que atuam para manter os diferentes membros conectados em todo o mundo.

No Brasil

As entidades que trabalharam juntas para atacar as políticas distributivas do Partido dos Trabalhadores (PT) manipularam um grande número de escândalos de corrupção, criaram centros acadêmicos e treinaram ativistas para o combate permanente nos meios e através das redes sociais, para dirigir a maior parte da revolta contra Dilma Rousseff, exigindo sua derrubada e o fim das políticas de bem-estar social.

Os meios internacionais comparam a revolta brasileira com o movimento estadunidense Tea Party, devido ao apoio tácito dos conglomerados industriais locais e uma nova rede de atores midiáticos de extrema direita e tendências conspiratórias. Helio Beltrão, executivo de um fundo de investimentos de alto risco que agora dirige o Instituto Mises (recebeu o nome do filósofo ultraconservador Ludwig von Mises), diz que, com o apoio da Rede Atlas, agora existem cerca de 30 instituições no Brasil “sem fins de lucro” atuando e colaborando entre si, como é o caso do MBL.

Entre elas, pode-se destacar:

– O Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista do Rio de Janeiro, um think tank religioso da Atlas que desenvolve argumentos teológicos para políticas que beneficiem os empresários e os negócios. O centro reproduz o modelo do Instituto Acton. Seu diretório editorial inclui Alejandro Chafuen e o advogado Ives Gandra da Silva Martins, que preparou o ofício para o processo que levou ao impeachment de Dilma Rousseff, e os argumentos da defesa para impedir um processo semelhante contra o seu sucessor, o golpista Michel Temer.

– O instituto Millenium, think tank jurídico, também do Rio de Janeiro, que promove atividades para favorecer soluções de livre mercado no Brasil. O grupo foi fundado em 2006 e recebe financiamento de várias grandes corporações com sede no país: Bank of America, Merryll Lynch, Grupo RBS, Gerdau e Am-Cham Brazil, o grupo de empresas estadunidenses no país. O Instituto Millenium foi particularmente ativo na promoção das manifestações de rua contra a presidenta Dilma Rousseff.

– O Instituto Liberal, fundado em 1983 por Donald Stewart Jr., magnata da construção e ativista libertário, que fez boa parte da sua fortuna com contratos ligados à USAid no Brasil, durante a ditadura militar. Este instituto estava entre os primeiros sócios da Rede Atlas na América Latina. Foi financiado parcialmente pela NED e pela CIPE.

É como um time de futebol: a defesa é a academia e os políticos são os atacantes. No meio de campo estão os que produzem conteúdo cultura, e são os encarregados do manejo midiático e da desinformação e manipulação da opinião pública.

Essas entidades patrocinam blogueiros e comentaristas incendiários, entre eles Rodrigo Constantino, conhecido como o Breibart brasileiro – Breitbart News Network é um portal de ultradireita abertamente libertário e pró Israel, criado pelo empresário Andrew Breitbart, durante uma visita a Tel Aviv, em 2007. Constantino polariza a política brasileira com uma retórica ultra sectária. Propenso a permanentes teorias conspirativas, ele preside o Instituto Liberal e popularizou uma narrativa segundo a qual os defensores do PT seriam uma “esquerda caviar”, ricos hipócritas que abraçam o socialismo para se sentir moralmente superiores, mas que na verdade desprezam as classes trabalhadoras que afirmam representar.

A “breitbartização” do discurso é apenas uma das muitas formas sutis pelas quais a Rede Atlas influi no debate político.

Fernando Schüler, acadêmico e colunista associado ao Instituto Millenium, se encarrega de atacar os 17 mil sindicatos do país, e afirma que “com a tecnologia, as pessoas poderiam participar diretamente, organizando por WhatsApp, Facebook e YouTube uma espécie de manifestação pública de baixo custo” (é o que ele entende como participação popular).

A Rede Atlas se dedica precisamente a isso: oferecer bolsas e ajudar para novos grupos de reflexão e laboratórios de ideias, com cursos realizados em todo o mundo, dedicando recursos especiais para induzir os libertários de ultradireita a influir na opinião pública através das redes sociais e vídeos online.

Conclusão

É verdade que o desempenho da direita no primeiro turno eleitoral foi impressionante e trouxe surpresas, como a eleição de figuras identificadas com o bolsonarismo nos governos estaduais e em cargos do Legislativo. Há três semanas, o quadro eleitoral estava definido, com as candidaturas de centro e de esquerda (não opostas ao PT de Lula da Silva) com 42% dos votos, enquanto a soma dos candidatos anti PT mostravam quase 57,6%.

Hoje, há uma consciência no Brasil de que Bolsonaro é apenas o cartão de visitas de algo muito maior, o ultraliberalismo transnacional. O segundo turno será no dia 28 de outubro e apresenta às forças de esquerda o mesmo desafio: construir um bloco democrático, vital para defender a democracia e frear o fascismo.

Álvaro Verzi Rangel é codiretor do Observatório em Comunicação e Democracia (OCD) e do Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE). Com apoio das equipes de investigação do OCD e do CLAE.

*Publicado em estrategia.la | Tradução de Victor Farinelli


Brasil: La internacional capitalista impuso su candidato

Por Álvaro Verzi Rangel.

La internacional capitalista encontró en un exmilitar xenófobo, misógino, homofóbico, , Jair Bolsonaro, a la figura para conquistar por los votos la presidencia de Brasil, vista la incapacidad de los golpistas de 2016 para llevar a fondo las reformas estructurales que garanticen la nula intervención del Estado en las relaciones capital-trabajo y en las transacciones comerciales y financieras, el “mercado libre” en estado puro.

El trabajo para imponerlo en el imaginario colectivo de los brasileños, inmersos en una profunda crisis con más de 13 millones de desempleados, comenzó hace más de una década, de la mano del movimiento ultraliberal, sus think tanks y enorme financiamiento, y la activa participación de las iglesias evangélicas, que jugaron un papel clave en la campaña electoral y en la construcción del imaginario colectivo, lleno de golpes bajos, fake news (mentiras), como es habitual en esta época de la posverdad.

La internacional capitalista existe, la moviliza el movimiento  libertario de extrema derecha o ultraliberal (en inglés los llaman libertarians)  y, obviamente, está muy bien financiada: funciona a través de  un inmenso conglomerado de fundaciones, institutos, ONG, centros y sociedades unidos entre sí por hilos poco detectables, entre los que se destaca la Atlas Economic Research Foundation, o Red Atlas.Resultado de imagen para MBL y los de la Fundação Eléutera brasil

En el Foro Latinoamericano de la Libertad de la Red Atlas, que tuvo lugar en mayo de 2017 en el lujoso Brick Hotel de Buenos Aires, con presencia del presidente argentino Mauricio Macri y el escritor peruano-español Mario Vargas Llosa, se debatió cómo derrotar al socialismo en todos los niveles, desde las batallas campales en los campus universitarios hasta la movilización de un país para abrazar la destitución de un gobierno constitucional, como en Brasil.

Cuando una de las crisis estructurales del capitalismo se hizo sentir a mediados de la década de los 70, la operación de esta red de think tanks se hallaba ya muy avanzada. Uno de sus campos de experimentación estaba siendo el Chile del dictador Ausgusto  Pinochet, aupado al poder por el golpe de Estado promovido por EEUU en 1973.  Proliferaron los artículos, libros, entrevistas radiofónicas, etc., criticando el Estado del Bienestar, mundializados por la red de terrorismo mediático de los grandes conglomerados cartelizados.

Más allá de las causas reales que impulsaron a la socialdemocracia a instaurar el Estado del Bienestar en los países del centro capitalista, especialmente en Europa occidental, lo que estorbaba al capitalismo era la regulación de las relaciones capital-trabajo, la política redistributiva que garantizaba las prestaciones sociales, así como la enseñanza y la sanidad gratuitas, y, sobre todo, la fortaleza de los sindicatos y las organizaciones populares.

Con los gobiernos de Margaret Thatcher en Reino Unido y de Ronald Reagan en EEUU, llegaron los procesos de privatización, desindustrialización, desregulación, externalización y demolición del Estado del Bienestar, lo que significaba sobre todo desregular el mercado de trabajo. Pero su mayor éxito fue, como expresó la propia Thatcherque incluso los partidos socialdemócratas europeos se estaban convirtiendo al credo neoliberalMás allá de Tony Blair, Felipe González fue también un alumno aventajado.

En 1981 comienzan en San Francisaco las actividades de la Red Atlas, de la mano de Anthony Fisher, quien cifraba el éxito de esta red de fundaciones en que el público las percibía como instituciones académicas e imparciales.Pronto le crecieron filiales -con distintos nombres- en otros países, especialmente de Latinoaméricay en Europa del Este tras la desintegración de la URSS.

Resultado de imagen para Fundação EléuteraEn 1991 tomó el relevo de la dirección de Atlas el argentino-estadounidense Alejandro Chafuen, que había apoyado el golpe militar de 1976 en Argentina y desde entonces dedica su vida a la destrucción de los movimientos y gobiernos progresistas en América del Sur y Centroamérica.

Gigantes corporativos, como ExxonMobil y MasterCard, se sumaron a los donantes de Atlas, que se “prestigió” con figuras destacadas entre los ultraliberales, como las fundaciones asociadas con el inversor John Templeton (fondos buitre) y los millonarios hermanos Charles y David Koch. Así comenzaron a florecer numerosas fundaciones y ONG conservadoras.

La administración de Donald Trump está repleta de ex alumnos de grupos relacionados con Atlas y amigos de la red. Sebastian Gorka, el asesor islamofóbico de contraterrorismo de Trump, dirigió un grupo de reflexión respaldado por Atlas en Hungría. El vicepresidente Mike Pence asistió a un evento de Atlas. La secretaria de Educación Betsy DeVos y Chafuen lideraron el Acton Institute, un grupo de reflexión de Michigan que desarrollaba argumentos religiosos a favor de las políticas de los ultraliberales, que ahora mantiene una filial en Brasil, el Centro Interdisciplinario de Ética y Economía Personalista.

Pero la figura principal del entramado es hoy Judy Shelton, economista y miembro principal de la Red Atlas, quien se hizo cargo de la NED, tras ser consejera de la campaña de Trump.  Para Chafuen el camino está trazado: más grupos de reflexión, más esfuerzos para derrocar gobiernos izquierdistas y más devotos y alumnos de Atlas elevados a los más altos niveles de gobierno en todo el mundo.

Entre otras actividades, la Red Atlas produce videos virales en YouTube que difunden la propaganda ultraliberal, para contribuir a reconfigurar el mapa político de América Latina y, por tanto, funcionando de hecho como un brazo de la política imperialista estadounidense.

Varios líderes ligados a Atlas consiguieron ganar notoriedad últimamente: varios ministros del gobierno conservador argentino, senadores bolivianos y dirigentes del Movimento Brasil Livre (MBL), que ayudaron a derrocar a la presidenta constitucional Dilma Rousseff, según señala Lee Fang en un exhaustivo informe en The Intercept.Resultado de imagen para Movimento Brasil Livre

La red, que ayudó a alterar el poder político en diversos países, es una extensión tácita de la política exterior de EEUU – los think tanks asociados a Atlas son financiados por el Departamento de Estado y la National Endowment for Democracy (Fundación Nacional para la Democracia – NED), brazo crucial del soft power estadounidense patrocinado por los hermanos Koch, poderosos billonarios ultraconservadores.

La NED y el Departamento de Estado, que cuentan con entidades públicas que funcionan como centros de operación y despliegue de líneas y fondos como la Fundación Panamericana para el Desarrollo (PADF), Freedom House y la Agencia del Desarrollo Internacional de Estados Unidos (Usaid), son los principales entes actores que reparten directrices y recursos, a cambio de resultados concretos en la guerra asimétrica en la que participan.

Atlas cuenta con 450 fundaciones, ONG  y grupos de reflexión y presión, con un presupuesto operativo de cinco millones de dólares (2016), aportados por sus fundaciones “benéficas, sin fines de lucro” asociadas, que apoyaron, entre otras al MBL y a organizaciones que participaron de la ofensiva en Argentina, como las fundaciones Creer y Crecer y  Pensar, un think tank de Atlas que se incorporó al partido (Propuesta Republicana, PRO) creado por Mauricio Macri; a las fuerzas de oposición en Venezuela y al candidato de derecha en las elecciones presidenciales chilenas, Sebastián Piñera.

La red tiene 13 entidades afiliadas en Brasil, 12 en Argentina, once en Chile, ocho en Perú, cinco en México y Costa Rica, cuatro en Uruguay, Venezuela, Bolivia y Guatemala, dos en República Dominicana, Ecuador y El Salvador, y una en Colombia, Panamá, Bahamas, Jamaica y Honduras.

Los líderes del MBL y los de la Fundação Eléutera – un grupo de “expertos” neoliberales extremadamente influyente en el escenario posgolpe hondureño– recibieron financiamiento de Atlas y forman parte de la nueva generación de actores políticos que pasaron por sus seminarios de entrenamiento en EEUU.

La extrema derecha “moderna” es el movimiento libertario de extrema derecha que hoy navega con pabellón republicano, que basa su accionar en una deliberada estrategia de desinformar a las mayorías para imponer sus políticas plutocráticas y que tiene en la Red Atlas a su principal propulsor en América Latina.

El impulsor de este movimiento es el multimillonario Charles Koch, quien adoptó la tesis de  James McGill Buchanan –economista de la Universidad de Chicago y Premio Nobel- para desarmar el Estado progresista, con una estrategia operativa en defensa de la santidad de los derechos de la propiedad privada y para doblegar al modelo de gobierno: para que prospere el capitalismo, sostenía, hace falta ponerle cadenas a la democracia.

Entre las quince organizaciones más importantes financiadas por Koch están Americans for Prosperity, el  Cato Institute, la Heritage Foundation, el American Legislative Exchange Council, el Mercatus Center, Americans for Tax Reform, Concerned Veterans of America, el Leadership Institute, Generation Opportunity, el Institute for Justice, el Independent Institute, el Club for Growth, el Donors Trust, Freedom Partners, Judicial Watch… A ellas hay que agregar las más de sesenta organizaciones de la State Policy Network (Red de Políticas de los Estados Unidos).

El Center for International Private Enterprise (CIPE) es una fundación afiliada con la NED, creada por el gobierno de EEUU para llevar adelante las metas de la política exterior de Washington, que financia a organizaciones políticas en el mundo en desarrollo. Fue instalada por la Fundación Cámara de Comercio de EEUU, la organización de cabildeo más grande del país. El 96% de sus fondos provienen del Departamento de Estado y de la USAID.

CIPE jugó un rol primordial en el financiamiento de la red de Atlas y fue la fuerza principal en el fortalecimiento del la red. Desde 1991, el argentino-estadounidense Alejandro Chaufen, apologista de la sangrienta dictadura argentina, dirige la Red Atlas.

En Brasil

En Brasil, ONG y think tanks trabajaron juntos para atacar las políticas distributivas del Partido de los Trabajadores, manipularon un gran escándalo de corrupción, crearon centros académicos y entrenaron activistas para el combate permanente en los medios y a través de las redes sociales para direccionar la mayor parte de la revuelta contra Dilma Rousseff, exigiendo su derrocamiento y el fin de las políticas de bienestar social.

Los medios internacionales comparan a la revuelta brasileña con el movimiento estadounidense Tea Party debido al aporte tácito de los conglomerados industriales locales y una nueva red de actores mediáticos de extrema derecha y tendencias conspiratorias. Helio Beltrão, un ejecutivo de un fondo de inversiones de alto riesgo que ahora dirige el Instituto Mises (recibió el nombre del filósofo ultraconservador Ludwig von Mises), dice que con el apoyo de Atlas, ahora existen en Brasil cerca de 30 instituciones “sin fines de lucro” actuando y colaborando entre sí, como los Estudantes pela Liberdade y el MBL.

Entre ellas se pueden destacar:

-El Centro Interdisciplinar de Etica y Economía Personalista de Río de Janeiro es un think tank religioso de Atlas que desarrolla argumentos teológicos para políticas que benficien a los empresarios y los negocios. El centro reproduce el modelo del Acton Institute estadounidense financiado por la Secretaria de Educación Betsy DeVos. Su directorio editorial incluye a Chafuen y al abogado Ives Gandra da Silva Martins, quien preparó el oficio para el juicio político a Dilma Rousseff, y los argumentos para impedir el de su sucesor, el golpista Michel Temer.Resultado de imagen para instituto milenium brasil

-El instituto Millenium es un think tank jurídico en Río de Janeiro, que promueve actividades para favorecer soluciones de libre mercado en Brasil. El grupo, fundado en 2006, recibe financiamiento de varias grandes corporaciones con sede en el país: Bank of America, Merryll Lynch, Grupo RBS, Gerdau, y de Am-Cham Brazil, el grupo de empresas estadounidenses en el país. Millenium fue particularmente activa en la promoción  de manifestaciones callejeras contra la presidenta Dilma Rousseff.

-El instituto Liberal fue fundado en 1983 en Río de Janeiro por Donald Stewart Jr., magnate de la construcción y activista libertario, que hizo buena parte de su fortuna por contratos amañados por la USAID en Brasil durante la dictadura militar. El Instituto estaba entre los primeros socios de la Red Atlas en Latinoamérica. Fue financiado parcialmente por la NED y la CIPE.

“Es como un equipo de fútbol: la defensa es la academia, y los políticos son los atacantes”. En el mediocampo estarían los que se desempeñan en la cultura, encargados del manejo mediático y de la desinformación y manipulación de la opinión pública.

El grupo patrocina a bloggeros y comentaristas incendiarios, entre ellos a Rodrigo Constantino, conocido como el Breibart de Brasil. (Breitbart News Network es un portal de ultraderecha- abiertamente pro-libertad y pro-Israel”, puesto en marcha por Andrew Breitbart durante una visita a Tel Aviv en 2007.)

Constantino polariza la política brasileña con una retórica ultrasectaria. Propenso a permanentes teorías conspirativas, preside el Instituto Liberal y popularizó una narrativa según la cual los defensores del PT serían una “izquierda caviar”, ricos hipócritas que abrazan el socialismo para sentirse moralmente superiores, pero que en la realidad desprecian a las clases trabajadoras que afirman representar.

La “breitbartización” del discurso es apenas una de las muchas formas sutiles por las cuales Atlas Network ha influido en el debate político.

Resultado de imagen para instituto milenium brasil fernando schullerFernando Schüler, académico y columnista asociado a Millenium –otro think tank de Atlas en Brasil- se encarga de atacar a los 17 mil sindicatos del país y señala que “con la tecnología, las personas podrían participar directamente, organizando  por WhatsApp, Facebook y YouTube una especie de manifestación pública de bajo costo” (es lo que entiende como participación popular). Para Schüler, el modelo actual – una constelación de think tanks en Washington sustentada por abultadas donaciones- sería el único camino para Brasil.

Atlas, precisamente, se dedica en parte a eso: ofrece becas y subvenciones para nuevos grupos de reflexión y laboratorios de ideas, imparte cursos sobre gestión política y relaciones públicas, patrocina eventos de trabajo en red en todo el mundo y, en los últimos años, ha dedicado recursos especiales para inducir a los libertarios de ultraderecha a influir en la opinión pública a través de los redes sociales y videos en línea.

En Argentina, la Fundación Pensar era una rama de la Red Atlas en Argentina que se convirtió en el PRO, el partido político que llevó a la presidencia en 2015 a Mauricio Macri. Dirigentes de Pensar y de la Fundación Libertad –otra rama de la Red-, ocupan hoy cargos clave en la administración argentina. Pero hay una serie de fundaciones, dirigida por altos funcionarios de la administración Macri, que drenan dineros públicos hacia ellas, aumentando los fondos provenientes de la Red Atlas y la NED.

A esa red se deben sumar las fundaciones SUMA (dirigida por el vicepresidenta Gabriela Muchetti), Seguridad y Justicia (del secretario de Seguridad Eugenio Burzaco), Crecer y Crecer (del alcalde Néstor Grindetti), Formar (del ministro de Educación Guillermo Dietrich), Pericles (del asesor jurídico presidencial Rodríguez Simón), entre otras.

La Procuraduría de la Criminalidad Económica y Lavado de Activos denunció en 2014 al ministro de Cultura Hernán Lombardi por el desvío de fondos públicos hacia Pensar. Asimismo se denunció ante la justicia el “diezmo” que la dirigente macrista Gladys Rodríguez solicitaba a quienes accedían a empleos públicos en la Provincia de Buenos Aires, para engrosar los fondos de la misma fundación.

El Centro de Apertura y Desarrollo de América latina (CADAL, entre los 60 think tanks más influyentes de la región según el Global Think Tank Index Report) es asociado a la Network of Democracy Research Institutes, NDRI, y puso en marcha el Instituto Vaclav Pavel y Análisis Latino, que dirige el periodista Fernando Laborda (premio a los Jóvenes Líderes 2006 de la Red Atlas), todo con fondos proporcionados por la NED, vía la Red Atlas y por los dineros drenados desde el Estado argentino.

Colofón

Es cierto que el desempeño de la derecha fue impresionante en el primer turno electoral, y trajo sorpresas con la elección de figuras identificadas con el bolsonarismo en cargos de gobernaciones y legislativos. Desde hacía tres semanas, el cuadro electoral estaba definido, con las candidaturas de centro e izquierda (no opuestas al Partido de los Trabajadores del expfresidente Lula da Silva) en el 42% de los votos, mientras la suma de los candidatos antiPT sumaron casi el 57,6%.

Hoy hay conciencia en Brasil que Bolsonaro es sólo el mascarón de proa de algo mucho más grande, el ulktraliberlismo trasnacional. La segunda vuelta electoral del 28 de octubre se inicia con el mismo desafío, de construir un bloque democrático, vital para defender la democracia y detener el fascismo.

* Codirector del Observatorio en Comunicación y Democracia (OCD) y del Centro Latinoamericano de Análisis Estratégico (CLAE). Con apoyo de los equipo de investigación de OCD y CLAE.

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