As feiras “blockbuster”, como a de Miami, parecem ter perdido a vocação inicial, enquanto as feiras menores se tornaram vitrines da produção artística
Por João Correia.
No Brasil há duas feiras de arte estabelecidas que, embora recentes, adquirem crescente importância: a SP-Arte e a ArtRio. Proporcional à sua relevância mundial e pouco tempo de existência, essas duas feiras tem atingido sucesso considerável, o que mostra que a febre das feiras chegou por aqui para ficar.
Como entusiasta das grandes feiras internacionais – oportunidades únicas para apreciação de uma enorme variedade de arte reunida num mesmo local – eu nutria grandes expectativas quando peguei o avião em direção a Miami para a abertura, em 4 de dezembro, da Art Basel Miami Beach, um dos principais acontecimentos no universo da arte contemporânea.
A filial de Miami Beach da Art Basel está dentro de uma agenda mundial que reúne mais de uma dezena de eventos comparavelmente do mesmo porte. São três sedes: Suíça, Hong Kong e Miami, que acontece há 11 anos (na matriz, a Suíça, ela existe há 43 anos).
Inicialmente espaços não só de negociação mas de apreciação de arte, poderia se dizer que as feiras de arte se assemelhavam a algumas bienais, ou assim eu me lembro das minhas primeiras visitas à feira de Colônia, na Alemanha, no começo dos anos 2000.
No entanto, quem visita Art Basel Miami Beach encontra hoje dificuldade em apreciar a exposição. As filas, as multidões e complicações logísticas, a quantidade e variedade de arte a mostra, a agenda de eventos: tudo compete pela atenção do visitante e torna a experiência uma verdadeira maratona.
Como resultado, acabamos tendo poucos momentos de apreciação da arte com a devida introspecção, o que me fez deparar com uma reflexão inesperada: teriam as feiras blockbuster perdido um pouco da sua vocação inicial como ponto de apreciação e compra de arte?
É inegável que os recordes de vendas continuem acontecendo, mas paralelamente notei que a atividade principal durante a Art Basel Miami Beach termina por ser a participação de eventos, o início de novos contatos, as conversas com amigos e profissionais das artes, entre outras valiosas distrações. Mas muito brevemente a apreciação da arte em si.
Originalmente uma excelente oportunidade de garimpo de novos nomes de artistas e curadores para pesquisa e acompanhamento, o prazer da descoberta na maioria das feiras que compareci em 2013 ficou reservado às feiras satélites como a Feira Liste, na Suíça, a Feira Nada, em Miami, e a Feira Parte em São Paulo.
A proposta não lucrativa da Nada (New Art Dealers Alliance), uma das 19 pequenas feiras realizadas simultaneamente à feira principal em Miami, junto ao excelente time na sua diretoria (das galerias White Columns, James Fuentes e Gavin Brown’s Enterprise) de renomado compromisso com a inovação na cena Nova Iorquina a tornaram o destaque dessa semana em Miami.
Nela encontrei um ambiente ideal para descoberta, apreciação e identificação de obras que pareciam antecipar tendências e abrir as possibilidades da arte contemporânea. Terminei por encontrar numa feira menor a atmosfera fértil e intimista que inicialmente motivou a minha ida a cidade.
Certamente vale continuar comparecendo as grandes feiras em 2014, mas definitivamente recomendo aos visitantes e entusiastas de arte em geral que não percam de vista as feiras alternativas para acompanhar os novos rumos da ousada produção artística contemporânea.
João Correia estudou gestão no Sandler Institute e História do Mercado de Arte no Sootheby’s Institute of Art de Londres e é sócio-fundador da Art Options, empresa de consultoria de arte sediada em São Paulo (www.artoptions.com.br).
Fonte: Carta Capital.