A guerra dos Guarani-Kaiowá

Foto: MPF(Português/Español).

Por Joana Moncau.

Do acampamento que o grupo de indígenas Guarani-Kaiowá mantinha na beira da estrada no município do Iguatemi, não sobrou barracas, pertences ou comidas, tudo foi queimado. No dia seguinte o grupo voltou ao local e afirma que só deixarão a área depois que suas terras tradicionais forem demarcadas.

Mato Grosso do Sul, Brasil. Os disparos vinham em sua direção. Ergueu os braços para os céus com o Mbaraka na mão e rezou. Uma bala de borracha acertou suas costas. Mesmo ferido, o xamã Guarani-Kaiowá de mais de 60 anos, não parou de cantar. Do acampamento que o grupo de quase 30 indígenas Guarani-Kaiowá mantinha na beira da estrada no município do Iguatemi, não sobrou barracas, pertences ou comidas, tudo foi queimado. Pelo menos quatro indígenas foram feridos pelas balas de borracha e espancados. Acampavam ao lado da Fazenda Santa Rita, que pertence ao prefeito desse município. Lá está o território indígena tradicional conhecido como Pyelito Kue – Mbarakay que reivindicam desde longa data.

A mais recente tentativa de retomada da área teve início no último dia 09 de agosto. O grupo de Guarani-Kaiowá ocupou parte da Fazenda Santa Rita. Não se passaram quatro dias para que sofressem violentos ataques por parte dos pistoleiros encapuzados e armados. Os jagunços disseram que deixariam eles saírem vivos dessa vez, mas que não sairiam com vida se retornassem”.

Ameaçados, deixaram a fazenda para montar o acampamento na beira da estrada que faz divisa com a mesma e seguir com sua luta. Mesmo assim, foram atacados no último dia 23. Se a ameça não cessou, a determinação dos indígenas se fortaleceu. “Voltamos para o mesmo lugar, onde havia barraco queimado levantamos outro no lugar”, conta membro do grupo. Seus integrantes

afi rmam: “Vamos ser enterrados aqui, daqui não saímos, vivos ou mortos

estamos aqui”. O ataque está sendo investigado pelo Ministério Público Federal

(MPF) e pela Polícia Federal (PF).

 

Das outras retomadas

Em julho de 2003, o grupo Guarani Kaiowá que ocupou a área Mbarakay já havia tentado retornar à Terra Indígena Pyelito Kue – Mbarakay. A ocupação não durou dois dias, foram expulso por pistoleiros das fazendas da região, que invadiram o acampamento dos indígenas, torturaram e fraturaram as pernas e os braços das mulheres, crianças e idosos. Em dezembro de 2009, o grupo retornou

à região e foi espancado, ameaçado com armas de fogo, vendado e jogado à beira da estrada em uma desocupação extrajudicial, promovida por um grupo de pistoleiros a mando de fazendeiros da região. Na ocasião, mais de 50 pessoas, inclusive idosos, foram espancadas, e um adolescente desapareceu.

 

O maior grupo indígena do Brasil

Os Guarani-Kaiowá formam o maior grupo indígena do Brasil: são 45 mil pessoas que vivem no Mato Grosso do Sul. Nesse estado, que abriga a segunda maior população indígena do país, esse grupo sofrem constante violência e racismo. Os Guarani-Kaiowá vivem em pequenas “ilhas” de terra que, somadas, alcançam pouco mais que 42 mil hectares. Acossados pelos fazendeiros, rodeados por

pastagens e plantações de soja e cana, sem terra, nem mata – da mata original ali não restam mais que 2% –, lutam a duras penas para sobreviver.

 

Em 2008 a Funai lançou um pacote de grupos de identificação de terras indígenas no estado. Estão previsto o reconhecimento e a demarcação de terras indígenas em 26 municípios da região sul do Mato Grosso do Sul, entre elas Pyelito Kue – Mbarakay. As ocupações das terras reivindicadas pelos indígenas são para pressionar pela rápida conclusão dos trabalhos de identificação, a cargo da Funai.

 

La guerra de los guaraní-kaiowá

 

Por Joana Moncau.

Del campamento que el grupo de indígenas Guaraní-Kaiowá mantenía al margen del camino en el municipio de Iguatemí, no quedó nada: ni carpas, efectos personales o comida. Todo fue quemado. Al día siguiente el grupo volvió al lugar y afirmó que sólo dejaran el área después que sus tierras tradicionales sean demarcadas.

Mato Grosso do Sul, Brasil. Los disparos venían en su dirección. Herido en la espalda, el anciano chamán no paró de rezar “para que no muriera nadie”, cuenta. No hubo muertos en aquella madrugada de agosto, pero al menos cuatro indígenas fue-ron apaleados y sufrieron heridas por balas de goma. Del campamento que el grupo de casi 30 indígenas guaraní-kaiowá mantenía a la orilla de la carretera no quedó nada. Estaba junto a la hacienda Santa Rita (municipio de Iguatemi), que pertenece al alcalde; ahí está el territorio indígena tradicional llamado Pyelito Kue–Mbarakay, que reivindican desde hace mucho tiempo.

El más reciente intento de recuperar el área inició en agosto, cuando los indígenas ocuparon parte de la hacienda. Menos de cuatro días después fueron atacados por pistoleros encapuchados; tuvieron que huir y esconderse en el bosque, donde pretendían resistir. Después de dos días en que apenas bebieron agua, una parte del grupo decidió salir y se encontró con los pistoleros de la hacienda; éstos les dijeron que les dejarían salir vivos esa vez, pero no sería así si regresaban.

Entonces dejaron la hacienda para levantar el campamento a la orilla de la carretera y seguir con su lucha. Ahí fueron atacados. Aunque las amenazas contra el grupo y la gente que les apoya no han cesado, su determinación se ha fortalecido. “Donde quemaron nuestras tiendas levantamos otras”, dicen. “Vivos o muertos, aquí estaremos”.

El ataque está siendo investigado y, según el procurador de la República, se abrirá una indagatoria por genocidio.

Fuente: desinformemonos.org

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