A greve nos supermercados como única saída para os trabalhadores e seus sindicatos

Por Francisco Alano.*

A Associação Paulista de Supermercados (APAS) realizou no dia 7 de maio um evento que, na sua abertura, contou com a participação de donos de grandes supermercados e do presidente Michel Temer. As falas que se sucederam mostraram o evidente: Temer, este que não tem mais que 5% de aprovação da sociedade brasileira, conta com o apoio irrestrito dos supermercadistas. Amado por poucos, os grandes capitalistas, odiado por muitos, a classe trabalhadora. Mais um dos sintomas do atual estágio da guerra de classes, que precisamos fazer reverter em uma expansão do movimento grevista em 2018.

Na atividade em São Paulo, o presidente da APAS abriu o evento demonstrando o grau de hipocrisia a que chegaram os grandes empresários nacionais. Disse ele que “amar os supermercados é (…) proporcionar um ambiente de trabalho saudável para os trabalhadores”. Logo depois, o corrupto e liberal Michel Temer destacou os “avanços” de seu governo para o setor de comércio e serviços, relembrando a aprovação, ainda no ano passado, do decreto que transformou supermercados em atividades essenciais e permitiu trabalho sem remuneração extra em domingos e feriados; da reforma trabalhista que destruiu a proteção aos trabalhadores e da farra das terceirizações, que irá precarizar ainda mais as condições de trabalho do povo. Por fim, tratou estas medidas como “conquistas” dos donos de supermercados, demonstrando que a relação entre empresários e governo atingiu o nível do desrespeito completo contra os trabalhadores.

O resultado do decreto de transformação dos supermercados em atividades essenciais foi um corte salarial pesado para trabalhadores que já ganham baixos salários. Quando não impedido pelos sindicatos – que entram com ações na justiça do trabalho pedindo a não abertura dos supermercados em feriados, na ausência de negociação coletiva –, as empresas instituíram a prática generalizada de penalizar os trabalhadores, submetendo-os a condições altamente degeneradas de trabalho, muito distante do ambiente “saudável” expressado pelo presidente da APAS. Em alguns casos, como no do Supermercado Mundial no Rio de Janeiro, os trabalhadores se sentiram tão agredidos que se organizaram em greves espontâneas, dizendo um basta contra a exploração.

Somado a isso, os supermercados começam a aplicar as novas leis trabalhistas. Terceirizam os setores de padarias, açougue, reposição de mercadorias e transporte e ampliam a contratação de trabalhadores em tempo parcial e intermitentes. Por outro lado, implementam um acelerado processo de substituição de trabalhadores por máquinas, eliminando pessoas nos caixas através dos terminais de autoatendimento, por exemplo. Desta forma, a nova lei trabalhista serve justamente para isso: aumentar o desemprego, ampliar a exploração sobre os trabalhadores empregados e expandir grosseiramente a taxa de lucro dos donos de supermercados.

Temer faz o serviço sujo para os patrões, por isso é aplaudido e elogiado nos eventos de grandes empresários. O povo, que não é bobo, repudia completamente o presidente, que não é capaz de se eleger nem para síndico de prédio. O limite dos sindicatos de comerciários está em ainda não depositar todas suas fichas na construção de greves em supermercados. Todas as condições para o movimento grevista estão dadas e o caso do Supermercado Mundial é expressão disso. O que falta é vontade política dos dirigentes sindicais para fazer agitação pela greve, denunciando empresários e o governo.

Se não dermos este salto grevista, teremos um duplo prejuízo. De um lado, perderemos os poucos filiados que ainda restam, que não ficarão ao lado do sindicato em nome dos convênios quando passam por processo acelerado de precarização de seus locais de trabalho. De outro lado, perderemos a possibilidade histórica de elevar a consciência política dos trabalhadores neste momento de agressão da classe dominante, o que seria um desastre de largas proporções e entregaria todo o descontentamento do povo nas mãos da direita mais reacionária. O momento é de decisão. Ou denunciamos a guerra de classes na prática, através das greves, ou veremos os trabalhadores dizerem um basta não aos patrões, mas aos seus sindicatos.

*Presidente da FECESC – Federação dos Trabalhadores no Comércio no Estado de SC

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.