A greve geral e o discurso único

Por Mauro Santayana. 

Vendida por alguns meios de comunicação como parcial e totalmente dependente da paralisação do transporte público, a greve geral conseguiu paralisar a maior parte das cidades brasileiras na última sexta-feira.

Não faltaram – como costumeiramente – a violência, muitas vezes iniciada pela própria policia, e a infiltração de vândalos convenientemente vestidos de vermelho, cujo papel, todos sabemos – com a destruição gratuita de patrimônio público e privado e o incêndio de ônibus – é jogar a opinião da população que está em casa, assistindo aos telejornais, contra aqueles que ousam se levantar contra o status-quo, o sistema e o discurso dominante.

Nem as reações fascistas à greve, com a rápida montagem de páginas na internet, com violentas e estúpidas mensagens anticomunistas, contra um movimento do qual participou até mesmo a insuspeita – para os padrões vigentes – Força Sindical.

A intenção dos comerciais do governo – que beiram a ideologia e são descaradamente políticos – é convencer os brasileiros de que se herdou um caos para o qual se exige a adoção definitiva de uma série de remédios amargos, porém necessários, que se pretende empurrar goela abaixo da população, como se não houvesse uma infinidade de outros aspectos, a maior parte deles estruturais, a serem considerados.

É por isso que a Greve Geral de ontem, embora represente um primeiro esforço de resistência ao que está ocorrendo com a Nação, constitui uma espécie de alerta e deve ser levado em consideração para além das superficiais e distorcidas “análises” da “mídia”.

Os parlamentares que cederam, esta semana, em questões como a da lei de Abuso de Autoridade, têm que entender que, embora exista um discurso acachapante, quase único, nos jornais, revistas, emissoras e redes sociais, ele está longe de ser unânime, e perceber que se arriscam a perder votos, do mesmo jeito, se fizerem apenas o que querem o governo ou a plutocracia.

Embora interesse a muita gente culpar apenas o PT ou a “corrupção”, os grandes problemas econômicos do país – além da Lava Jato, com a interrupção de dezenas de projetos estratégicos e a virtual quebra de algumas das maiores empresas brasileiras – são os juros, a sonegação e a baixa taxação de quem mais ganha, principalmente o mercado financeiro.

Os bancos particulares – ao contrário daqueles que são públicos, cujo lucro se reverte, ao menos em parte, para todos nós – lucram, e muito, não apenas explorando seus clientes, mas principalmente a União, os Estados e Municípios, o que faz com que, correntistas ou não, sejamos, todos os brasileiros, explorados por eles.

Enquanto os juros da SELIC continuarem, em 10, 20, vezes, superiores, em média, aos países que nos acompanham no grupo das dez maiores economias do mundo, o governo – que já tem sua legitimidade contestada – não terá moral para cobrar dos trabalhadores e de seus filhos e netos os ingentes sacrifícios que está impondo, olímpicamente – sem discussão com a sociedade – por meio das pseudo reformas que está executando.

Ao estender, na mutilação da legislação trabalhista e previdenciária, a conta dos déficits para a população brasileira.

Ao mesmo tempo em que, contraditoriamente, “paga”, antecipadamente, 100 bilhões de reais deixados pelo PT nos cofres do BNDES ao Tesouro – sem nenhuma necessidade e sem praticamente nenhum efeito na Dívida Pública.

Quando a maior parte da mídia oculta da Nação, ou ignora, deliberadamente, em seu esforço cotidiano de manipulação e contra-informação, que o país tem mais de 370 bilhões de dólares, ou mais de um trilhão de reais, em reservas internacionais, também economizados pelo PT – que além disso pagou, desde que chegou ao poder, mais 40 bilhões de dólares em dívidas de FHC ao FMI.

O governo livra a cara da parcela mais rica da sociedade. Engessa, por 20 anos, os gastos estratégicos do país com a nefasta PEC 570. Sufoca e sabota também, recessivamente, a capacidade de recuperação dos empregos, da renda e do consumo. E estrangula, nas duas pontas – a da produção e a das vendas – a economia, quebrando os exportadores com o câmbio. É nesse coquetel – desses e outros equívocos – ortodoxo, suicida e orwelliano, referendado por um Congresso Nacional majoritariamente acoelhado e conservador, que se faz de ignorante, que se tem que procurar as razões para a tragédia da economia. E não apenas nas desonerações de Dilma ou no fundo do bolso vazio de dinheiro e de esperança, e agora, também, de futuro, dos trabalhadores brasileiros.

Fonte: Mauro Santayana. 

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