A “grande imprensa” expressa a classe média

Por Cadu Amaral. 

O governo federal quer distribuir conversores para o sinal digital da TV para famílias de baixa renda. Logo a Folha de São Paulo já trata o tema de forma pejorativa. Obviamente que botou na boca de sabe-se lá quem. Diz que o programa ganhou o apelido de “bolsa novela”, mas não diz quem o deu.
É a velha lógica de soltar a opinião como informação e sempre na boca do vento. A informação não tem fonte concreta. Boato mesmo.
Os jornalões ainda sobrevivem por dois motivos básicos: verba pública e a classe média tradicional.
A verba publicitária pública deveria ser mais bem distribuída a fim de ajudar a garantir pluralidade na informação e opinião que circula no país. Somente assim teremos uma Imprensa, com “I” maiúsculo, independente de verdade no país e não como hoje, independente dos fatos.
E a classe média tradicional é portadora de inúmeros preconceitos, seja de classe, seja de qualquer tipo. É ela que se regozija com os editoriais da “grande imprensa”. É ela que comenta os horrores da distribuição de renda nos cafés chiques das grandes cidades. Principalmente quando voltam de viagem. “Os aeroportos estão cheios de pobre”.

O reajuste da gasolina – abaixo da inflação – é o mais novo motivo para os chiliques. A classe média usa como argumento que só ela produz e passa o dia na rua e que se gasta mais com gasolina do que com energia. É a tentativa torpe de desqualificar a redução da conta de luz.
É o umbigo acima do coletivo. Por mais que se necessite da gasolina, ela não é o item que mais onera a produção.
Trata-se de um umbiguismo sem igual e em Alagoas é pior. Ela não passa da corte da “doce elite açucareira” que manda e desmanda no Estado. A classe média alagoana é tão cega em sua vaidade que não percebe que assim como os “matutos” que deram origem às quadrilhas juninas imitando as danças e roupas da nobreza, ela quer imitar, ser como a elite.
As roupas matutas das quadrilhas juninas têm remendo por que as roupas da nobreza não tinham rasgos. Como os pobres não compravam roupas novas, eles a remendavam para parecer com a moda da corte.
A elite não dá a mínima para a classe média, seja em Alagoas ou no restante do Brasil. Do mesmo jeito que a realeza não dava a mínima para a corte ou a nobreza. Eram apenas “xeleléus” a quem se mostrava a sua inigualável condição de superioridade.
É para esse público que os editoriais dos jornalões se dirigem. Um público extremamente conservador, baseado em valores que mesmo quando eles surgiram no Brasil – na época do Império – em outros cantos do mundo já estavam em decadência.
A Tradição, Família e propriedade (TFP) tão útil à implantação da ditadura e à manutenção das oligarquias no poder no país nunca deixou de manter sua influência. Mesmo de forma indireta. A lógica da TFP é a lógica da classe média tradicional.
Existe um debate sobre se a chamada nova classe média é realmente classe média. Se ela possui os hábitos da tradicional. Ou mesmo um debate sobre a disputa política dessa nova classe média.
Sobre adquirir os hábitos da classe média tradicional, isso seria lamentável. Milhões de pessoas melhoraram de vida e não podem se tornar aduladores da “Casa Grande”. Daí a importância da disputa política desses setores que ascenderam socialmente de 2003 para cá.
A “bolsa novela” é a mais uma amostra do ranço de uma pretensa elite com o restante do povo.
Logo a Miriam Leitão vai dizer no Bom Dia (?) Brasil que isso vai gerar inflação; Veja vai dizer que isso é esquema do Marcos Valério e sob o comando de Lula; Folha e Estadão vão afirmar que existe uma denúncia na Procuradoria Geral da República e que Roberto Gurgel vai abrir um processo para investigar e Claro, Joaquim Barbosa do STF vai defender a investigação.
E classe média tradicional vai chiar nos cafés e salões de beleza da alta roda: “agora pobre que ter sinal digital na sua TV!”

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