A força da mulher senegalesa

Por Caroline Dall’Agnoll, de Caxias do Sul, para Desacato.info.

Nabou Samb é filha do Senegal, país africano que até 2013 possuía 14,13 milhões de habitantes. Vive em Caxias do Sul, cidade serrana gaúcha, com o marido e a filha há 3 anos e meio. A Aramy, de 2 anos e 8 meses, é a primeira criança, de pais senegaleses, a nascer em solo caxiense. Os olhos de Aramy contam uma história. História de lutas que presencia todos os dias. A luta da mãe, a luta do pai, a luta do seu povo africano.

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Nabou Samb (foto: Vinícius Reis)

Eliane Brum, jornalista que hoje escreve artigos para o jornal El País, disse em um dos seus livros – O Olho da Rua – que o “Repórter de verdade atravessa a rua de si mesmo para enxergar uma outra visão de mundo”.

O atravessar a rua não é tão fácil como a gente imagina. Abandonar preconceitos, o olhar ocidental moralista e, muitas vezes desumano. É preciso se esvaziar.

Na produção da pauta sobre as senegalesas escutava que as mesmas eram submissas, que não trabalhavam e que a voz final é sempre do homem. Quando Eliane Brum fala que precisamos atravessar a rua, é preciso entender que atravessar é, inclusive, ir além do olhar ocidental europeu que olha para o continente africano e só enxerga a pobreza. Atravessar a rua é permitir-se ao novo, a outra cultura, é olhar para o outro.

Nabou conta que aqui no Brasil as pessoas acham que eles, africanos, “não sabem de nada! Que no Senegal não há nada.”

Monique Rocco, cineasta e fundadora do Coletivo Criadoras Negras RS, observa que “por muitos anos e, até hoje, as pessoas só enxergam a África da Miséria. Não conseguem ver a África da Cultura, a África do Povo”.

As mulheres africanas têm um orgulho e um pertencimento que carregam na mala. Orgulho e força da mãe África que atravessa o oceano.

No Senegal as pessoas são muito unidas e se ajudam muito. A saudade que o povo sente do seu país é muito forte. Outro aspecto que as mulheres apontam de diferença de um país do outro é que no Brasil há racismo e, no Senegal, não! Marieme Alima Kébé, senegalesa de 32 anos, conta que quando uma pessoa branca vai ao Senegal, as pessoas a acolhem, diferentemente do Brasil.

Marieme veio sozinha. Mora em Caxias há 3 anos. Atravessou o oceano em busca de oportunidade e trabalho. Uma boa parte do dinheiro que consegue trabalhando na cozinha de um comércio, em Caxias do Sul, vai para a família que permanece no Senegal.

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Marieme Alima Kébé (foto: Juarez Franco)

Fatou Sokhna ep Mbodyi e N’deye Oumou Kafsome Seye também moram em Caxias do Sul. Fatou veio com o marido há 4 anos e N’deye veio sozinha. As senegalesas trabalham juntas na padaria da Sônia. Aqui no Brasil aprenderam muitas coisas, inclusive a luta contra os preconceitos que Fatou relata tristemente.

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Fatou Sokhna ep Mbodyi e N’deye Oumou Kafsome Seye (foto:Vinícius Reis)

– No ônibus tu entra, tu senta de um lado, ninguém quer sentar do seu lado. Tu vê que eles levantam e sentam do outro lado. Isso é preconceituoso! Nós vivemos todo dia isso que tem aqui, todo dia! Mas nós somos fortes e vamos viver com isso! Aqui, ninguém é melhor que ninguém!

As Lutas são muitas, mas força que vem da África, do empoderamento da mulher negra, as fazem seguir em frente sempre.

Caxias do Sul, desde 2012, ocupa a posição de cidade com um dos principais destinos das migrações internacionais, especialmente senegalesas, haitianas e ganesas, que ocorreram em períodos muito curtos. Em 2010 essa população correspondia a 0,17%, ou seja, 732 migrantes. Em 2015, esse número já havia aumentado em mais de 5 vezes, totalizando mais de 4 mil habitantes. Dados divulgados pelo IBGE.

Tratando-se de migrações femininas, os números são bem diferentes. Segundo o Centro de Atendimento ao Migrante Caxias do Sul, dos 3.377 migrantes cadastrados no período de 2011 a 2015, só 6% eram mulheres. E desse total, apenas 22 eram senegalesas.

A mulher senegalesa sofre discriminação por ser mulher, por ser negra, por ser muçulmana e por ser também, a minoria. Mas elas não desistem. A mãe África ensinou a todas que a coragem e a luta é algo que pertence ao ser humano e não apenas aos homens brancos.

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Aramy (fotoVinícius Reis)

Foto de capa: Nabou e Aramy, por Vinícius Reis

 

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