A encantadora busca do ser

Foto: Reprodução

Por Mayara Santos para Desacato.info

Das coisas magníficas que aconteceram durante as minhas férias, sem sombra de dúvidas Me chame pelo seu nome (Call me by your name, 2017) foi disparada a melhor de todas. Indicado por uma amiga pouco antes da cerimônia do Oscar 2018, ao qual foi indicado a três categorias, levando para casa a de Melhor roteiro adaptado, demorei para assistir. Quando assisti, me questionei por dias por que demorei tanto.

Dito por alguns “um filme LGBT água com açúcar”, o romance vai além disso. Com trilha sonora e tons pastéis, porém vivos de filme 35mm que configuram e remontam com maestria o que é ser jovem em um determinado local, incluso em um contexto social privilegiado nos anos 1980. Filho de um casal de professores/pesquisadores, Elio, de 17 anos, passa todos os verões com a família na Itália, onde recebem os intercambistas de seu pai.

O visitante da vez é Oliver, um homem charmoso beirando o 30 anos que encanta a todas as amigas de Elio. A princípio, o garoto mantém distância do homem, no entanto, passa a se aproximar a medida que percebe um interesse mútuo.

À primeira vista, o enredo da história parece simples demais para ser desenvolvido ao longo de suas mais de duas horas, entretanto, é agradável aos olhos e para fomentar discussões. Para além de abordagens de cunho militante, o filme traz novos ares sobre a sexualidade e a passagem da adolescência para a vida adulta.

Se em Com amor, Simon (Love, Simon, 2018), o protagonista não compreendia por que “sair do armário” é um comportamento aceitável para pessoas LGBT e não para heterossexuais, em Me chame pelo seu nome vemos este comportamento cai por terra a partir de um relacionamento que foge de expectativas heteronormativas quando não se coloca à disposição de questionamentos.

Elio e Oliver vivem intensamente uma relação. Se um já está prestes a se formar no mestrado, aproveitando o convívio com um profissional para terminar seu livro, o outro se descobre enquanto ser. Elio, na intenção de entender os desejos de seu corpo, mantém um curto relacionamento paralelo com uma amiga. E esta é uma das parte mais interessantes da película.

Conversando com um amigo a respeito de nossas leituras individuais, para ele, o protagonista é bissexual; para mim, ele é homossexual, mas seu corpo responde a estímulos independente do gênero do parceiro, pois acredito que, se não consideramos as variadas formas de atração em que a sexualidade se manifesta, estamos pensando dentro de uma caixa de lógicas limitadas.

Todavia, ao olhar atento de uma jovem adulta, é uma obra grandiosíssima que discorre sobre a beleza e dramaticidade dos amores juvenis e o que é amadurecer. E, de quebra, nos últimos 20 minutos há uma breve reflexão sobre o amor romântico, a finitude dos laços e as possibilidades de afetos construídos ao longo dos anos.

Diferente do que se imagina, Me chame pelo seu nome não é uma obra meramente contemplativa, onde trabalha bem com a iluminação e as maravilhosas locações em espaços abertos. É também reflexiva sobre a intensidade das escolhas e sentimentos que temos na juventude, capazes de nos tornar mais maduros e humanos.

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