A Dimensão Pedagógica da Política: Por Ursula Silva, Vice Reitora Eleita da UFPEL – Universidade Federal de Pelotas

Foto: Facebook de Ursula Silva

A Universidade protagonista da Pesquisa sobre a COVID-19, reconhecida nacional e mundialmente, é de novo protagonista numa ação inédita contra a Intervenção de Bolsonaro nas Universidades Federais. Leia o emocionante e contundente comentário de Ursula Silva, Vice-Reitora Eleita da UFPEL:

“Não posso me furtar de refletir sobre este momento de turbulência pelo qual passa a UFPel.

E reflito como docente e vice-reitora eleita pela comunidade.

Desde o início da pandemia no país, em março de 2020, me senti no compromisso de atuar, como professora e como diretora do Centro de Artes, para minimizar, de algum modo, e auxiliar colegas da saúde, mesmo sendo leiga no tema. Eu e um grupo de colegas nos propusemos a estudar e fazer manualmente face-shields (que foram para o Hospital Universitário e para as UBS da cidade).

Assim como nós, todas as unidades se colocaram à disposição para auxiliar, dentro de suas possibilidades, no enfrentamento da Covid. E a UFPel teve um grande protagonismo, nacional e internacionalmente, com a pesquisa coordenada por Pedro Hallal.

Isso é espírito coletivo, isso é responsabilidade social.

Isso é o esperado de pessoas que fazem parte de uma universidade. Da mesma forma, agora, como profissional da educação, como docente que só consegue estar em sala de aula se for para ser coerente com o que pensa e faz, eu reflito sobre esta situação que nos colocou a necessidade de tomar atitudes.

Precisamos considerar a dimensão pedagógica da política, que é diferente de política partidária, mas ter uma concepção de democracia, de sociedade, de universidade é necessário para atuarmos politicamente (lembrando que política vem de POLIS, do grego, cidade-estado), ou seja, todos os cidadãos e cidadãs agem politicamente, diariamente, pelo simples fato de fazerem parte da sociedade: negar participar de situações políticas é também um posicionamento político.

Para podermos ser gestores, é preciso defender uma abordagem de educação, e, no nosso caso, é preciso ser coerente com o programa que defendemos, eleito pela comunidade acadêmica, que aponta a democracia e a autonomia universitária como primordiais.

No tema da nomeação para a reitoria, tínhamos, pela lógica formal e pela lei, apenas dois caminhos: renunciar ou assumir. A profa. Isabela Andrade poderia renunciar e ponto. Ou a profa Isabela assumiria a nomeação e ponto.

Deste modo, pelo viés de uma pedagogia política, fizemos hermeneuticamente uma outra leitura. Talvez nos passos de Edgar Morin, que nos diz para ensinar nossos estudantes a enfrentar o inesperado, a sermos inovadores e criativos frente às adversidades e complexidades do contexto e do mundo, a outra alternativa é: a profa Isabela assume e vírgula, ela é a reitora nomeada e o prof Paulo Ferreira é nosso reitor eleito.

E mais vírgulas,,,,, entramos com recurso de modo legal porque queremos que nosso reitor eleito seja empossado,,, teremos uma reitoria compartilhada, porque já estamos atuando deste modo, com decisões tomadas em grupo,,, ele assume funções como Pró-reitor dentro de um programa, que já é defendido por nós, até que se resolva esta situação juridicamente, e mais vírgulas,,,,, o país passa a refletir sobre a autonomia universitária amplamente,,, e eu como vice-reitora eleita pela comunidade serei nomeada.

Vamos colocar vírgulas e ampliar o debate ao invés de colocar um ponto.

Claro que o presidente tem a prerrogativa legal de nomear qualquer um dos nomes da lista tríplice. Mas, se eu, como docente de uma universidade no Sul do país, tenho me colocado no lugar de tanta gente, na pandemia, dos profissionais de saúde, das famílias que estão tendo perdas, dos educadores que estão com dificuldades para poder ensinar, dos estudantes que precisam ter apoio e acesso ao ensino, POR QUÊ um presidente da República não faria o mesmo como nosso dirigente máximo? É o que esperamos de nosso representante maior, que ele respeite a vontade da comunidade acadêmica.

Daí a resposta vai chegar ao plano de governo, ao modo como esta autonomia do presidente é exercida em prol ou não da educação, da valorização das universidades, dos profissionais da educação e da saúde, de seu modo de pensar em relação à vacina e à saúde da população, enfim, nesta sequencia podemos entender que existe uma lógica e que ela não vai mudar apenas com a nossa renúncia, apostando numa nomeação de outro nome da lista, o que já não aconteceu.

A possibilidade, com uma renúncia, é a de termos um nome estranho à comunidade da UFPel para nos comandar, quem quer arriscar????Discordo (e isso é saudável na democracia) de colegas que pregam a renúncia da profa Isabela Andrade. Esta opção só seria aceitável se ela fosse estranha ao nosso programa de gestão que foi legitimado pelas eleições de 2020, em que a UFPel Diversa foi vencedora.

A profa Isabela, como o prof. Paulo e o prof. Eraldo, fazem parte de um Programa, elaborado e defendido pelo grupo UFPel Diversa. Além disso, se houver renúncia, eu como vice-reitora eleita também não poderei ser nomeada. Diferentemente da pandemia, para a vice-reitoria desta universidade, eu estou preparada. E venho me preparando durante 25 anos dentro da UFPel, como docente, como gestora em coordenação de curso, em direção de unidade, em conselhos superiores.

Nós da UFPel Diversa, profa Isabela como reitora nomeada, prof. Paulo reitor eleito, junto com a equipe de gestão já organizada, estamos absolutamente prontos para, a partir de segunda, dia 11 de janeiro, estar à frente da UFPel, numa reitoria compartilhada.

Podem contar conosco, e nós queremos contar com todxs estudantxs, professorxs e técnicxs da UFPel.

Espero contar com a comunidade que me elegeu vice-reitora para garantir que vice-reitora eleita seja empossada!”

 

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