A cultura dá muitas voltas

Por Dinovaldo Gilioli*, para Desacato.info

No início de seu mandato, o presidente Michel Temer, que assumiu o cargo por força de um golpe, teve que recuar de sua decisão e manter o Ministério da Cultura que havia sido extinto à época. Tentando se equilibrar na corda bamba de seu governo, o impopular presidente se depara com uma denúncia que atinge o âmago do poder central. Eis que esta surge justamente do Ministério da Cultura, que feito fênix renasceu das cinzas.

Maldita hora em que me deixei sucumbir pelas pressões, deve estar pensando agora o presidente-poeta. Além de suportar o fato de ter que voltar atrás numa decisão, (extinção do MinC), tem que conviver com mais um desgaste vindo justamente da área cultural que tanto já lhe “incomodou”. As declarações de Marcelo Calero, que pediu demissão do cargo de ministro da Cultura, por pressões palacianas, soam como uma bomba.

O ex-ministro da Cultura, segundo a Folha de São Paulo, disse em depoimento à Polícia Federal que o presidente da República, Michel Temer, o “enquadrou” no intuito de encontrar uma “saída” para obra de interesse do ministro da secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, em Salvador (BA). Caleroacusa Gedell e denuncia a pressão sofrida para que o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) liberasse o projeto imobiliário La Vue Ladeira da Barra, onde o ministro adquiriu uma unidade.

No depoimento à PF, Calero afirma que as pressões continuaram mesmo após o Iphan ter dado parecer final contrário ao empreendimento, em 16 de novembro. “Que no dia 17 de novembro foi convocado pelo presidente Michel Temer a comparecer ao Palácio do Planalto; que nesta reunião o presidente disse que a decisão do Iphan havia criado ‘dificuldades operacionais’ em seu gabinete, posto que o ministro Geddel encontrava-se bastante irritado.”

Calero afirmou ter se sentido decepcionado pelo fato de Temer ter encarado como normal a pressão de Geddel, que era articulador do governo e é amigo do presidente da República há mais de duas décadas. Pelo fato de Temer não ter lhe dado apoio, e tê-lo “enquadrado”. O presidente nega que tenha “enquadrado” e pressionado Calero para modificar decisão do Iphan.

Michel Temerjá muito ocupado com as ocupações nas escolas; já muito ocupado com as pressões das centrais sindicais, que vem convocando manifestações em reação às medidas que prejudicam interesses dos trabalhadores e da população em geral; como é o caso da PEC 55 (ex PEC 241), terá que se ocupar, e muito, para tentar apagar esse novo incêndio; mesmo com a renúncia do ministro Geddel nesta sexta (25/11).Renúncia esta, talvez na tentativa de abafar a crise gerada pela denúncia de Calero e de evitar mais desgaste ainda para o governo.

Geddel é o sexto ministro a deixar o governo desde que Michel Temer se apossou da presidência da República, em maio. Antes dele, caíram Romero Jucá (Planejamento), Fabiano Silveira (Transparência), Fábio Medina Osório (AGU), Henrique Eduardo Alves (Turismo) e Marcelo Calero (Cultura).

Temer deve estar arrependido de ter recriado o MinC. Tarde demais. Assim como o mundo, a cultura dá muitas voltas!

*Dinovaldo Gilioli, escritor.

Ilustração: Tony Futura.

 

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