A Culpa é do PT?

DilmaEste será um ano difícil.

Por Pablo Villaça.

Anos eleitorais sempre são desgastantes para qualquer um que se importe com política, mas 2014 promete ser um período particularmente exaustivo. Considerando a virulência manifestada nas redes sociais por aqueles que se colocam contra o governo federal – e insisto em apontar que o tom e a agressividade dos argumentos por parte da esquerda nem chegam aos pés daqueles usados pela direita -, os próximos meses serão tomados por factóides, maniqueísmo midiático e baixarias.

Que a mídia há muito demoniza o governo federal enquanto higieniza todo e qualquer escândalo envolvendo a oposição é algo inquestionável. Basta ver o que ocorre agora em São Paulo, quando UOL, Foxlha, Veja e Estadão insistem em dizer que não haverá racionamento de água no estado, repetindo o discurso de Alckmin, quando um levantamento recente feito pelo Instituto Data Popular aponta que 23% da população já sofre com a falta de água – 35% só na capital. O mais revelador, contudo, é perceber que o problema afeta duas vezes mais as famílias de baixa renda: 12% dos que ganham mais de dez salários-mínimos contra 25% daqueles que recebem até um salário. Enquanto isso, denúncias envolvendo a Petrobrás (que, claro, devem ser investigadas) ocupam as páginas dos portais e dos jornais mesmo que o processo de apuração ainda se encontre em andamento. Ou seja: um fato é ignorado por prejudicar Alckmin; uma denúncia é amplamente discutida por prejudicar Dilma. Dois pesos e duas medidas.

Aliás, faço um desafio: entre no UOL todos os dias (mas não clique em nada; eles não merecem pageviews) e perceberá que sempre haverá uma manchete anti-governo em destaque. Se houver algo positivo, estará enterrado no pé da página. Por outro lado, chamadas envolvendo a oposição sempre ganham viés positivo. Não é à toa que, há algum tempo, o UOL mudou a manchete da mesma notícia em um curto espaço de tempo, transformando um fato positivo em negativo no espaço de apenas algumas horas. Da mesma maneira, é impossível esquecer a manchete da Folha, em novembro, que informava “Prefeito sabia de tudo, diz fiscal preso”, esquecendo-se convenientemente de observar que o prefeito em questão era o ex, Kassab, e não o atual, Haddad.

Este ataque diário já trouxe resultados: virou clichê – e até motivo de piada – notar como sempre há alguém culpando o PT por tudo que ocorre no mundo, desde questões municipais em cidades administradas por tucanos ou democratas até, pasmem, a derrota do Vasco no campeonato brasileiro (não é brincadeira; o técnico da equipe atribuiu a responsabilidade ao PT em entrevista pós-jogo). Enquanto isso, comentaristas de portal (o esgoto do esgoto da Internet) publicam ameaças/desejos de morte à presidente – sendo aplaudidos com “likes” pelos colegas -, contribuindo para o processo de desumanização da política e do debate sadio.

O mais irônico é que estes mesmos jornalistas e comentaristas de Internet insistem em afirmar que o governo é “censor”. Ora, se o governo Dilma realmente aplica a censura nos meios de comunicação, o censor oficial deveria ser imediatamente demitido, pois está fazendo um trabalho pavoroso, já que, como já dito, a presidente e sua gestão se encontram sob ataque constante. O curioso é que estes mesmo indivíduos que gritam “Censura!” nada comentam sobre a tentativa de Aécio Neves de censurar o Google ou sobre a postura do senador tucano Aloysio Nunes, que, ao ouvir uma pergunta feita por um sujeito, partiu para a agressão física e ainda conseguiu fazer o sujeito ser preso. Detalhe: em ambos os casos, tudo foi registrado pela Justiça ou em vídeo, tornando impossível negar o que ocorreu. Aliás, sabem como O Globo noticiou a agressão de Nunes? “Ex-assessor de deputada petista é preso por insultar senador”. Vejam o vídeo e reflitam se realmente foi isto que ocorreu.

MAS, ENTÃO, O QUE FAZER?

Ah, jovem padawan, esta é a questão central. Porque o que vem ocorrendo é que, acuados pela enxurrada de ataques por parte da mídia e comentaristas de portal, os militantes de esquerda, associados ou não a algum partido, parecem cada vez mais tímidos e intimidados. E é precisamente isto que a direita deseja: criar uma sensação de instabilidade e de insatisfação tamanhos até que a vitória das forças conservadoras se torne viável. Não é à toa que a aprovação de Dilma caiu – estranho seria se, com tantas manchetes contra seu governo, ela se mantivesse no mesmo lugar. No entanto, as perguntas mais importantes são: a queda da presidente reflete o estado das coisas? Estamos mesmo indo para o buraco sob a liderança de Dilma Rousseff? A presidente está destruindo o país? As coisas estão piorando?

Errr… não. Nem de perto. O desemprego nunca esteve tão baixo. 22 milhões de pessoas deixaram a situação de miséria. Educação e Saúde nunca receberam tantas verbas. O Bolsa Família, tão atacado pela direita, é visto com admiração pelo resto do mundo.

Não que a gestão Dilma seja perfeita. Particularmente, me irrito constantemente com o espaço que o governo confere aos fundamentalistas religiosos e à bancada ruralista. Movimentos sociais foram solenemente ignorados neste primeiro mandato e a aliança do PT que permitiu a ascensão de figuras como Márcio Lacerda em Belo Horizonte provocou danos profundos à minha querida cidade. (Reparem que não linkei nada para comprovar os aspectos negativos relacionados à Dilma, já que os conservadores não pedem fontes quando a informação é anti-governo e não protestarão.)

Mas não, mesmo considerando os problemas inquestionáveis do governo, o retrato de caos pintado pela mídia não corresponde à realidade.

“Mas a inflação está descontrolada!” “A Petrobrás está afundando!”

Ai, ai.

A inflação anual na gestão Dilma é menor que aquelas dos governos Lula e FHC.

Inflação anual sob Dilma: 6,08%.

Sob Lula: 7,53%.

Sob FHC: 12,4%.

“Ah, mas FHC pegou o país muito pior e, quando entregou a Lula, tudo já estava melhorando! Lula foi beneficiado por tudo que FHC fez.”

Hum… não. FHC, na verdade, quebrou o Brasil três vezes. Em seu segundo mandato, a inflação vinha subindo.

12anos

E a Petrobrás? Está mesmo afundando sob Dilma?

Vamos ver. Em 2002, a Petrobrás valia 15,5 bilhões de dólares. Em 2012? 126 bilhões. O lucro da Petrobrás em 2002: 8,1 bilhões. Em 2012? 21,2 bilhões. A receita da Petrobrás em 2002: 69,2 bilhões. Em 2012? 281,3 bilhões.

Uou.

Por outro lado, vale apontar que FHC tinha planos de privatizar a empresa (lembram da “Petrobrax”?); a impediu de buscar empréstimos no exterior; quebrou o monopólio sobre o petróleo com o objetivo de permitir que empresas estrangeiras explorassem nossas jazidas; entre outras ações pavorosas.

E Pasadena? Isto justifica um mau negócio? Bom, negócios são negócios; erros de avaliação ocorrem. Agora, se envolveram negligência e/ou corrupção, devem ser investigados e punidos. Se envolveram. Ainda assim, é importante apontar que a questão é complexa e que até mesmo o especialista convidado pela Globo News para opinar sobre o assunto mostrou-se favorável à maneira com que a Petrobrás vem sendo administrada.

OK, OK, MAS VOCÊ NÃO RESPONDEU O QUE DEVEMOS FAZER!

Verdade. Acabei me distraindo.

Bom, neste momento, já que a Comunicação do governo federal parece incapaz de se defender (este é um problema histórico das gestões Lula-Dilma; sofrem de Síndrome de Estocolmo e parecem gostar de apanhar da mídia, sempre sonhando em conquistá-la), cabe a você combater a campanha de desinformação da mídia. Sempre que ler (mais uma) manchete negativa no UOL, leia a matéria e suas entrelinhas. Ou melhor: busque outras fontes. Esqueça o UOL e a Abril de modo geral. Uma coisa é ter posição política; outra é maquiar/alterar/manipular informações.

Por sorte, temos os fatos do nosso lado e o Google existe para isso. O importante é não ficar calado – o silêncio dá a impressão de estarmos admitindo um fracasso que não existe. Estimulem seus amigos e seus familiares a pesquisarem. Quando vierem com um “a culpa é da Dilma!”, pergunte por quê. Peça fontes. Não tenha medo de ser atacado(a) – passo por isso todo dia nas redes sociais (e certamente acontecerá nos comentários deste post) e posso afirmar que não dói. Com o tempo, até passa a ser divertido, já que o desespero da oposição se torna evidente assim que é confrontada com os fatos.

Não podemos desanimar. Não podemos nos acovardar. Há um projeto muito bonito – mesmo que falho – em andamento. E se você se lembra de como o país era no período FHC (ou como é na gestão tucana em MG e SP), sabe que não podemos caminhar para trás.

A vantagem é que – de novo – os fatos e as estatísticas estão do nosso lado, mesmo que a oposição tente fazer o possível para desmerecê-los/questioná-los – desde manobras matemáticas absurdas e gritos de “Você está esquecendo o contexto!” até manipulações grosseiras como aquelas feitas nos gráficos exibidos nos telejornais da Globo, que magicamente transformam 5,91% em algo superior a 6,50%:

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É uma batalha árdua, que exige esforço, dedicação e paciência.

Mas querem saber? Que vale muito a pena.

Fonte: Diário de Bordo

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