A crise estrutural do capitalismo, por Douglas Kovaleski

Pintura de James Sidney Edouard.

Por Douglas F. Kovaleski, para Desacato. info.

Com o texto dessa semana, inicio uma série que irá abordar a crise estrutural do capitalismo e sua relação com a saúde, Estado, políticas sociais e a situação que vivemos no Brasil e no mundo. Essa direção de escrita se deve à percepção de que o conjunto de movimentos sociais, especialmente no Brasil com o governo Bolsonaro, atuam por vezes sobre pautas específicas e locais, sem uma articulação com a conjuntura de intensificação da crise do capitalismo.

A construção de uma análise de conjuntura e de um horizonte comum é a única possibilidade de unificação das lutas e da obtenção de ganhos reais para a classe trabalhadora. Essa perspectiva comum traz clareza, tranquilidade e inteligência na ação de cada movimento, desde pequenos protestos até mobilizações maiores, como greves e ocupações. Com um horizonte político comum, evita-se o desperdício de energia, frustrações pessoais e derrotas dos movimentos de esquerda.

Segundo a obra de István Mészaros parafraseada no título deste texto, “A crise estrutural do capitalismo”, a partir de 1973 findaram-se as crises cíclicas e iniciou-se um período de crise contínua, que apenas se aprofunda de maneira processual e unidirecional, com base na contradição econômica imposta pelo capitalismo, mas que se espraia para todos setores da vida social.

A crise em uma concepção simplista, trata da inviabilidade da manutenção do sistema, como característica própria de sua lógica. Essa inviabilidade decorre da concentração crescente de riquezas  nas mãos da restrita burguesia, que ocorre de maneira paralela à crescente produção de mercadorias impossibilitadas de consumo pela imensa massa de trabalhadores. Observa-se aí uma redução gradual do valor (trabalho) das mercadorias e uma tendência decrescente das taxas de lucro. Outra vertente nessa discussão e cada vez mais em relevo na atualidade, trata dos limites ambientais do desenvolvimento da produção capitalista na escala que se pretende.

Estes argumentos se fundamentam em algumas características marcantes no capitalismo e que independem da vontade das pessoas envolvidas nele: a) o capitalismo não tem limites para a sua expansão, essa é a característica mais importante na discussão da crise, pois o capital cresce ou morre, quadro que se agudiza nesse período regido pelo capital financeiro; b) sua processualidade é incontrolável, pois não há planejamento no capitalismo, apenas a individualidade de cada pessoa ou empresa competindo no mercado; c) seu caráter destrutivo, pois o capitalismo é indiferente para com a vida, a natureza, as pessoas ou qualquer outra coisa que não seja a sua reprodução. Dessa forma, esse sistema destrói tudo o que estiver em seu caminho.

Obviamente que a compreensão dessas características colocam-nos numa posição de extrema preocupação diante da humanidade, do meio ambiente e da própria manutenção da vida e da vida humana com uma qualidade mínima no planeta terra. A saúde da classe trabalhadora é colocada como mais um empecilho para o capital, ainda mais em um período onde o desemprego garante a reposição rápida e mais barata da força de trabalho.

 

Douglas Francisco Kovaleski é professor da Universidade Federal de Santa Catarina na área de Saúde Coletiva e militante dos movimentos sociais.

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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