A colonialidade nossa de cada dia

cultura de massasPor Thiago Burckhart, para Desacato.info.

Apesar dos grandes avanços nos estudos pós-coloniais empreendidos nas universidades e institutos de pesquisa. Apesar da crítica feminista e dos movimentos sociais de contestação cultural que viam – e ainda veem – na mudança cultural uma possibilidade de emancipação e libertação, nós ainda somos – grosso modo – culturalmente colonizados. Quiçá não só culturalmente, mas são diversas as atitudes do nosso cotidiano, bem como o modo de pensar da maioria dos brasileiros que atestam claramente essa realidade.

Roupas de marca, sapatos de marca, muitas e muitas marcas. Somos o “eu etiqueta”, como já falava Carlos Drummond de Andrade, o homem que se transformou em coisa, coisamente… Coisificado pela sua situação, aliena-se de sua própria condição humana, pela qual acredita que parecer basta, não precisa ser! A colonialidade é algo que atinge tanto pobres quanto ricos, um fenômeno que não pertence só a uma classe social, apesar de que opera de diferentes formas nos diferentes estratos.

Cultura de massa

Talvez a indústria cultural é o que mais deixa evidente a colonização nos dias de hoje. A cultura de massa é aquela que não é criada pelas massas – como uma manifestação da identidade e cultura de um povo – mas que tem a grande massa como destinatário primeiro de suas “obras de arte”. Criam-se assim as grandes massas homogeneizadas, onde todos são iguais, gostam das mesmas músicas, dos mesmos cantores, dos mesmos filmes, até usam vestimentas muito similares.

Enquanto esses são aniquilados em sua subjetividade, tendo sua identidade negada, passam a tornarem-se escravos culturais. Seres sem identidade, sem o mínimo de conhecimento sobre a riqueza cultural, da cultura popular que permeia a realidade brasileira e latino-americana.

Eurocentrismo

A independência do Brasil no século XIX não foi um evento que nos permitiu desvencilhar das garras do poderio europeu. Desde lá ainda continuamos a olhar para a Europa, para os produtos, os carros, os filmes, o modo de vida europeu, e esquecemos que somos latino-americanos Viramos as costas para a nossa realidade. São poucos ainda os que conhecem alguma coisa sobre a América Latina, seja sobre história, economia ou política. O fato é que somos “alfabetizados” a partir de um olhar eurocêntrico. As escolas ainda o reproduzem, como colonização do saber.

Esse novo imperialismo nos fascina com a ideia de poder que reproduz, e acaba por cooptar a maior parte da população, já que sofremos do mal do “vazio de pensamento”, de uma incapacidade de pensar sobre as coisas realmente importantes da vida e da humanidade de modo geral – como já falava Hannah Arendt em 1957. Esse é um dos maiores perigos do nosso tempo, haja vista que se nós não pensamos por nós mesmos, como indivíduos livres, outros pensarão por nós… e nos manipularão.

O poder necessita de um mecanismo subjetivo de reprodução, e atualmente ele não está achando difícil de encontrar e se difundir. Nesse cenário somos despojados de nossos saberes, e mesmo dos nossos meios de expressão, onde nossos corpos dançam a música do poder. De fato, é no corpo que a colonialidade deixa as suas marcas mais expressas, onde o poder se manifesta de modo muito claro e objetivo. E é tomando o controle de nossos corpos, de nossa subjetividade, que poderemos inverter toda essa lógica colonizante.

Thiago Burckhart é estudante de Direito.

 Imagem: Boligán.

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