A carta de Freud à mãe de um homossexual: “A homossexualidade não pode ser qualificada como uma doença”

Por Kiko Nogueira.

Em 1935, Sigmund Freud respondeu a uma mãe preocupada com o filho. Em carta, Freud registra que não acreditava que a homossexualidade fosse uma doença.

“Não supõe vício nem degradação alguma”, afirma.

A missiva tem circulado nas redes em reação à liminar que autoriza psicólogos a venderem “terapias de reversão sexual”, também conhecidas como “cura gay”.

Freud faz referência a Platão, Michelangelo e Leonardo Da Vinci: “É uma grande injustiça perseguir a homossexualidade como crime – e uma crueldade, também. Se você não acredita em mim, leia os livros de Havelock Ellis”.

Ellis (1859-1939), médico e psicólogo britânico, foi co-autor do primeiro livro britânico sobre homossexualidade, lançado em 1897.

A carta de Freud acabou chegando às mãos do sexólogo americano Alfred Kinsey, responsável por um estudo até então inédito sobre comportamentos sexuais masculinos (1948) e femininos (1953), e foi publicada em uma edição do Jornal Americano de Psiquiatria em 1951.

O original está exposto no Museu da Sexologia, em Londres.

Além de deturpar as palavras de Jesus, os “psicólogos cristãos” estupram as lições do pai da psicanálise.

19 de abril de 1935

 

Minha querida Senhora,

 

Lendo a sua carta, deduzo que seu filho é homossexual. Chamou fortemente a minha atenção o fato de a senhora não mencionar este termo na informação que acerca dele me enviou. Poderia lhe perguntar por que razão? Não tenho dúvidas que a homossexualidade não representa uma vantagem. No entanto, também não existem motivos para se envergonhar dela, já que isso não supõe vício nem degradação alguma.

Não pode ser qualificada como uma doença e nós a consideramos como uma variante da função sexual, produto de certa interrupção no desenvolvimento sexual. Muitos homens de grande respeito da Antiguidade e Atualidade foram homossexuais, e dentre eles, alguns dos personagens de maior destaque na história como Platão, Miguel Ângelo, Leonardo da Vinci, etc. É uma grande injustiça e também uma crueldade, perseguir a homossexualidade como se esta fosse um delito. Caso não acredite na minha palavra, sugiro-lhe a leitura dos livros de Havelock Ellis.

Ao me perguntar se eu posso lhe oferecer a minha ajuda, imagino que isso seja uma tentativa de indagar acerca da minha posição em relação à abolição da homossexualidade, visando substituí-la por uma heterossexualidade normal. A minha resposta é que, em termos gerais, nada parecido podemos prometer. Em certos casos conseguimos desenvolver rudimentos das tendências heterossexuais presentes em todo homossexual, embora na maioria dos casos não seja possível. A questão fundamenta-se principalmente, na qualidade e idade do sujeito, sem possibilidade de determinar o resultado do tratamento.

A análise pode fazer outra coisa pelo seu filho. Se ele estiver experimentando descontentamento por causa de milhares de conflitos e inibição em relação à sua vida social a análise poderá lhe proporcionar tranqüilidade, paz psíquica e plena eficiência, independentemente de continuar sendo homossexual ou de mudar sua condição.

Sigmund Freud

Fonte: Diário do Centro do Mundo

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